domingo, 18 de agosto de 2013

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Após as palavras iniciais de Ubirajara, dirigiu-se ao púlpito um senhor alto e forte, eu diria que ele era mesmo muito grande para os padrões humanos. Estava vestido com uma bata branca, na qual aparecia bordado o desenho de um lindo machado dourado. O homem tinha uma grande barba branca trançada e apesar de sua aparência tão exótica, tinha uma feição calma e tranquilizadora. Então, pensei que eu estava de frente com o próprio Xangô. Eu achava que a voz de Pena branca era um trovão, mas, perto da voz daquele homem, a do meu amigo índio era um ruído. Ele começou sua apresentação assim: – Que a luz de nosso Pai Oxalá ilumine aqueles que têm sede de justiça e que Xangô a faça alcançar tanto àqueles que se dizem justos como para aqueles que sendo mais humildes sabem que somente é justo nosso Pai maior! Meu nome é Samuel e venho a esta cidade com a incumbência de lhes trazer notícias dos planos superiores, sob a autorização daqueles que nos querem bem e que, em conjunto com uma humanidade de juízes tão falhos, tentam fazer o melhor para a justiça, ou seja, na busca de que um dia possamos caminhar de mãos dadas rumo à evolução e, portanto, em direção ao Rei da Justiça. Quando dizemos que Deus é um juiz queremos dizer que ele é em verdade a própria Justiça, a essência da Verdade, e que, assim sendo, por Deus nada passa ou passará. Esse cargo de juiz, deixemos, por ora, à nossa própria consciência, pois desta também não conseguimos fugir. É ela que nos conhece e que nos diz o que é certo ou errado, sempre dentro da Lei Divina. Porém, meus amigos, cabe a cada um de nós, filhos de Xangô, abrir os olhos em relação aos nossos autojulgamentos, se assim podemos chamar. Pois o mundo virou um tribunal cheio de leis e de verdades, no qual a principal lei, a Lei de Deus, vem sendo esquecida, a lei do amai-vos uns aos outros. A sociedade vem se perdendo, por meio de sua mal planejada civilidade e, a cada regra criada, vemos encarnados lutando uns contra os outros, quando as diferentes opiniões deveriam ser debatidas com repeito. Qual o nosso papel deste lado da vida, meus amigos: o de orarmos? O de termos compaixão? O de sermos pacientes com o que estão na carne? Sim, meus amigos, mas apenas isso não basta! Entramos na fase da humanização do amor e do perdão. Nossas frentes de trabalho devem ir a campo, com a primeira e principal bandeira do Cristo, a do amor ao próximo, independentemente de seu erro ou de seu passado. Claro que não podemos esquecer que a terra necessita de leis para o controle daqueles que lá estão, bem como para a sua correção. Mas devemos incentivá-las para que se deem de maneira correta. O derramamento de sangue e de lágrimas são caminhos muito duros para o aprendizado e que por muito tempo já vêm criando espíritos sem consciência. Há muito era preciso entender que a época do olho por olho e dente por dente já se fora e que hoje vivemos em uma momento onde todos somos iguais por direito. Que possamos intuir a humanidade a ter em si mesma piedade pelos que são injustiçados, pelos justos, pelo injustos, pelo bons e pelo maus. O Plano Maior traçou um grande plano, o de que nas próximas décadas uma grande quantidade de espíritos, que se encontram ainda em estados primitivos ou contra a mensagem do bem, voltem à terra, para que assim tenhamos a oportunidade de resgatar irmãos há muito perdidos nas sombras do umbral. Eles não necessitam mais serem julgados, mas sim amados! Para que possam limpar seus espíritos da maldade, das mazelas criadas na escuridão, o único remédio é o amor justo e puro, livre de qualquer preconceito ou paradigma. Que o Mestre dos mestres nos guie, pois nós que aqui estamos, no plano maior, teremos muito trabalho. Teremos também desafios e provas: que nosso compromisso com Oxalá seja feito de muita fé e amor e com senso de justiça também para conosco, pois ainda somos falhos. Que nossa consciência não seja omissa, mas seja branda, pois quem não erra? E todos nós um dia vamos nos corrigir, aprendendo com o erro mais simples como com o mais grave. Para encerrar sua explanação, que emocionara a todos nós, ele ergueu os braços e fechou os olhos e disse, por fim: – Pai Xangô, guardião da justiça, espírito divino, nos guie e nos ilumine com sua bondade e transforma as pedras, em nossos caminhos, em lírios de esperança e bondade para que possamos seguir o Divino Mestre Jesus e os princípios de amor de nosso Pai maior. Enquanto ele orava, jatos de luzes caiam do céu e nos banhavam. Então, sua voz foi ficando distante e ele foi sumindo, sumindo, sumindo, até que se formou apenas um raio de luz e o mensageiro de Xangô voltou para sua cidade, deixando conosco sua essência de amor... 

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