sexta-feira, 5 de julho de 2013

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Logo depois de eu ter me instalado na linda casa amarela de Maria e de Henrique, e que agora também era minha, eu, mais uma vez, me surpreenderia nesta cidade, pois teria o encontro com o irmão Humberto. Ele viria da colônia Nascidos em Cristo para participar comigo dos mesmos estudos que eu faria. Dirigimos-nos ao grande prédio reservado à legião de Omolu. O edifício era como todos os outros por fora, mas, logo que as grandes portas de vidro se abriram, eu estava em um saguão de chão batido e que tinha ao centro uma enorme cruz de quase três metros de altura. Ao pé da cruz, algumas dezenas de escadas cobertas por velas. Sim, era um tradicional cruzeiro, mas que era diferente de muitos do plano físico e que se localizam em cemitérios. Aquele transmitia uma energia consoladora e aconchegante. Alguns espíritos oravam ali em silêncio, Parecendo ler meus pensamentos, João Guiné falou-me: – Este cruzeiro aqui, meu amigo, é um importante portal de comunicação com as centenas de cruzeiros sobre nossa responsabilidade no plano físico. – Como assim? – perguntei. – No plano físico, os cruzeiros localizados nas moradas dos mortos são centros de força, onde ocorrem vários socorros, de muitos daqueles que ali precisam de ajuda. Este, localizado aqui, recebe as informações, vindas através de conexões com o plano físico. Assim, sabemos onde atuar primeiro, onde é preciso enviar socorro rapidamente. Eu estava tão fascinado pelo lindo cruzeiro, que somente ao olhar mais uma vez ao redor é que percebi que várias mesas com computadores estavam localizadas no saguão. Desta vez, foi Henrique quem falou sorrindo: – Sim, meu amigo, as informações chegam no portal e são distribuídas por estes colaboradores às equipes de socorro de Omolu. Cada equipe recebe sua missão, conforme sua necessidade e especialidade, ou seja, temos equipes especializadas no socorro de espíritos com dependência química, ou espíritos materialistas e por isso mesmo muito apegados ainda à matéria, e, assim por diante. – Por que isso? – perguntei. – Ortêncio, pode um marceneiro fazer uma cirurgia com um médico? – perguntou-me João. – Não. – respondi. – Ou pode um médico fazer com perfeição o serviço de um marceneiro? Mais uma vez, fui obrigado a responder: – Não. – Isso mesmo, meu querido, porque cada um se preparou para exercer sua tarefa da melhor maneira. Aqui, também é assim, estudamos e nos preparamos para exercer nossas tarefas não só com amor, mas com perfeição. Não que o médico não possa aprender o ofício do marceneiro ou vice e versa, mas é necessário que não sintam apenas curiosidade, mas necessidade de compromisso, empenho. Que sintam amor naquilo que fazem aqui. Por isso é que dividimos nossas equipes e as treinamos e as preparamos: para que suas ações sejam eficazes, uma vez que não podemos perder nenhuma ovelha do pai, tão somente porque fomos omissos a nossa responsabilidade como espíritos. Eu me encontrava preocupado com minhas responsabilidades, mas ao mesmo tempo maravilhado com a sabedoria divina. A impressão que eu tinha era de que nada ali tinha sido construído sem o intercurso do excelente planejamento divino. Passamos em silêncio pelo grande cruzeiro e pelas pessoas que ali trabalhavam sem parar e que por isso nem nos perceberam. Logo atrás da grande cruz, havia uma nova porta de vidro e, atravessando-a, uma grande sala com vários elevadores se abriu a nossa frente. Agora, o branco era a cor predominante no ambiente e nos dirigimos até uma mesa na qual se encontravam duas recepcionistas que nos sorriram. Depois dos cumprimentos, uma delas nos disse: – Os senhores querem, cada qual, um cartão de visitante para o Mensageiro? – Não. –disse Henrique . Ele fará parte da terceira legião, pode entregar a ele o cartão convencional. Depois de alguns minutos, recebi um crachá cinza com uma cruz que imitava o cruzeiro e que tinha nele meu nome escrito e a designação de minha legião. João me disse: – Ortêncio, este cartão indica seu setor de trabalho e também funciona como chave para abrir as portas de algumas repartições, nas quais você terá passe livre. Nele, também se encontra um rastreador, para o caso de você se perder em alguma zona umbralina ou seja capturado em missão. Quando isso se der, logo a central em nossa cidade te localizará e te resgatará. Esperamos o elevador e subimos alguns andares e, quando a porta se abriu, estávamos em uma sala enorme, onde se encontravam alguns espíritos sentados em torno do que parecia uma mesa de reuniões. No centro, Ubirajara, com sua típica roupa de índio, disse-me: – Seja bem-vindo, Ortêncio, estamos aqui estabelecendo como será sua primeira viagem à costa terrestre...

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