segunda-feira, 18 de novembro de 2013

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Enquanto estava revendo minha família, o restante dos mensageiros de Aruanda continuava o trabalho na instituição espírita que nos abrigara. O aprendizado era grandioso, principalmente para nosso amigo Humberto que fazia um grande esforço para se libertar dos seus preconceitos, o que, aliás, deixava a todos nós extremamente felizes, pois essa era a conduta que esperamos de um verdadeiro Cristão: não a de ser santo do dia para noite, mas a de travar uma batalha consigo, no intuito de ser melhor a cada dia. Assim sendo, João explicava ao amigo como funcionava o atendimento àqueles que necessitavam de ajuda e por isso buscavam socorro em um centro espírita. Humberto prestava atenção como aluno dedicado que era. Naquele dia, o evangelho seria dedicado à desobsessão e Humberto perguntou:  Os encarnados chegam aqui, por vontade própria, caminhando sozinhos, e, como são trazidos os espíritos, que muitas vezes estão prejudicando esses desencarnados? João pensou por um momento e respondeu-lhe:  Infelizmente, amigo, poucos são aqueles que procuram um centro espírita ou qualquer outra religião para ir apenas ao encontro de Deus. O encarnado vai a um templo religioso para ser consolado por dores de variados motivos, querendo encontrar solução e resposta para tais dores, porém, muitas dessas dores poderiam ser evitadas se o relacionamento com Deus e a religião fosse fortalecido desde muito cedo, por meio da alegria, do amor e da inteligência. No decorrer dos séculos, as religiões tornaram-se templos tristes, aonde você vai para solucionar doenças do corpo e da alma e, assim, os fiéis esquecem-se que o encontro com Deus deve ser de pura alegria. Cabe ao homem se curar, cabe ao homem trabalhar para sua evolução: a religião é apenas uma ferramenta para isso e não deve ser responsabilizada por fazer o trabalho que é de sua alçada. O espiritismo, normalmente, é a última opção. Trata-se do desespero de causa dos encarnados, sim, pois, em pleno século 21, esses ainda não conseguiram deixar seus preconceitos de lado e, assim sendo, quando chegam a uma casa como esta, normalmente, já passaram por outras religiões. É por isso que costumo dizer que o espiritismo é a religião das outras religiões. Humberto ouvia as explicações do pai velho com lágrimas nos olhos e perguntou-lhe: – O senhor quer dizer que vivemos de maneira equivocada nosso compromisso com a religião e consequentemente com Deus? – Fio, nós precisamos aprender que nosso compromisso não é com Deus, mas com a gente mesmo, não fazemos nada para o pai maior nosso compromisso com Ele é amá-lo e sermos felizes, mas jogamos a nossa responsabilidade nas costas de Jesus, dos Orixás, dos espíritos e de Deus. Criamos esses mecanismos, para que assim possa de alguma forma ser mais fácil – disse o Preto Velho. Tomazine, que nos acompanhava na conversa informal, nos alertou para um fato importante: – Humberto, o homem é fonte de grandes poderes, ainda desconhecidos por ele, enquanto está na carne. Assim sendo, a misericórdia de Deus faz a espiritualidade criar ferramentas para que, mesmo inconscientemente, ele use tais mecanismos. Veja um exemplo: no Espiritismo, as cirurgias espirituais; ou as curas nas Igrejas Evangélicas, realizadas através de lenços e óleos; ou ainda a água benta e a sagrada eucaristia, no Catolicismo; bem como os trabalhos de ervas e as oferendas na Umbanda. Aliás, por que esses recursos são tão eficazes com uns e não com outros? Por injustiça divina? Não, meu amigo, Deus é justo com todos, antes se trata de algo chamado fé, que libera no corpo humano o remédio necessário para toda e qualquer doença. Portanto, o corpo que cria a doença é o mesmo que a elimina. No entanto, o beneficiado acha que foram tais elementos que o curaram, o que não é estritamente verdade. Quando o homem realmente se aproximar de Deus da maneira correta, sem a pretensão de ganhar nada em troca, ele descobrirá maravilhas inimagináveis. – Mas eu amo meu Deus com toda a força que existe em mim! – disse Humberto indignado. Ouvimos, desta vez, Cobra Coral lhe responder: – Disso não duvidamos, meu amigo. E também não questionamos o quanto se ama, se menos ou mais, ou como se ama. A verdade é que o verdadeiro amor não cobra e não espera nada em troca, é paciente e esperançoso e, principalmente, justo! E nós, espíritos em evolução, estamos longe de toda esta qualidade amorosa. A simples explicação do índio amigo comoveu a todos e, atingindo seu objetivo, esclareceu o coração do amigo evangélico, que, a partir daquele momento, faria uma reflexão do quanto o homem está longe do amor de Deus. Os trabalhos começariam logo mais, portanto, alguns trabalhadores já organizavam a casa e Humberto teria a oportunidade de ver como o amor do Pai maior, mesmo com filhos tão imperfeitos, não deixaria ninguém sem atendimento naquela noite. A equipe espiritual de higienização da casa – coordenada por uma senhora de pele branca, olhos verdes e cabelos loiros, e que se chamava Fernanda – se posicionava na sala de passes. Os trabalhadores chegavam apressados, pois vinham de seus trabalhos ou de outros afazeres do dia a dia. Alguns traziam em seu corpo algumas manchas perispirituais e Humberto perguntou: Esses parasitas nos corpos dos médiuns não atrapalham no trabalho? Guilherme, o médico da nossa expedição sorriu e disse: – E como! Atrapalha sim. Por isso esta equipe, coordenada por Fernanda, aproveita os poucos minutos de prece e troca de passe entre trabalhadores para retirar a maior parte deles. Desse modo, deixando cada um deles o mais apto possível para o trabalho. É por esse motivo que recomendamos que os trabalhadores cheguem alguns minutos antes, para relaxarem e também fazerem suas preces individuais e, assim, se prepararem para o trabalho. A equipe usava o magnetismo para dissolver as impurezas, porém em alguns trabalhadores algumas ainda permaneciam e Fernanda esclareceu: – Os médiuns levam uma vida desregrada e por vários motivos desarmonizam seus perispíritos e, assim sendo, alguns parasitas precisam mais que de choque magnéticos para sair do perispírito desses irmãos. – Mas, vocês fazem isso todos os dias? – perguntou Humberto. – Sim, – respondeu Fernanda – alguns médiuns conseguem nos ajudar e chegam aqui quase limpos e facilitam nosso trabalho. Porém, trata-se mesmo de uma minoria. A verdade é que a maioria prejudica seu corpo perispiritual por invigilância, com o exagero no campo dos sentimentos, do sexo, na gula e por tantos motivos fúteis! Esquecem que mediunidade é compromisso não só com Jesus e os espíritos, mas consigo mesmos. É a oportunidade de mudar de hábitos e a ferramenta para serem seres humanos melhores. A mediunidade é mesmo como uma ferramenta: o médium deve sempre deixá-la em bom estado ou logo ela não servirá mais para o trabalho. Nesse momento, os encarnados começariam a prece para dar início ao trabalho no plano físico e muitos deles nem imaginavam que no plano espiritual já estávamos trabalhando há muito tempo...

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