domingo, 17 de março de 2013

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Não sei por quanto tempo fiquei naquela angústia, e, sem ter uma noção exata do tempo, imaginei que tamanha dor seria eterna. Fui levado a outro setor, e, embora minhas dores não cessassem, diminuíram ou eu me acostumei com elas. Tomamos mais um elevador, dessa vez, seres de preto me conduziram na maca e descemos por uns dez minutos. A energia era cada vez mais densa e desgastante: meu perispírito sofria com tamanha vibração negativa. Quando a porta se abriu, os homens de preto apenas empurraram minha maca para fora. Eu estava em um tipo de caverna de formato arredondado, ali, existiam equipamentos por todas as paredes e, no centro, dezenas ou uma centena de um tipo de caixão de vidro, que mais pareciam enormes tubos de ensaios. Fui colocado no interior de um deles e que estava a minha espera, a seguir, vários eletrodos foram colocados em meu corpo. Do interior desses caixões saiam algumas mangueiras que levavam líquidos de várias cores a um reservatório. Tiravam por esse método as energias dos perispíritos e que eram usadas para diversos trabalhos e para movimentar os equipamentos. Mais tarde, fiquei sabendo que tais energias também eram usadas para a produção de um tipo de vírus que facilitava o processo de obsessão e que disseminavam entre religiosos encarnados. Eu não tinha noção do que estava acontecendo, o meu raciocínio ficou confuso: eu ouvia minha família chamar por mim, os tambores do meu terreiro também ecoavam em minha mente, enquanto pessoas me acusavam. Já não sabia quem eu era e, quando quase não me restava mais esperança, um martelo quebrou meu caixão! O meu salvador era um negro alto, vestido de branco e que empunhava, além do martelo, uma arma que mais parecia uma metralhadora. O tumulto foi generalizado, outros soldados atiravam redes de prata sobre os que tentavam fugir, macas eram colocadas no chão e logo preenchidas e levadas por um buraco na parede e que dava para um pântano asqueroso. Logo a uns dez metros de distância, havia um tipo de automóvel gigante sem rodas e que flutuava. Para dentro dele eram levados tanto aqueles que iam por vontade própria quanto os que iam como prisioneiros. Uma maca também foi colocada ao lado meu caixão, dois índios e um preto velho de olhos brilhantes me sorriram, o primeiro a falar foi o amigo preto velho, que pôs sua mão sobre meu peito e disse: – Louvado seja nosso senhor Jesus Cristo! Por ora amigo, acabou seu sofrimento. Com muito cuidado, enquanto cantava uma canção que me preencheu de luz, foi retirando os eletrodos. Mais um índio se aproximou e, quando todos meus eletrodos foram desligados, fui delicadamente tirado do meu caixão e, para minha surpresa, entre muitos dos encarnados que estavam ajudando no resgate, um deles eu conhecia! Ele se aproximou de mim e apenas sorriu, um sorriso com lágrimas no olhar. Foi quando o preto velho colocou a mão em seu ombro e disse: – Por ora, meu amigo, deixaremos os afagos do reencontro para mais tarde, pois o dever nos aguarda. Dois índios levantaram minha maca e o outro, armado com um arco dourado, fez a escolta até o veículo. Minha maca foi colocada ao lado dos outros espíritos, que como eu também foram socorridos, enquanto homens e mulheres de branco nos aplicavam medicamentos. Limparam meu corpo e me vestiram, também me deram um soro, até que adormeci. Uma turbulência me acordou e eu tentei levantar, mas uma das enfermeiras colocou sua mão sobre mim, impedindo-me com delicadeza, ela disse: – Acalme-se Ortêncio, só estamos passando por uma área de turbulência. – Quem é você? perguntei-lhe. – Meu nome é Elisabete, pertenço à terceira legião de Omolú. – Onde estamos? – Estamos em um eletro bus, em uma zona muito densa, quase no centro da terra. – Para onde estamos indo? – Para casa meu amigo, para casa. – Então, verei minha família, que bom! Como eles estão? – Você já está entre família, meu irmão, pois os filhos de Deus são todos de uma grande família universal. – Você entendeu o que eu quis dizer. Oh mania de gente morta: falar tudo entre mensagens! Ela sorriu: – Sim Ortêncio, entendi sua colocação. Porém, não é a hora de te dar notícias da sua família carnal. – Mas, eu acabei de ver um dos meus... – Ortêncio, tenha calma. Tudo ao seu tempo. De qualquer modo, você não acabou de vê-lo, pois já faz duas semanas que estamos viajando e você estava dormindo...

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