segunda-feira, 22 de julho de 2013

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Logo depois da reunião, eu, João, Henrique e, agora, nosso novo amigo Humberto fomos convidar a todos que João havia citado e que seriam aqueles que iriam nos acompanhar na nossa missão. Não podíamos perder tempo, pois tínhamos apenas cinco dias até nossa partida. Henrique foi o primeiro a falar: – Agora, amigos, iremos até a Legião de Oxóssi. Peço a cada um que seja o mais natural possível para não ofendermos nossos irmãos, que, de todas as legiões, são os mais ariscos, se podemos assim dizer. – Como assim? – perguntei. Foi João quem respondeu: – A legião de Oxóssi é formada por índios e caboclos. Os quais, em sua maioria, ainda sofrem preconceitos até no plano espiritual, por suas opções e pela maneira de trabalharem no plano material. Muitas casas de caridades negam sua existência e, em alguns casos, os médiuns que dão passividade a tais espíritos são convidados a se retirarem da casa espírita que frequentam ou convidados a passarem por tratamentos de desobsessão, perdendo, assim, a oportunidade de aprenderem com espíritos de grande sabedoria. Portanto, a Legião desse orixá da natureza, formada por grandes guerreiros e manipuladores de fluidos, vem convivendo com vários obstáculos. – Mas, os espíritos superiores nada fazem para ajudar esses irmãos que trabalham pela causa do Cristo? – perguntou Humberto. – Tudo tem um motivo meu amigo –respondeu Henrique – apesar de conhecermos as infinitas qualidades dos nossos irmãos, muitos deles ainda trazem como verdade, na qual persistem, a da condição de sua última encarnação como índios. E, com isso, esquecem que a vida, tanto material como espiritual, é um ciclo de evolução constante. Tal Legião, por exemplo, se recusava até há pouco tempo a utilizar equipamentos ou armas modernas, alegando que deviam manter suas raízes e somente depois da intervenção do sagrado Oxóssi é que isso vem mudando. – Então, Henrique, você quer dizer que assim como no mundo material, em que há pessoas que não querem evoluir, aqui também há espíritos na mesma condição. – Isso mesmo Humberto, o que mais vemos são pessoas e espíritos que pararam no tempo e, desse modo, prejudicam a sua evolução e de sua comunidade. Porém, esse não é o caso da Legião de Oxóssi, exatamente, o que eles prezam são suas tradições e tentam evoluir as respeitando. Porém, sabemos que a evolução não está aí para destruir as tradições e sim aprimorar o que já foi feito. Contudo, nossos irmãos vêm avançando a passos largos, vocês verão com seus próprios olhos. A esta altura já estávamos em frente ao prédio da Legião de Oxóssi, que assim como todos os outros por fora é uma construção aparentemente normal, porém quando as portas se abriram eu quase caio para trás, pois estava diante de uma grande mata cheia de ocas por todos os lados. Na nossa frente, havia uma grande imagem de um índio com arco e flecha. Ouvíamos os pássaros que cantavam, enquanto índios cavalgavam em belos cavalos. Não existiam escadas ou elevadores, como em outros ambientes de Aruanda, mas rampas interligavam as plataformas levantadas em meio a mata. Outros animais como onças, macacos e tantos outros circulavam pela mata harmoniosamente. Logo uma linda índia veio ao nosso encontro: – Salve irmãos! – disse ela – é sempre um prazer tê-lo entre nós, pai João. Comandante Henrique nossa humilde casa sempre será sua casa também. – O prazer é todo nosso, Jussara – disse Henrique – estes são Ortêncio e Humberto. Esta é Jussara da Sétima Legião de Oxóssi, grande responsável na luta que estamos travando e na busca em reverter o quadro que vínhamos comentando. Jussara nos analisava. Ela trajava um modelo de macacão branco com franjas verdes. – Que a luz do altíssimo ilumine vossos corações, meus irmãos, para que a barreira dos preconceitos não vos impeça de seguir em frente. Sejam bem-vindos à nossa casa. Suas palavras nos contagiaram de emoção, como um jato de energia de amor. Senti vontade de abraçar Jussara e o fiz, quando por minutos pude desfrutar daquela energia. Ela sorriu e me disse: – Eu também senti saudades, velho amigo. Logo depois de sua encarnação como Pajé, eu retornei ao plano espiritual, Também ajudei em sua volta ao plano espiritual, Ortêncio, e aqui fiquei, aguardando seu regresso, pois como não ajudaria meu amigo Pajé que tanto fez por nossa tribo? Mas deixemos nossas experiências carnais para que sejam lembradas outro dia, já que teremos muito tempo para isso. No que posso servi-los meus amigos? – Queremos ver Cobra Coral e Pena Branca, minha amiga, e pedimos que você autorize que eles participem de nossa comitiva –disse João. – Eles têm minha autorização, João, não negaria um pedido tão especial. Eles se encontram no pavilhão da cura. Fiquem à vontade. Eu peço que me desculpem por não poder acompanhá-los até lá, pois há muito que ser feito por aqui. João lhe respondeu: – Não se preocupe conosco Jussara, nós conhecemos o caminho. Então, nos despedimos e fomos ao encontro dos irmãos. Subimos por rampas a uma altura equivalente a uns dez andares e confesso que me cansei. Porém, a paisagem era cada vez mais linda e nas portas das ocas pelas quais passamos havia placas indicado suas funções e me surpreendi com a quantidade de funções desenvolvidas em uma legião como aquela. Paramos em frente a uma oca diferente das demais: ela era feita de tijolos pintados de verde. Entramos primeiro em uma antessala, onde vestimos roupas cirúrgicas e, quando entramos no pavilhão da cura, mais uma vez me surpreendi, mas com o que encontrei naquele lugar...

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