quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

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Vendo aquele ser sobre a cama, minhas perguntas eram muitas. Mas, a primeira delas era: – Por que um jovem faria isso com a própria vida? Foi Felipe quem nos respondeu: – Vivemos em uma época, mensageiros, na qual o espaço para nossos sentimentos, dentro das famílias terrestres, vem sendo diminuído. Temos visto, comumente, menos pais aconselhando seus filhos ou ouvindo-os com carinho acerca de suas vontades. Não se tem “tempo a perder” e tudo vira a tal aborrecência, e, assim, o jovem entra em uma das fases mais complicadas da vida, sem estrutura psicológica e afetiva para o que o aguarda na vida adulta. Questionamentos sexuais, afetivos, profissionais são as maiores causas da decadência do homem moderno e tudo isso em conjunto vai afastando-o dos outros e principalmente de Deus. Os caminhos de derrocada são muitos, a consequência é apenas uma: a dor da alma. A verdade é que poderíamos evitar tudo isso, sim, já que somos nós que escrevemos nosso destino no livro da vida, uma vez que nela estamos justamente para reescrevermos nossos começos. Porém, apesar da evolução do ser individualmente, a nova geração é dependente, sentimentalmente. Cada um depende do outro, por isso precisamos saber como iremos usar essa dependência, pois é ela que te eleva ou te rebaixa. O menino Felipe terminara sua fala com lágrimas nos olhos. Mariana nos explicou quem era o espírito da cama: – Esse nosso irmão se entregou ao egoísmo e encontra-se neste estado já há alguns anos. Foi trazido para cá, pois logo despertará por completo e a proximidade com os médiuns que aqui trabalham pode e deve ajudar na recuperação. Sua família ainda sofre muito com o seu ato de desespero e um dos seus parentes próximos, também cometeu suicídio, envolvido pela culpa, e, portanto, ele tem emanado energias que prejudicam a recuperação de ambos. Tais detalhes deste caso deixaram-me ainda mais comovido e as lágrimas começaram a molhar meu rosto. Lembrei-me que muitas vezes, em minha vida terrena, me sentira triste e sozinho, carregando fardos pesados em minhas costas, como filhos, netos, meu próprio terreiro e, neste momento, como me senti envergonhado por, naqueles momentos, ter desejado a morte a fim de fugir de minhas responsabilidades. – Não se envergonhe, amigo Ortêncio, – disse Dr. Tomazine – qual de nós não teve que lutar com seus sentimentos de angústia? Ao contrário dessa vergonha de agora, você deveria se orgulhar por, então, não ter sucumbido, mas ter sido forte para continuar. Deixaríamos aquela casa com lições que jamais esqueceríamos e também tendo feito grandes amigos. Os jovens nos acompanharam de volta à sala, pois era hora de partimos. Antes, no entanto, uma grande surpresa nos deixaria muito felizes. – Bem, é chegada a hora do nossa partida, fios. – disse o preto velho com lágrimas nos olhos. E, direcionando um lindo sorriso à Helena: – A fia quer falar alguma coisa? Como era linda nossa guerreira, mesmo sem sua armadura da 3ª Legião de Ogum! Helena era de uma força e luz impressionantes, sempre emanando muita energia de amor. Ela disse: – Pai João, peço... Comandante Henrique, peço permissão para continuar nessa colônia, pois sinto que chegou a hora de eu aprender e ajudar mais no campo da medicina da alma, com os médicos que aqui se encontram. As lágrimas banhavam o lindo rosto de Helena. Henrique a abraçara e lhe disse: – Que Deus te ilumine, minha irmã, que nosso pai Ogum te proteja nessa nova batalha. O preto velho João Guiné abriu os braços e aos poucos sua fisionomia foi se transformando, suas vestimentas foram mudando e, em questão de segundos, tínhamos a nossa frente Ubirajara da 7ª Legião de Oxalá. – Que Deus esteja em vossos corações. – disse ele. – Eis que venho me despedir da filha amada, que continuará sua caminhada longe de Aruanda, mas tão próxima de nós ainda, pois os laços feitos com amor e carinho nos guiarão pela eternidade e nos farão atravessar as noites traiçoeiras. Nossa cidade se orgulha de você filha, por atender esse chamado e, principalmente, por abrir mão do comodismo, com coragem para enfrentar o novo. Tenho certeza que sobre a tutela de Bezerra, a filha ganhara muito! Não apenas conhecimento, mas amor! Tendo dito isso, Ubirajara se foi e, aos poucos, João voltava ao normal. Uma chuva de rosas brancas caiu sobre a cidade. Pouco tempo depois, entramos em nosso transporte, o qual logo atingiu velocidade considerável para entrarmos na escuridão...

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

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Diante daqueles jovens, nossa tristeza foi aos poucos desaparecendo, pois, diferentemente do espaço externo, o interior daquela casa exalava alguma alegria, tanto pela própria juventude quanto pela vontade de se melhorar daqueles jovens que despertavam para a vida maior. Helena se encontrava emocionada, com seus olhos brilhantes marejados. Todos sorriam e isso nos deixou muito à vontade. Confesso que meu coração sentia saudades dos meus netos, que, aliás, deveriam ter a mesma idade dos jovens que ali se encontravam. Sentamos nas grandes poltronas. João Guiné começou nosso diálogo:  É um prazer, viu fios, sermos recebidos em vossa casa com tanto carinho, ainda mais porque esse Preto Velho sabe da luta de ocês e o quanto os fios vem se esforçando para não caírem em tentação, para superar as dificuldades do além-vida, né? O garoto Felipe, um rapaz com uma beleza europeia, sorriu com os olhos cheios de lágrimas e disse:  Não podemos decepcionar nossos amigos e nossas famílias, senhor João, aqui o que nos faz fortes, além da misericórdia de Deus, é o amor daqueles que torcem por nossa plena recuperação, tanto do lado de cá como no de lá.  Vejo que vocês são jovens conscientes e que já aceitaram suas condições. Então, por que ainda estão em uma clínica como esta e já não foram encaminhados a uma colônia?  perguntou Helena. Nesse momento, um sentimento de vergonha misturado com angústia pareceu ter atingido nossos anfitriões, o que me deixou intrigado. Foi Marco, um negro alto, cuja voz parecia milenar e que era o mais sério de todos, quem nos respondeu, sem levantar os olhos, sem nos encarar:  Ainda não estamos em condições, Helena, atentamos contra nossas vidas e por isso nosso tratamento é diferenciado, não foi nada fácil chegar até aqui e cada dia é um dia. Hoje somos uma equipe de jornalistas do além, acompanhados por tutores e sob regras severas, levamos notícias do além ao plano dos mortais e daquele plano para aqui, o além, a todos os jovens que pensam em fazer ou que fizeram o mesmo que nós. Embora esse trabalho nos ajude muito, aqui passamos ainda por vários outros tipos de tratamentos, e temos regras e horários diferentes dos que são oferecidos em uma colônia normal. Humberto, que mudara sua feição e deixara transparecer sua reprovação em relação àqueles jovens, lhes disse:  Vocês são suicidas, pois não deveriam estar sofrendo e pagando pelo erro que cometeram? Giovana, uma linda moça morena de cabelos vermelhos, que nos chamava a atenção devido seus grandes olhos castanhos e por ter o nome de sua mãe inscrito no braço esquerdo, com lágrimas escorrendo pela face, respondeu em tom severo:  Senhor, e quem lhe disse que não estamos sofrendo? Quem lhe disse que não estamos aqui envergonhados por nossa fraqueza e, sim, sofrendo a consequência daquilo que nós mesmos criamos? Assim lhe parece, apenas por que não estamos em um vale escuro, cheio de dor e de gritos, ou por que não estamos sendo chicoteados e acusados? A verdade é que despertamos nessa vida, já como marginais, inclusive somos tratados assim por vários espíritos, mas não por Deus, nosso pai, que nos dá uma nova chance a cada dia, os vales dos suicidas que tanto os humanos presam na literatura não são um terço daquilo que realmente acontece dentro de nós. Não são diferentes das dores que sofremos em consequência do nosso egoísmo. Aprendemos aqui que de nada irá adiantar o sofrimento eterno, se não nos levantarmos para construirmos uma nova vida e é essa oportunidade que temos hoje. Poderíamos passar uma vida contando da escuridão que se fez dentro de nós, porque todos aqui nessa casa vêm de famílias que conheciam as doutrinas do além-vida, pois nossas dores e sofrimentos em nada ajudaram os que ainda se encontram perdidos na escuridão. No entanto, mesmo nossa pouca força em recomeçar, mesmo ainda doentes, mesmo marginalizados, e cheios de culpas, ainda assim temos conseguido ajudar a outros e a melhorar nossas próprias condições. Felipe se levantou e disse-nos:  Venham vamos lhes mostrar algo, amigos. Ele se dirigiu a um dos quartos, abriu a porta e eu quase caio para trás com o que vi: era um minicemitério, onde sobre uma lápide preta um jovem, vestido com roupas negras e rasgadas, dormia um sono agitado. Ali, o cheiro de putrefação era quase insuportável. Também chovia muito lá dentro, a dor era terrível, e de nossa equipe apenas João guiné e Maria conseguiram entrar, o restante parou diante da porta. Humberto se ajoelhara, como se a dor o transpassasse como uma espada, enquanto gemendo pedia a misericórdia de Deus. Eu me apoiara no jovem Marcos, pois me sentira sufocado, quase sem ar. O jovem Fernando, que até agora se mantivera calado disse-nos:  Senhores esse é o quadro mental de um de nossos irmãos que acabou de ser socorrido por nossa equipe, ele ainda não se deu conta de seu estado e sua mente criou tudo o que seus olhos veem. Então, nosso amigo João Guiné e o Dr. Tomazine levantaram as mãos para o alto e uma fumaça branca foi desfazendo a escuridão, enquanto o quarto foi tomando ares hospitalares. Foi quando uma dezena de aparelhos, antes invisíveis aos nossos olhos e que estavam ligados ao enfermo, agora se faziam presentes, permanecendo conectados àquele ser, que continuava a dormir. O terror que sentíramos havia passado, mas a densa energia ainda se fazia presente no ambiente. Humberto e eu conseguimos nos recompor.  Agora, amigos, podemos saber um pouco mais desse nosso irmão.  disse-nos Maria... 

terça-feira, 28 de outubro de 2014

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Saímos acompanhando o doutor Tomazine e nosso novo amigo, que aqui chamaremos apenas assim por um pedido seu, exclamou: – Hortência, estou no plano espiritual há pouco tempo e alguns ainda sofrem com minha ausência física. Acho que ainda não lhes faria bem saber muito mais sobre mim. Depois do pedido do amigo, seguimos pelos corredores que agora estavam vazios por completo. Seguíamos em silêncio, pois, a cada passo que dávamos rumo ao nosso destino, uma tristeza ia tomando conta de nossos corações. Enquanto isso, o ambiente foi mudando gradativamente e os corredores, antes de um branco alvo, preencheram-se de lindas cores e belos trabalhos artísticos nas paredes, esculturas conhecidas pelos homens na terra surgiam no trajeto e eram mais lindas vistas por aqui no plano espiritual. Aquela que mais me fascinava era uma imagem de piedade e compaixão: o corpo de Jesus, descido da cruz, no colo de Maria. No trajeto já começava o trabalho de socorro, pois tal imagem conhecida pelos homens na carne tinha ali um significado ainda mais transcendente, traduzindo aos nossos corações o excelso amor celeste. Uma grande porta de madeira entalhada encontrava-se ao fim do corredor, e, eu, a essa altura, já me esquecera que aquele ambiente tão lindo se tratava de um hospital. As portas se abriram e nos vimos em frente a uma bela e moderna vila em formato de U. As casas eram construídas em estilo colonial, todas brancas e com lindas varandas. Ao centro, havia um lindo jardim e o calçamento todo de pedras que brilhavam, reverberando a luz do sol. Lindos pássaros cantavam, enquanto cachorros passeavam entre as pessoas, que ou caminhavam, ou conversavam sob a sombra de uma árvore. Alguns, sentados em bancos, liam, outros aproveitavam para tirar um cochilo. Mas, o que neste paraíso me chamava atenção era o sentimento de tristeza que podíamos ali perceber: uma energia densa e que contagiava o local. Quase não se via sorrisos. Os poucos que ocorriam vinham, logo identifiquei, dos trabalhadores do local, que trajavam uniformes azuis-celestes e, descalços, caminhavam na companhia daqueles seres amargurados. Então, questionei aos nossos anfitriões acerca de onde nos encontrávamos. Foi Dr. Tomazine que me respondeu: – Mensageiro, essa é uma clínica para espíritos em depressão, irmãos doentes, que não aceitam sua realidade espiritual. Eles partiram do plano espiritual com a certeza de que cumpririam seu cronograma, mas se desviaram do caminho e, ao retornarem à casa do pai, se martirizam e sofrem pelo seu suposto fracasso. – E como vocês ajudam tais pessoas a voltarem para a realidade e em que tipo de situação esses irmãos chegam aqui? – perguntou Helena muito intrigada. – Helena – disse nosso amigo – aqui se encontram todos os tipos de espíritos, religiosos, cientistas, políticos, pessoas que teriam um papel de destaque em sua comunidade e que desperdiçaram seu desenvolvimento intelectual apenas consigo mesmos ou fizeram apenas metade do que planejaram e acharam pouco, esquecendo que o planeta terra é uma escola que muda, muitas vezes, nossas lições, conforme você vai traçando seus próprios caminhos. Esqueceram-se de que não houve desperdício reencarnatório, ou seja, que apenas tiveram que aprender outra coisa ou trilharam outros caminhos e que aqui voltam para planejarem-se, novamente, para retornarem, então, à escola, melhor preparados. O plano reencarnatório é de extrema importância, porém ele não é imutável. Qual lei diz que é impossível mudá-lo, durante a encarnação? Nenhuma. Pois apenas as leis de amor do Pai são imutáveis neste universo. Já o próprio universo não, ele muda constantemente. Assim sendo, tentamos trazer esses seres para essa realidade, o que não é um trabalho fácil. Aqui eles estudam, são tratados por meio de vários tipos de terapias, são levados a reuniões religiosas, no plano terrestre, e executam simples tarefas para que se ocupem com algo produtivo. Eu estava impressionado: quão complexo, afinal, era morrer e quantos mistérios a vida depois da vida ainda me reservaria! Caminhamos entre as pessoas, cumprimentando os funcionários do local, até pararmos diante de uma daquelas casinhas. Nosso amigo bateu na porta e uma linda moça de pele negra e olhos grandes a abriu. Ela revelou um sorriso que a deixou ainda mais linda e nos disse: – Bom dia, doutores! Sejam bem-vindos! E dando um pulinho abraçou com força nossos amigos. – Olá Mariana! Esses nosso amigos gostariam de conhecê-los. Pode ser? – perguntou o Dr. Tomazine. Ela nos analisou, envergonhada, e disse: – Sim, senhor. A porta se abriu e entramos em uma grande sala circular, com estantes de livros, lindas poltronas em volta de uma lareira. Havia ainda seis portas que dariam aos quartos particulares dos ocupantes daquela linda casa. Na parede acima da lareira, uma frase: “Deixem brilhar sua luz” – Pessoal, o doutor está aqui. – disse Mariana. Então, quatro das seis portas se abriram e de dentro saíram outros jovens da idade de Mariana. Das duas portas que se mantiveram fechadas uma, deduzi rapidamente, seria da jovem que nos recebera, a outra era a dos aposentos da personagem que nos surpreenderia com sua história. Depois de terem abraçado cada qual seu mentor, fomos apresentados. Marcos, Fernando, Felipe e Giovana eram os jovens espíritos que nos trariam grandes lições e encheriam nossos corações com lírios da esperança...

terça-feira, 16 de setembro de 2014

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Os corredores iam ficando cada vez mais vazios de pacientes lunáticos e com mais médicos que circulavam utilizando diferentes tipos de uniformes, alguns de branco, outros de azul, e ainda outros vestindo uniformes na cor verde. Logo percebi que já não estávamos na Psiquiatria e sim em um Centro Cirúrgico. Chegamos a um elevador, alguns de nós esperaria o próximo, pois não caberíamos todos de uma vez. Assim sendo, entramos junto com a equipe, apenas eu, Maria, João e Helena. Essa última prestara muita atenção durante a viagem, mas mostrava um interesse ainda maior pelo Centro Hospitalar. Eu, que sou do tipo que não aguento ficar calado, dessa vez permanecia em silêncio, mas me esquecendo que no plano espiritual se fala também com o pensamento e não apenas com a boca. Portanto, ouvindo meus pensamentos, João indagou-me em resposta: – Por que uma cirurgia, Ortêncio? Essa é a sua dúvida, fio? – Sim. – respondi meio tímido, pois via que os tarefeiros estavam muito concentrados para responder a um velho curioso e não queria incomodá-los. – Comece a usar o olho do espírito, Ortêncio. – disse-me João. – Você olha nosso irmão muito superficialmente e, assim, acaba vendo apenas o que ele deseja te mostrar. Fechei os olhos por alguns segundos e tentei me concentrar e, quando o abri novamente, o que vi na minha frente, naquela maca, deixou-me horrorizado. Chego a dizer que não estava preparado para tal imagem e fiquei meio que paralisado, sentia também um cheiro forte de podridão invadindo minhas narinas e, por uns instantes, cheguei a perder o raciocínio. O corpo perispiritual daquele pobre infeliz estava coberto de bichos que pareciam sanguessugas. No seu rosto faltavam olhos e nariz, no tórax, haviam se instalado alguns ovoides que lhe sugavam as energias. Eu realmente não tinha esperança, não podia imaginar como ele seria salvo daquilo que ele mesmo criara para si. – Não perca as esperanças, Manoel. – disse-me Maria – O Pai não deixa nenhum de nós para trás. E o que para você parece o fim, para esse infeliz é apenas o recomeço. Nesse momento, o elevador abriu suas portas e eu estava de frente a uma tecnologia jamais vista pelos meus olhos. A primeira vista, aquela parecia ser uma sala de cirurgia comum, mas, olhando com um pouco mais de cuidado, tudo ali parecia ser surreal. Ficaríamos em uma sobressala com cadeiras e que nos separava do ambiente de cirurgia por um enorme vidro. Era um ambiente muito parecido com os que existem em hospitais-escola. De lá, teríamos uma visão ampla do que acontecia na sala de cirurgia. Ainda assim, mais abaixo uma grande tela transmitia o que acontecia para não perdemos nada. Os equipamentos do Centro Cirúrgico eram todos transparentes, mas ganhavam cores conforme as luzes que circulavam por dentro deles. Dessa vez foi Helena quem perguntou: – Pai velho, de onde vem esta energia que movimenta as máquinas? Dos vivos que frequentam a casa espírita ligada a este hospital, fia. Estas máquinas são alimentadas com a doação de fluido anímico que se recolhe no momento da prece, na oportunidade dos passes, com a fé dedicada demonstrada por cada um. Cada médium tem um tipo de energia, ela é armazenada e usada aqui para o bem daqueles que necessitam. Nesse meio tempo, a cirurgia já havia começado. O espírito recebia um tipo de anestesia com fluidos que caia sobre sua testa com uma pistola que parecia soltar eletricidade. Desse modo, eram retirados os vermes. Tudo, no entanto, foi sendo feito com muito cuidado. – Mas, por que eles não aplicam uma carga de energia para limpar de uma só vez o espírito? – perguntei, como quem via tudo aquilo como uma grande perda de tempo, pois já fazia duas horas que estávamos ali. – Porque os espíritos sofreriam um grave comprometimento em sem seu corpo perispiritual e em seu campo mental. – respondeu-me um homem que, até então, eu nem havia notado que estava ali. Todos sorrimos ao notar sua presença, tratava-se do diretor espiritual da casa que nos abrigara, Dr. Tomazine, acompanhado de outro espírito muito sorridente e de olhos brilhantes. Esse espírito irradiava uma luz paternal que envolvia a todos: – Este pobre espírito já terá uma caminhada difícil. – continuou o Dr. – Seu perispírito precisará de algumas reencarnações para se curar das chagas criadas pela falta de amor a si próprio. Por isso agimos com tanto cuidado, para que possamos amenizar esse sofrimento, e ajudá-lo a voltar a seu estado normal, com alegria e esperança, e não com traumas e dores. Nesse hospital, mensageiro, o tempo é o que menos importa. – disse-me o homem que acompanhava o Dr. – Aqui temos todo o tempo do mundo para fazermos o melhor, pois trabalhamos sobre a tutela Divina e curamos almas e não corpos. Acho que vocês precisam conhecer outra ala do nosso hospital para que possam entender melhor o que estamos falando. Então, deixamos o Centro Cirúrgico com aquele ser ainda sendo aparado por benfeitores do Mestre de Amor e Carinho, para vivermos mais uma lição que surpreenderia a nós todos e nos ensinaria que a Lei do Amor supera qualquer circunstância mesmo, ainda que na nossa ignorância possamos achar isso impossível...

terça-feira, 2 de setembro de 2014

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Dentro da sala, havia um consultório médico, no qual um homem alto, de jaleco branco, caminhava de um lado para o outro, esbarrando nos aparelhos e gritando contra as paredes: – Ela não irá destruir minha carreira. Não mesmo! Não mesmo! Eu serei um obstetra de sucesso e nada ou ninguém vai tirar isso de mim. Grávida! Grávida! Se minha família souber disso, vai fazer eu assumir esta criança. Pior! Vai me fazer casar com esta infeliz. Ficamos observando por minutos e não fomos percebidos pelo espírito que ali se encontrava, em estado de verdadeiro desequilíbrio. Percebendo nossa curiosidade, o preto velho João Guiné nos falou: – Entendo a surpresa de vocês, amigos. Sim, esses espíritos estão aprisionados, mas não por esta instituição e, sim, por eles mesmos. No momento em que despertarem, sairão daqui e serão tratados em outras alas. Mas, isso parece o tratamento que ocorre na terra! – eu disse com ar de revolta – Como eles podem ser tratados assim? Cadê o livre-arbítrio? E a evolução que deveria haver no tratamento dispensado no plano espiritual? – Ortêncio, as celas são para a segurança deles mesmos, ou aonde você acha que estariam estes espíritos, se eles estivessem soltos por aí? Em que estado terrível de obsessão não estariam aqueles que eles acusam como responsáveis por suas dores? A loucura aqui é tão grande e o grau de energia dispensada nela tão densa, que eles causariam grandes transtornos, mesmo em seres equilibrados. Esses seres não estão sendo privados de sua liberdade, pois a liberdade do espírito está em sua mente e não no lugar onde se encontra. Quando a mente deles se libertarem do mundo que eles mesmo criaram para si, essas celas não existirão mais. Envergonhado, baixei a cabeça, mas aquele local ainda me incomodava muito. – Este lugar te incomoda, Mensageiro, – disse-me Felipe – sabe por quê? – Não. – respondi cabisbaixo. – Primeiramente, porque você mesmo, em sua juventude na terra, já se perdeu nos labirintos da mente e se perdeu na escuridão do real e do irreal, ou você já se esqueceu disso? Respondi: – Não, Felipe, não me esqueci. – Em segundo lugar, por sua religiosidade. Religiosos como você acham que tudo no plano espiritual é feito de lindos lugares e que os espíritos são mansos e frágeis e se esquecem que o nosso Maior Exemplo, que nunca faltou com o amor, Ele, no entanto, era também severo no combate ao mal e nunca deixou que o mesmo vencesse ou que se passasse pelo bem. Vivemos tempos difíceis e de verdadeiras mudanças, aquele que espera apenas seres angelicais, tocando harpas, quando chegarem do lado de cá, correm o risco de vir parar em lugares como este. O amor tem várias formas e, mesmo que isso te assuste ou que você não compreenda, estamos aqui diante do amor celeste, pois se fosse diferente nem aqui estaríamos. Como você pode ver, esses seres são perigosos, concentram grande energia. O tipo de loucura aqui é diferente, eles não querem se esconder da realidade, mas sim destruí-la! Eles chegaram aqui munidos de todo o sentimento primitivo acumulado que podemos imaginar e esse sentimento os levou a esse estado de loucura. – Então, a loucura aqui tem nome. – disse Humberto. – Sim. – respondeu João – ódio, e falta de amor ao próximo. Esse é Carlos, ele foi namorado de Fabiana e a conduziu a fazer os abortos que se tornaram rotina na vida do casal. Carlos é ambicioso e já trabalhou para as trevas. Chegou aqui faz dois meses apenas, por meio de um resgate coletivo que fizemos na esfera inferior. Nesse momento, como se saísse de seu transe, Carlos olhou para nós e nos disse: – Vocês irão pagar caro por me deixarem aqui. Meus mestres irão vir em meu socorro e destruirão esse lugar. – Eles não precisarão vir aqui, amigo, nós iremos até eles e lhes levaremos a luz do Cordeiro. Como se tivesse sido tomado por um choque, Carlos se pôs a chorar. – Não, senhor, por favor, não! Eles vão me destruir, achando que fui eu que lhes dei sua localização. Por favor, não façam isso! – Acalme-se, meu irmão. Por que tanto medo? Conosco você estará seguro. – disse-lhe Luzia – Mas, para isso, precisamos que você aceite nossa ajuda e os tratamentos que lhe oferecemos para sua melhora. – Eu não tenho jeito não, minha senhora. Sou filho do demônio e fiz muito mal ao outros. Como posso ser ajudado e melhorar? – Aceitando os ensinamentos do Cristo e trabalhando para o bem maior. Assim, meu irmão, você conseguirá se libertar de toda sua amargura e poderá ajudar aqueles a quem fez mal, o que acha disso? – Isso me parece impossível, senhora! – Sei que pode parecer, mas pessoas amadas estão esperando para te ajudar. Seus filhos, que nem chegaram a nascer, eles cuidaram de você, a fim de lhe preparar uma nova vida. Fabiana logo irá se recuperar e também se juntará a você. Uma lágrima cai do rosto do médico e, aproveitando esse momento, Maria disse-lhe: – Carlos, você poderá salvar vidas, ao invés de destruí-las. O que você fez, já passou! Não se martirize por isso. Agora, pense no prazer de escrever uma nova história ao lado de Jesus. Nesse momento as grades da cela se desfizeram e os enfermeiros aplicaram-lhe um medicamento que permitiu que ele adormecesse. Com a presteza da equipe ele foi deitado em uma maca. Havia necessidade de urgência – Vamos. – disse Luzia – Levem-no para a sala de cirurgia, precisamos ser rápidos. E os enfermeiros saíram apressados, enquanto os seguíamos também acelerados...

terça-feira, 26 de agosto de 2014

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O principal salão daquele hospital tinha uma quantidade de portas incontáveis, cada uma delas levava a um local ou ala específica de tratamento, nosso irmão seria conduzido a uma ala em que estavam espíritos ainda ligados ao passado individual para que pudessem conseguir com tratamento adequado despertar para o presente e, consequentemente, para seu próprio futuro. Nossa comitiva ficou ali por alguns minutos esperando nosso guia, que logo terminaria sua tarefa e nos apresentaria o local. Enquanto isso, eu aproveitei para tirar dúvidas com nossos irmãos mais esclarecidos: – Por que a ligação entre o espírito e o médium que deu a comunicação não foi feita diretamente, João Guiné? – perguntei. – Infelizmente, Ortêncio, os encarnados ainda não estão preparados para certas situações que, embora sejam simples para nós, lhes trariam alguns prejuízos espirituais e mesmo físicos. O médium em geral, seja o espírita ou o espiritualista, já carregam suas mazelas e por sua falta de disciplina acumulam energias desnecessárias, durante o seu dia a dia, impedindo assim a ligação direta com a maioria dos espíritos. No caso de espíritos com um grau de elevação maior o contato mediúnico é mais fácil, pois tais espíritos podem baixar sua vibração e se conectar facilmente com o comunicante. Já os espíritos com uma vibração muito baixa precisam de condutores, pois a preocupação, nesse caso, fio, é de que o médium tenha um desgaste muito grande ao ter contato com tal energia. – Mas, vejo médiuns saírem desgastados, se dizendo carregados e pesados depois de alguns trabalhos, João. Mesmo depois de tomarem passes e estarem em ambiente de prece. Imagine, então, o que aconteceria se não tivessem esse auxílio! – disse Humberto. Porém, dessa vez, quem respondeu foi o guardião Felipe: –  Tudo isso amigo, é falta de preparo, de estudo sério e de educação mediúnica. E continuou dizendo: – Se os médiuns estudassem mais e mistificassem menos, saberiam que eles próprios poderiam fazer uma limpeza energética, em si mesmos, e que nenhum resquício ficaria, após o socorro aos irmãos possuidores de energias inferiores. Porém, é necessário lembrar que eles não trazem esses maus hábitos de hoje e, sim, vão criando isso em sua caminhada, quando esse tipo de atitude se fortalece pelo egoísmo e pelo “achismo”. – Mas, como combater esse mal hábito e começar a ter uma outra postura mediúnica? – perguntei. – Como eu disse, estudando a mediunidade, se dedicando ao trabalho sério e questionando, seriamente, os espíritos. Sendo todos mais disciplinados e buscando aprender sempre. A essa altura, se aproximou de nós uma senhora de cabelos brancos como algodão, de olhos azuis e com um sorriso largo do qual irradiava luz, e nos disse: – Sejam bem-vindos ao nosso hospital, meus irmãos. – disse-nos, com uma voz mansa e cheia de energia. – Meu nome é Luzia e conduzirei vocês com muito prazer pelo nosso hospital. Todos nós nos apresentamos, um a um. Maria, Henrique e João já conheciam a distinta senhora, que começou a caminhar e a falar: – Comecemos pela psiquiatria, por favor, amigos. Então, passamos por uma porta azul que dava para um jardim florido, de grama verde. Nele, havia bancos brancos e um parque com animais, tudo muito simples e bem cuidado. Ao fundo, havia uma casa grande, branca, de aparência colonial e, em seu jardim, encontravam-se alguns espíritos de branco, que, em um primeiro instante, logo identifiquei como sendo enfermeiros que auxiliavam e passeavam com os pacientes, esses últimos vestidos de verde. Passávamos lentamente para observarmos o tratamento dado aos que ali estavam: havia espíritos que conversavam sozinhos ou que faziam perguntas sem nexo, outros que riam ou choravam e mesmo alguns que se envergonhavam. O desequilíbrio mental era visivelmente avançado em alguns, muitos não tinham nem o conhecimento de seu atual estado. Com lágrimas nos olhos, Humberto foi o primeiro a falar: – Como chegaram a este estado, Luzia? E como é feito o tratamento a esses seres?  Alguns, amigos, chegam ao plano espiritual assim mesmo, mas a grande maioria não aguentou seu verdadeiro estado espiritual após o desencarne e tão somente se escondeu atrás do véu da loucura. Como a resposta dela foi surpreendente, perguntei espontaneamente: – Mas, eles ficaram loucos no além? Por qual motivo? – Sim, Ortêncio, eles ficaram loucos no plano espiritual. Alguns são pessoas que, apesar de terem levado uma vida religiosa, não sabiam o que era Deus. Outros são materialistas que não aguentaram o choque de terem de enfrentar a vida após o desencarne. Outros esperavam soluções para ou o término de suas dores e problemas e que se deparam com ambos do lado de cá da vida. Os motivos são inúmeros amigos, nosso trabalho aqui é a doação de amor, em meio mesmo a um choque de realidade. Assim, tentamos trazer esses filhos de Deus para a realidade e acordamos sua consciência do sono da ignorância. Os casos que vocês veem aqui são de simples a médios, em termos de grau de complexidade e comprometimento, os avançados ficam em uma área mais restrita. – Valei-me, meu Jesus! Tem ainda casos piores? – disse Humberto. – Sim, amigo, infelizmente, sim. Paramos em frente a um banco de praça, uma moça de aparência sofrida, com os olhos inchados e com grandes olheiras, embalava os braços vazios e cantava uma canção de ninar. – Olá, Fabiana, como vai? – perguntou-lhe Luzia. – Fiquem quietos, vão acordá-los! Está tão difícil para dormirem, pois eles não param de chorar de fome. Pois vocês não me deixam alimentá-los e, agora, meu leite materno até secou. Por favor, Luzia, me dê uma mamadeira para alimentar meus bebês! A cena me tocara, profundamente, pois como era triste o estado daquela moça! – Fabiana, agora precisamos cuidar de você, seus bebês já não estão mais aqui. Eles estão bem e logo você os reencontrará. Mas preciso de sua ajuda para que isso aconteça. – Lá vem você de novo com esta história! Não está vendo que eu os tenho em meus braços? Você não enxerga Luzia? – Sim, meu amor, eu enxergo. Então, um enfermeiro se aproximou e disse-lhe: – Fabiana, precisamos ir a um lugar especial, vamos? – Sim, me tire de perto dessa mulher, pois ela é cega ou se faz de cega. Assim, o enfermeiro levou Fabiana, mas não a tristeza que eu sentia por ver aquela moça nesse estado. Perguntei: – Ela está assim por estar longe dos filhos, irmã? – Não, Ortêncio, ela está assim por ter praticado inúmeros abortos quando estava encarnada. Seu companheiro também se encontra aqui, iremos conhecê-lo na área restrita. A seguir, entramos na casa muito limpa com uma aparência de instituição hospitalar. Seguimos por um corredor com celas magnéticas, com grades feitas de luz energética. Atrás delas, uma surpresa para mim: havia casas, carros, escritórios, igrejas, até centros espíritas e uma caverna. Quem criava cada um desses cenários era a força psíquica do espírito que estivesse ali enclausurado, na sua loucura. Paramos em frente à cela de número 46 e o que eu veria a seguir seria muito surpreendente para meus padrões religiosos...

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

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Nos encaminhamos a uma sala da casa onde se reuniam os trabalhadores que se preparavam para o socorro espiritual, nossos irmãos encarnados já se encontravam em prece três deles sentados se colocavam a disposição do intercâmbio com os espíritos, nosso irmão olhou com desdenho e riu com sarcasmo, para mim essa era a maneira que ele encontrava para se defender, Henrique olhou com piedade para nosso irmão e disse, do que ri companheiro? São esses que vão me ajudar? Os mesmo que se encontravam lá fora se atacando e querendo posições ,querendo ser reconhecidos pelo trabalho prestado ao tal cristo jesus ?vocês me fazem rir e principalmente perder meu tempo, sim meu irmão esses encarnado apesar de suas limitações se propuseram a fazer algo pelo seu próximo você só está encanado em uma coisa eles não iram te ajuda apenas te alertaram pois a decisão de ser ajudado ou não é sua e não deles, indicando um médium que sentado Henrique aproximou o ser que olhava desconfiado João guiné começou fazer a ligação dos períspiritos e para minha surpresa o espirito não foi ligado diretamente ao espirito do médium e sim através do períspirito de João que já havia se ligado ao aparelho do médium com uma prece foi envolvendo nosso irmão assim que a ligação foi feita João pareceu entrar em estado de transe e permanecia com os olhos fechados com a respiração ofegante por ser corpo fluídico prata manchas negras  passavam e iam de encontro a energia azulada do médium ,Henrique se aproximou do doutrinador e o intuiria aquela conversa , seja bem-vindo meu irmão disse o doutrinador, uma risada tão sarcástica quanto a que ouvíamos do lado de cá foi dada do lado do vivos  e percebi no olhar de alguns médiuns presente o medo  que se espalhar pela sala, o que podemos fazer por  você meu irmão? Por mim nada eu estou admirado por vocês serem tão cara de pau, vim aqui para destruir esse local e vejo que nada precisarei fazer pois vocês mesmo iram faze-lo, acho que o irmão aqui não veio nos fazer mal mas sim pedir ajuda e nos ajudar em nosso aprendizado não é mesmo? Disse o doutrinador com uma voz que transmitia amor. Vocês não sabem o que é isso eu sim seio o que é amor e esse amor que me move contra os filhos daquele que entreguei minha vida e nada recebi em troca, lutei pelo amor do seu cristo e o que recebi foi escuridão, e vocês não consegue ajudar a si mesmo como me ajudariam? Sim temos problemas somos tão falho quanto você ou mais meu irmão mas sabemos disso e por isso estamos aqui tentando aprender e nos melhorarmos com os exemplos do cristo e peço que o seu véu de ignorância seja rompido pois você não matou e lutou em nome do amor do cristo e sim  em nome do amor dos homens a ganancia ,ao orgulho vou pedir eu a equipe espiritual mostre a você quem está aqui e como esta seu corpo espiritual, pai de misericórdia de a visão da verdade a esse nosso irmão e mostre a ele o quanto mau ele vem fazendo a si mesmo como suas magoas pai nosso que estais no céu... nesse momento  o fluxo se energia mudou de direção e uma onda azul passou por João e atingiu violentamente o  espirito do outro lado derrubando sua roupagem fluídica e deixando a vista tudo o que o subconsciente daquele espirito escondia dele próprio feridas enormes estavam abertas no seu corpo algumas cheias de vermes uma grande se concentrava em seu peito a sua frente um homem de barba por fazer vestido com uma armadura medieval de pele queimada pelo sol colocou  a mão sobre o ombro daquele ser em sofrimento e disse olá filho eu vim te buscar, intuído por Henrique o doutrinador disse e agora irmão percebe o mau que vem fazendo  a si mesmo ,mais jesus é misericordioso  e mandou alguém amado ao seu socorro o que você vai fazer agora? Eu irei com meu pai, mais se isso for um truque para me aprisionar eu voltarei, convido ao irmão não ir então fique e seja um trabalhador da nossa casa seja tratado em nosso hospital e volte para observar como trabalhamos não para jesus apenas mais principalmente por nós mesmo para nos melhorarmos , não eu não posso se ficar aqui serei preso por meus chefes e todos serão destruídos ,não se preocupe com isso meu irmão aqui você e nós estaremos sobre proteção do Pai maior vai em paz e que Jesus te ilumine, nesse momento  espirito colocaram uma maca do lado do irmão que abraçado ao pai adormeceu os laços entre ele e João se desfizeram lentamente  ,João abrira os olhos com um sorriso e após um limpeza fluídica no médium foi desfazendo os laços com o mesmo que mostrava um ar de alegria e cansaço, não ficamos na sala e pois acompanharíamos nossos irmãos que abririam uma porta que daria dentro de um amplo espaço um grande saguão de hospital muito movimentado de frente com nos um quadro enorme de um senhor conhecido por seu trabalho no bem abaixo em letras douradas estava escrito bem-vindo ao hospital Adolfo Bezerra de Menezes...

quarta-feira, 16 de julho de 2014

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Estávamos todos preparados para a viagem, eu em especial me encontrava muito apreensivo, pois sabia o quanto teria que lutar com meus próprios sentimentos para retornar àquele local ou a locais parecidos, afinal, apenas os dirigentes de nossa comitiva sabiam exatamente onde iríamos desta vez. Antes de  partimos, ainda participaríamos do trabalho da casa espírita que nos abrigara a fim de colhermos mais informações para nossa viagem a respeito da grande legião. Eu observava uma enorme movimentação do lado de fora e uma imensa legião de irmãos, que antes não conseguiam atravessar as barreiras de proteção da casa, agora, caminhavam desesperadamente entre nós. Assim, todo tipo de energia circulava nos bastidores do trabalho e que eram percebidas por um pequeno grupo de médiuns da casa, mas passava desapercebida pela grande maioria que ali se encontrava, pois estavam pensando somente em seus próprios problemas ou apenas não percebiam por pura falta de atenção. A verdade é que a qualidade dos trabalhadores de uma Casa Espírita não é medida pela quantidade, mas apenas quando poucos se propõem a realmente trabalhar, no anonimato, esquecendo-se de seus problemas e de seus desejos. Assim sendo, é que começaria a reunião daquela noite:  com muitos presentes, mas, ao mesmo tempo, com poucos trabalhando. Vendo minha curiosidade sobre o porquê da presença de tantos seres das trevas naquela noite, João Guiné esclareceu: Quem lhe disse, Ortêncio, que eles estão aqui para atrapalhar? E, saiba mais, os espíritos que trabalham aqui não estão em alerta. Filhos, os espíritos que entraram aqui hoje são sim de legiões opostas às lições de amor do Cristo e, por isso mesmo, a equipe da casa permitiu que eles ultrapassassem as barreiras energéticas para que, assim, conseguíssemos, de alguma forma, alcançar seus corações e socorrer a alguns deles. – Mas, como isso será possível, João? Como vemos aqui, os trabalhadores estão sendo atingidos por essas energias pesadas e não estão se concentrando no trabalho, alguns já estão até passando mal. Já vi mesmo alguns princípios de discussão, não seria o caso de uma proteção maior? – perguntou Humberto preocupado. O preto velho pensou por alguns segundos, como se organizasse as ideias, e disse-lhe com sua calma habitual:  – Humberto, meu amigo, infelizmente o encarnado se abala muito facilmente e são poucos, em casos como o de hoje, que se preparam para o trabalho corretamente. Exageram na alimentação, nos sentimentos e, muitas vezes, nas brigas políticas dentro da casa espírita. Cada um quer estabelecer a sua vontade, se esquecem de que o trabalho de  ajuda ao próximo é o que realmente importa. Diante de tamanha fragilidade, o que aos vossos olhos parece um caos, isso tudo é estudado e preparado por meses e, dependendo do socorro, até por anos e, mesmo assim, o encarnado deixa brechas como as que você, hoje, vê aqui. – Então, como a espiritualidade trabalha para o sucesso desse tipo de socorro? Pois o que vemos aqui, João, é um grupo de espíritos diferenciado, eles são inteligentes e conscientes de sua condição, mas querem continuar assim, diferentemente dos chamados espíritos sofredores e ignorantes, ou estou enganado? – perguntei dessa vez. Quem me respondeu foi Felipe: – Todos os que estão afastados da luz do amor do Cristo, Ortêncio, são ignorantes. Porém, você tem razão, quando diz que esses seres têm conhecimento de suas condições e buscam, na verdade, lutar a favor do que acreditam ser o certo. Contudo, poucas casas espíritas, hoje, preparam seus médiuns para trabalharem com esse tipo de espírito, então, o que a espiritualidade faz? Dividem-nas por setores e usam o que de melhor elas têm. Por isso que você vê casas com uma grande concentração de cura, ou casas que chamamos de consoladoras, pois se especializaram em trazer notícias do além àqueles que aqui ficaram. Em todas elas ocorrem socorros e consolos, são como os hospitais que tratam no setor de emergência de tudo e, depois, dependendo do caso de cada paciente, os transferem para um especialista. Esta casa em que estamos é um centro de socorro e seus trabalhadores têm consciência disso. Apesar de suas várias funções, ela é a porta de entrada para uma importante cidade espiritual, por isso que tentamos preparar o encarnado, principalmente durante o sono físico. Metade dos trabalhadores, aqui, fazem parte da equipe de socorro e a outra metade se prepara para isso. Porém, sabemos que o peso do corpo físico influencia muito nesse trabalho, que é mesmo de formiguinha. Todos eles já foram avisados desse socorro e se prepararam com a equipe, porém, hoje, poucos seguiram suas intuições e são com eles que iremos trabalhar. Os que se lembram e seguiram nossas orientações farão a linha de frente, doutrinando e dando a passividade. Os que estão mais agitados farão a doação anímica de fluidos, que hoje será algo de extrema importância para o socorro. Sem que eu percebesse um daqueles seres ouvia a nossa conversa com grande atenção e quando Felipe terminou de falar, ele deu uma grande gargalhada. Estava vestido de trapos pretos, era branco e sua pele era tão pálida que quase dava para ver seu esqueleto. Felipe o olhou com piedade e disse: –  Seja bem-vindo, meu irmão, a esta casa e ao nosso grupo de estudos. Ele olhou para todos nós, friamente, e disse: Vai começar com palhaçada ou vamos conversa como adultos? – Quem aqui está de palhaçada? Realmente somos todos irmãos, pois o Deus que me criou também o fez. Eu estou mentindo? – Não, guardião, não está, mas pelo jeito ele gosta mais de você do que de mim: um filho rebelde. Porém, isso é um outro assunto. Eu estou aqui para saber de vocês e ver como é esta vida nova de luz... Convençam-me que isso é realmente bom ou eu acabarei com cada um de vocês. João, com um sorriso no rosto, lhe disse: Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo, fio,  por trazê-lo aqui e por nos dá a oportunidade, hoje, de aprendermos com você. Siga-me, por favor, pois hoje, você falará aos encarnados tudo aquilo que quer. Porém, prepare-se, pois também ouvirá algumas coisas. E, assim, nos preparamos para aquele diálogo que nos traria grandes revelações...

domingo, 15 de junho de 2014

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O local era protegido por uma energia que misturava euforia, fé e gratidão. A equipe de socorro fazia a triagem ali mesmo na rua e muitos dos espíritos nem tinham contato com o interior do templo. Assim que Geralda terminou os cumprimentos, começou a nos explicar: – O culto de hoje é um culto de libertação, amigos, a maioria dos irmãos encarnados que aqui estão se veem envolvidos por problemas de todas as espécies e que, segundo eles, atrapalham suas vidas. Vamos intuir o pastor a falar sobre a vitória de Jesus. Enquanto isso, desse lado da vida, faremos o socorro daqueles que desejam ir para um lugar melhor e que quiserem se melhorar. Curioso, perguntei: – Como é feito esse socorro, Geralda?  – Os espíritos que aqui chegam, Ortêncio, vêm achando que são escravos do demônio, pois em sua maioria são religiosos que falharam em sua crença e, como todo ser humano, cometeram erros. Assim, nossa obrigação é fazer com que eles abram os olhos e despertem para uma nova realidade: a de que o Pai maior não os abandonou e, assim que eles escolherem outro caminho, eles serão acolhidos da melhor forma e terão a chance de uma nova vida. Porém, isso acaba sendo um trabalho de formiguinha, por vários motivos, mas o principal deles é o do orgulho religioso. Nós, quando encarnados, não vemos a religião como porta libertadora e caminho que leva a Deus e sim como verdade absoluta, que nos fará melhor que aqueles que praticam uma religião diferente da nossa. Assim sendo, quando despertamos no mundo onde as religiões são esquecidas e onde apenas aquilo que trazemos no coração é o que importa, sofremos um imenso choque. – Mas, as religiões não nos preparam para morte? – perguntou Humberto. – Este é um erro comum, as religiões foram criadas para nos aproximar de Deus e da vida, a morte não existe. O encarnado deve esquecer que um dia perderá o corpo físico e que deixará este mundo, pois ele apenas deixará o corpo mas não abandonara o planeta. Afinal, poucos espíritos têm condições morais de habitar planetas mais evoluídos. A maioria de nós ficaremos aqui por um bom tempo para aprendermos mais e mais e, assim, evoluirmos muito mais. Então, as religiões estão agindo errado? – perguntei. – Não as religiões, mas sim os religiosos, os que se dizem donos da verdade e ameaçam seus seguidores com penas eternas, ou idas para o umbral, ou para o paraíso ou ainda para colônias espirituais de luxo. Aonde você vai depois que morrer é o que menos importa! Quantos irmãos trabalham no “inferno” ou no umbral mais profundo e estão tão próximos de Deus, que o sentem, diariamente, apoiando sua missão ou ainda quantos estão em colônias espirituais lindas e se encontram revoltados e sem vontade de continuar a viver... Não é para onde se vai, mas como se vai e o quanto sua bagagem pesa em seus ombros: é isso o que importa. A verdade é que os cristãos querem ainda que Jesus carregue seus fardos e se colocam no direito de dizer que são os escolhidos, aqueles que caminham com Jesus, pois seu jugo é leve, mas fraquejam no primeiro obstáculo, quando se sentem injustiçados. As palavras de Geralda encontravam morada em nossos corações e nos levavam a refletir em muitas coisas. Felipe acrescentaria uma lição que me faria ainda ver os evangélicos com outros olhos: – Venha, Ortêncio, quero lhe mostrar alguém. Sentada em um dos bancos daquele templo religioso se encontrava uma das filhas do meu terreiro, agora um pouco mais velha. Ao lado dela sentara Bete, eu ainda ignorante tive apenas um pensamento, imediatamente repreendido pelo preto velho, João Guiné: – Não Ortêncio, esta filha do seu terreiro não está “traindo” o seu terreiro, mesmo que ele por um acaso ainda existisse, mesmo que você ainda estivesse na carne, pois o que foi que acabaste de ouvir da parte de Geralda? Então, eu me envergonhei por ter tido tal pensamento e passei a observar a mulher que orava e pedia a Deus assim: – Pai, sinto tanta falta do meu padrinho Ortêncio! Um homem tão bom, Pai, e que se foi tão cedo... Mas peço, Senhor, que o proteja, que ele descanse em seu sagrado seio, pois sei que ele era um enviado divino. Não consigo mais entrar em um terreiro, mas sei que o senhor está em todos os lugares, Pai, por isso estou aqui para ser consolada por ti, pois já não tenho meu padrinho e meu marido foi assassinado, Pai. Que o senhor e meu padrinho cuidem dele. Agora, eu estava aos prantos, pois sempre critiquei aqueles que mudavam de religião e, no entanto, nesse momento, entendia perfeitamente o que Geralda falara. Quando cheguei àquele templo divino, o culto acabara e muito prestativa Luíza fez amizade com Bete. Elas moravam próximas e iriam embora caminhando juntas. Parecia que as palavras do pastor haviam tocado Bete de alguma forma e ela estava mais tranquila e, assim, abrira uma brecha para a aproximação de seu mentor. Bete contara sua história à Luíza que a recomendara pensar bem, pois ela pagaria um preço alto caso tomasse tal decisão impensada. Olha Bete, eu sou do Candomblé. Eu estou aqui, hoje, orando por pessoas queridas e porque a saudade não me deixa ir a nenhum terreiro depois da morte do meu padrinho. Mas, ele sempre me dizia que quando fazemos o bem recebemos em dobro. Porém, quando fazemos o mal, a justiça de Deus vem pelas mãos de Jango, que cobra em triplo. Então, não faça isso, pois você pode se arrepender para sempre. Fiquei feliz em saber que Bete estava acordando finalmente. Seu estado exigia cuidados e uma equipe foi destinada a acompanhar seu caso. Ela continuaria seguindo a igreja e se tornaria amiga de Luíza, que mostraria à amiga que a religião é o caminho que nos aproxima de Deus e não nos deixa nos afastar daquilo que amamos. Não importa se isso é feito ao som dos tambores ou de hinos evangélicos, pelo estudo kardecista ou pela sagrada eucaristia. A religião deve nos preparar para vida, pois esta sempre irá continuar assim como nossa viagem. Portanto, nessa mesma noite, partimos da crosta terrestre e viajamos às profundezas terrestres, àquele lugar que, então, eu gostaria de nunca mais retornar. Porém, dessa vez eu não iria para ali como prisioneiro, mas sim como o carteiro do além e dali voltaria para relatar de forma diferente o que os meus olhos de mensageiro puderam ver...

sábado, 3 de maio de 2014

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Saímos daquele local com os nossos corações cheios de esperança e com a certeza de que por mais que seja difícil o trabalho no bem, ele é muito gratificante e, sim, nos elevará, o nosso estado de espírito, sempre nos aproximando de deus. A convite de Henrique, fomos, então, ver como vivia Marcos para que, assim, pudéssemos tentar ajudar Bete. Assim sendo, chegamos a uma casa simples, mas bonita. Era cedo ainda e a família se preparava para ir à igreja, no culto dominical. Marcos era um ser alegre, cantava enquanto se preparava e tratava sua esposa, Beatriz, amorosamente. Ela, por sua vez, se desdobrava em atenção ao novo marido e à filha, Cibele, de 6 anos, que ela trazia de outro casamento. Um espírito que trajava um terno branco e que emitia uma linda luz estava na casa e veio nos receber: – Que a paz do Cristo esteja com vocês, irmãos, disse ele sorrindo. – E com você também, Inácio. Fico feliz em ver você por aqui. – Hoje é um dia especial, Henrique, minha pequena Cibele cantará no culto e eu, como pai coruja, não poderia faltar. Henrique sorriu gostosamente e disse: – Pois o pai coruja faz muito bem em prestigiar essa pequena guerreira. Eu e Humberto nos olhávamos curiosos e lhe perguntei: – Amigo Inácio, não te incomoda ver sua família dirigida por outro homem? Inácio respirou fundo e me disse: – Fui muito feliz com Beatriz. Quando estive encarnado namoramos por dez anos e fomos casados por mais três anos. Quando ela engravidou foi tão grande minha emoção que não saberia explicar em palavras o que senti, porém um mês antes de Cibele nascer sofri um grave acidente de automóvel, que me fez retornar à pátria espiritual. Ficamos todos arrasados e por muito tempo sofri, enfim, fui recolhido a uma colônia evangélica e lá aprendi o verdadeiro sentido das escrituras sagradas. Hoje, Beatriz segue o cronograma feito pelo alto, casou-se novamente, com Marcos, e que, na espiritualidade, já prometera cuidar delas para mim. Meus olhos estavam marejados com tamanho amor e entrega e com aquela história verdadeira de amor puro. Mas, a que devemos, hoje, visitas tão ilustres? – Estamos aqui para saber como vive Marcos, pois uma antiga namorada pode investir com forças do mal sobre esta família e queríamos ter certeza de que ele estava vivendo bem, para que estas forças não os façam desviar de seus caminhos. Como sabes, nós espíritos nos comprometemos tanto na espiritualidade e fazemos completamente ao contrário quando estamos aqui e isso é porque a carne, fio, tem um poder muito grande ainda sobre nós, espíritos ainda tão primitivos, precisamos  aprender a dar ouvidos aos sentidos do espírito e não só aos sentimentos da carne  – disse João. Maria, que ali estava apenas observando também falou: – Nessas ocasiões é que descobrimos aqueles que realmente estão comprometidos com o espírito, ou seja, quando as provas batem em nossa porta e nos desafiam a praticar tudo o que aprendemos com o Cristo. Lares harmoniosos como esse sofrem rachaduras, nos momentos difíceis, se são apenas alimentados por futilidades, se os pais não educam seus filhos e não os orientam a terem atitudes cristãs tudo se perde. Como nessa família, em que a espiritualidade maior e os encarnados passaram anos fazendo planejamentos, trabalhando para quando estivessem na carne seus cronogramas fossem cumpridos santamente. Porém, queremos uma vida fácil e cheia de flores pelo caminho, esquecendo que além de estarmos em um mundo de provas e expiações plantamos espinhos outrora.  – Mas, hoje, o mundo é cheio de tentações, de tecnologia, de futilidades, como preparar um filho para o caminho do bem, com tudo isso? – perguntou Humberto. – Os espíritos vêm nascendo com mais conhecimento e a cada dia seus tutores também vêm sendo preparados de forma diferente. A evolução é para todos Humberto, não só para os que vêm como filhos, mas também para os pais, preste atenção nessa família. Os pais estão fazendo de um momento de fé um momento alegre, atrativo aos olhos da criança, enquanto em muitas casas se vai para o templo religioso como se vai para um velório, ou, então, os pais vão e deixam seus filhos para traz com a desculpa de não forçá-los a seguirem algo que não querem. – Mas o que fazer quanto a isso, Maria? Os jovens acham as religiões muito chatas. – disse Inácio. – E não são? Muitas religiões se esqueceram de evoluir e só agora começam a se preocupar com seus jovens. Esqueceram-se de que eles são o futuro da religião. Poucas dão espaço ao novo com desculpas do tipo “temos que manter as tradições” e, assim, não lhes dão oportunidade afastando-os da religião. É, sim, obrigação dos pais apresentarem a religião aos filhos e é obrigação dos religiosos evoluírem, para caminharem sempre congregando o novo e o tradicional. Maria falava com fervor, o que nos fazia pensar nesse problema tão grave e ainda tão pouco explorado. – Como é triste assistir a chegada de jovens, filhos de religiosos de todas as denominações, aqui no plano espiritual! Em geral, eles chegam acusando seus pais de negligência em relação ao amor e ao compromisso firmado antes, aqui, no plano espiritual. Pois muitas vezes, tais pais vivem para a religião e esquecem a família, vivem a ajudar aos outros e não conseguem abraçar o próprio filho. Você é um exemplo a ser seguido Inácio! Como estou feliz em conhecer sua história! – disse Maria com os olhos cheios de lágrimas. Saímos acompanhando aquela família, que agora se dirigia à igreja. Do outro lado da calçada, Bete observava-os com ódio, acompanhada por espíritos que a estimulavam no mal. Entramos no imenso templo religioso em que estavam presentes cerca de 500 pessoas encarnadas e uma multidão de desencanados. Homens de ternos faziam a segurança do local. No plano espiritual, uma energia de paz e amor protegia o local, enquanto uma legião de espíritos maltrapilhos se aglomerava na porta. Esse era o momento do socorro do Pai de Misericórdia. Uma equipe de espíritos vestindo ternos brancos trabalhava do lado de fora do templo, uma irmã de saia branca e blazer da mesma cor veio nos cumprimentar: – A paz do Senhor, irmãos! – abraçou João e Maria com carinho e me olhando, ternamente, me disse: – Seja bem-vindo, Mensageiro de Aruanda, ao nosso lar, onde você descobrirá que seu maior inimigo é seu melhor amigo...

sábado, 26 de abril de 2014

Página 43

Ficamos no local da consulta de Bete, observando o que ali acontecia, e nos perguntávamos como era possível que um bom médium se entregasse a tal trabalho. Foi Felipe quem primeiro nos respondeu: – Os encarnados, como os desencarnados, têm a opção de escolher a quem servir e como usar seus conhecimentos: é o seu livre arbítrio. Nós, diferentemente do que o povo da carne pensa, não podemos fazer nada quanto ao destino que cada um escreve para si mesmo, a não ser tentar inspirar tal pessoa da melhor forma e pedir que, um dia, aqueles que se encontram na escuridão possam ver a luz do Pai de misericórdia. – Mas, e os trabalhos de inteligência do plano espiritual e todos os socorros e desmanches de cidades voltadas para o mal, tais ações realizadas pelos amigos, isso já não é um grande avanço? – perguntei, ainda intrigado com o que Felipe havia falado.
– Sim, amigo Ortêncio! – respondeu o guardião – Porém, essa é só a menor parte do nosso trabalho. Mesmo que isso exija muito de todos os que nele estão envolvidos. Do que adianta as grandes missões se o maior objetivo não for alcançado, se os espíritos que estão em situação infeliz acabam recriando o cenário de dor e de ódio em outras esferas, e se também o povo da carne continua alimentando, com suas atitudes e pensamentos, esses seres do mal? – E o que faz, então, com que vocês continuem com um trabalho tão sacrificante? – perguntou Humberto. Dessa vez, quem respondeu foi o Preto Velho João Guiné: – Fio, se conseguimos em nossas missões retirar um desses seres da escuridão para a luz, já estamos no lucro! Nosso trabalho é o de formiguinhas, que a cada dia constroem com calma e trabalham sem parar para conquistar seu objetivo. Muitos desses seres que aqui vivem acham que apenas o lado ruim é quem faz o mal, mas nós também fazemos mal quando nos omitimos. Na verdade, muitos desses irmãos são comandados por seus líderes que obrigam que eles façam maldades e por isso vivem no medo. Nossa obrigação é levar o amor, seja nas grandes missões ou de maneira simples, mas sempre com coragem, de levantar a bandeira do amor e da caridade, sem nos importar se socorreremos 10 mil ou apenas 1 irmão: o importante é que aquele que seja socorrido receba verdadeiramente a luz e o amor do Cristo. Agora, precisamos trabalhar. Baixemos nossas vibrações e nos faremos visíveis aos irmãos que aqui estão e conversaremos com o seu líder para ver se por vontade própria ele libera alguns de seus escravos e, quem sabe, até mesmo ele possa deixar as trevas. Assim fizemos, depois de uma oração, começamos a ficar visíveis àqueles que nem desconfiavam de nossa presença ali. Todos nós surgimos com nossas vestimentas tradicionais: os índios surpreendiam pela beleza natural, Henrique apresentava-se com sua armadura de general, João parecia ter quase cem anos de idade, vestido de branco e apoiado em sua bengala, Humberto trajava um lindo terno cinza e eu apresentei-me com minhas vestimentas de chefe de terreiro. O tumulto foi generalizado, espíritos corriam e gritavam por todos os lados até que uma das portas se abriu e homens vestidos de negro e com lanças enferrujadas formaram um corredor que vinha em nossa direção. Entre eles, apresentava-se um homem vestido apenas de calça preta, descalço, e que era muito alto, tendo os olhos vermelhos e a pele negra, apresentou-se com uma espada na mão. Pelo corredor, vinha a passos largos em nossa direção. Parou a menos de um metro de João. A visão do pobre Preto Velho perto daquele gigante era assustadora e dava a impressão que nossa derrota era certa perante aqueles seres: – Como se atrevem a invadir minha casa, filhos do cordeiro? O que fazem aqui, sem serem convidados? – esbravejava o homem, com sua voz rouca e alta. – Oxi fio, quem disse que não fomos convidado a entrá em vossa casa? – disse o Preto Velho com calma. – Eu estou dizendo! Maldito velho, traidor das tradições! – Como o fio pode me acusar de algo, se nem conhece esse velho?  – Já vi e ouvi muito sobre os negros que renegaram suas origens e foram servir o cordeiro! Reconheço um traidor! – E o fio acha que eu deveria servir a quem? – Aos verdadeiros deuses da nossa religião, aos que eu sirvo, já que fomos escravizados por este povo do Cordeiro quando estávamos na carne.  – O fio falou bem, fomos escravizado pelo povo e não pelo Cordeiro. Já não estamos mais na carne e já não precisamos ser escravos, fio, o tempo do sofrimento já acabou. Mas, o fio insisti em ser escravo e escravizar. Me fala fio, o que te faz diferente daqueles que um dia te escravizaram? O homem soltou uma gargalhada que fez as paredes do local tremerem e disse: – Velho, eu sou a lei e estou punindo a cada um que me fez mal. Isso me faz diferente, não baixei a cabeça e não baixarei, enquanto toda a justiça não for cumprida! – Essa vossa justiça causa dor, meu fio! Olha em volta e veja como seus escravos estão! Veja o local que vocês vivem, em troca de prazeres tão passageiros, quanto sua própria justiça... Estamos aqui, não para aprisionarmos, mas sim para libertarmos cada um de vocês dessa escuridão, dessa dor e de tudo o que possa ser ruim. É a hora de evoluir e de deixar que a justiça do amor e da verdade seja realmente feita. – Eles não são meus escravos, velho, e estão aqui por que querem. Nenhum deles está aqui contra a vontade. Sem perceber o homem era manipulado por João. E como era bonito ver o Preto Velho trabalhar com tamanha sabedoria: – Isso é muito bom, fio, pois então aqueles que quiserem vir conosco poderão vir? Disse o preto velho com um sorriso no rosto. O chefe daquele lugar, então, percebeu a armadilha que caíra, mas agora já era tarde: ele entrara em um caminho sem volta. – Nenhum deles irá com vocês pois sabem o que é melhor para eles. Mas, claro, se você conseguir convencer alguém, eu deixarei tal pessoa ir, sem me opor. O Preto Velho voltou-se, então, para Humberto e disse-lhe: – Fio, fale de Jesus para eles.
Humberto deu um passo à frente e começou: – Queridos irmãos, sei que cada um de vocês tem seus motivos para aqui estar vivendo, nessas condições, diferentemente do que vocês pensam não os condenamos e muito menos Deus o faz, pois esta aqui é uma lição importante para todos nós. Porém, existem lugares mais adequados para que vocês se refaçam e, no tempo certo, busquem pela justiça. Tenho que ressaltar que a justiça de Deus é diferente dessa que vocês vivenciam por aqui. Ela é plena de amor, ela elimina todas as dores e faz o ódio cair por terra. Não há lugar para a escravidão e nem para o mal, pois a justiça de Deus é limpa, é sagrada e, principalmente, sem dores desnecessárias. Afinal, do que adianta uma justiça que nos afunda para a escuridão. O Reino do Senhor está aberto a cada um de vocês, ele já se abriu para nós, pois trabalhamos para o bem por vontade própria. Alguns aqui vieram da cidade de Aruanda. Lá estudaram e aprenderam e decidiram que dedicarão sua vida a Deus e aos verdadeiros espíritos de amor e caridade que são os Orixás. Portanto, não cometam o mesmo erro de quando estavam na carne criminalizando suas religiões. Nosso Deus está sempre disposto a nos oferecer o melhor, para cada um de nós. Não prometemos uma vida de plena felicidade ou o Paraíso, mas Jesus disse que todas as dores cessariam, todas as lágrimas secariam e que em um mundo de luz apenas o amor reinará, mas o caminho para isso é o do amor e o do perdão e do trabalho para nos tornamos espíritos melhores. Aqueles que sentirem em vossos corações que é hora de parar de sofrer e de realmente buscar o melhor, dê um passo à frente, pois estamos aqui para mostrar o caminho, sem qualquer repreensão. Eu estava fascinado pelas palavras do nosso amigo Pastor.  Alguns segundos de silêncio total, quando uma mulher chorando deu um passo à frente. Depois dela, um outro e outro e depois mais um. Quase todos os membros daquela comunidade do mal estavam, por livre e espontânea vontade, pedindo ajuda. Então, os guardas levantaram suas lanças e ficaram em posição de ataque. Henrique, por sua vez, levantou sua espada e os índios armaram seus arcos. O guardião Felipe sacara sua espada e com sua voz assustadora disse: – Você deu sua palavra! Não viemos aqui para lutar, mas se for preciso o faremos, para levar esses seres para uma vida melhor. Nesse momento, a porta de saída se abriu e lá fora estava estacionado o nosso já conhecido ônibus de socorro. pois o Preto Velho chamara apoio telepaticamente. Uma equipe de índios formou um corredor que levava até a porta do ônibus voador. Uma equipe carregando macas desceu e começou a encaminhar para dentro do veículo aqueles que queriam partir. O clima era tenso. O chefe daquele local de dor nada falava, apenas olhava com ódio nos olhos. Um de seus guardas largou a lança ao chão e também se encaminhou ao veículo. Quando o local estava quase vazio, o veiculo fechou suas portas e saiu para a Colônia Recanto de Irmãos onde faria sua primeira parada e depois seguiria para Aruanda. Ainda há tempo para partir conosco Zulu, disse o Preto Velho, João Guiné. – Como sabe meu nome, velho? – disse o chefe da agora pequena Ordem. – Há muito acompanhamos sua jornada na escuridão, Zulu, meu fio. – Então, você sabe que para mim não há esperança e que, depois do grande feito de vocês, meu destino será a segunda morte, pois meus superiores irão me buscar até no inferno, para que eu preste esclarecimentos do que aconteceu aqui. – Sabemos que ocê tem opções, meu fio, e que pode se torná um grande colaborador da causa e ajudá a acabar com este sofrimento todo. Nós o protegeremos e para onde vamos vosso superior será o amor e o trabalho em favor de si mesmo e do próximo, para, assim, a gente não errá mais. Com lágrimas nos olhos, o gigante desabou em um choro dolorido. Seus guerreiros olhavam com espanto para ele. – Mais algum de vocês deseja se libertar das correntes do mal? – perguntou Henrique. Nenhum deles se moveu. O Preto Velho andou com dificuldade até Zulu e o abraçou, dizendo: – Pai de misericórdia, sou apenas um pequeno trabalhador da sua grande seara, porém, me atrevo a pedir por um filho seu que sofre e que de coração pede que mande sobre ele o conforto e o amor. Isso por que sabemos que você, Pai, não abandona a ninguém e que sua justiça não falha. Por isso, Deus de misericórdia, te peço perdão, pelos nossos erros, e que, em nome de seu filho Jesus, possamos caminhar na estrada do bem! Ao acabar sua prece, estavam do lado de João, Ubirajara, da sétima legião de Oxalá, Gabriel, da sétima de Exu, e Samuel, das esferas de Xangô, que, envolvidos por uma luz branca, sorriram e levaram Zulu para a cidade de Aruanda....

segunda-feira, 17 de março de 2014

Página 42

A casa era tão bonita por dentro quanto por fora. Bete esperava em uma sala decorada com lindos quadros, representando os orixás, e que ostentava um bonito e confortável sofá e também uma pequena mesa, na qual se encontrava uma moça e que passava por secretária de dona Maria. Ela aparentava ter cerca de trinta anos, vestia uma grande saia branca, rodada, uma camisa de renda, tinha um turbante de panos brancos superpostos na cabeça e usava guias coloridas em volta do pescoço. E como era linda aquela menina que estava ali para orientar os que chegavam, procurando o trabalho daquela senhora! Ela disse a Bete: – Senhora é só aguardar que mãe Maria logo a atenderá e resolverá o seu problema, seja ele qual for. As duas começaram uma conversa descontraída, na qual Bete contou parte do motivo que lhe trouxera ali. Tratava-se, portanto, de um cenário até comum no plano físico. Já no mundo espiritual e que circundava tal cena, a situação era completamente diferente. Nunca imaginei que em uma casa tão linda o cenário espiritual pudesse ser tão inferior. Havia um cheiro podre de carniça, misturada com enxofre, como se algo muito estragado estivesse sendo cozido. Era algo quase insuportável. Pessoas de preto e envoltas em campos vibratórios carregados de ódio caminhavam o tempo todo como se ali estivessem trabalhando. Das paredes e quadros, e que eram tão bonitos na matéria, escorriam, no entanto, uma lama suja, recoberta de vários tipos de insetos. Os espíritos que ali se encontravam não nos percebiam. Quando Humberto perguntou, num tom de voz que revelava certo medo: – Por que eles não nos veem, amigos? Não estamos correndo perigo aqui? Foi Felipe quem respondeu: – Devido sua condição vibratória. Eles estão muito abaixo de nossa sintonia, amigo Humberto. – Isso quer dizer que por sua ignorância é que eles não nos percebem, não é Felipe? – eu disse. – Também, meu amigo Ortêncio, mas nem sempre é esse o motivo, pois a sintonia não é influenciada apenas por uma questão de conhecimento, mas, principalmente, por meio dos pensamentos. Muitos desses irmãos, diferentemente do que pensam os encarnados, possuem conhecimentos em vários campos da vida, estudaram e até mesmo conhecem a missão cristã, mas ainda assim preferem outro caminho e, então, suas intenções, seu comportamento e seu trabalho no mal é o que lhes proporciona um campo vibracional diferente e não necessariamente sua ignorância, pois, embora eles possam ter conhecimento do que seja o bem, não o vivenciam. –  disse-nos o guardião. – Como um espírito assim pode ser socorrido? – perguntei surpreso. – Manoel, meu querido – disse Maria – por duas maneiras: a primeira é pelo arrependimento, pois quando um espírito desses quer sair dessa vida, ele é tocado em seu coração e, devido a sua sinceridade, ele entra, pelo tempo necessário ao seu socorro, em nossa sintonia e começa, então, a ver os mensageiros do amor do Cristo e que sempre estiveram ali para ajudar a tirar os que estão na escuridão; a segunda opção é pela necessidade propriamente de ações do plano maior, como aquela que te resgatou. Nesse caso, os espíritos que pertencem a uma sintonia superior descem à escuridão para resgatar das trevas os seres em dor e sofrimento, filhos de Deus Pai, dando-lhes assim a oportunidade de recomeçar. Mas, e se eles recusarem esta ajuda? – perguntou Humberto. Foi João quem respondeu: – Fio, a lei de Deus é irrecusável, chega um momento que a lei prevalece. O pai maior não nos obriga a nada, mas a lei é imutável e sempre nos alcança, sendo a Justiça Divina igual para todos. Então, mais cedo ou mais tarde, ela nos alcança, nos abraçando com o amor necessário para nos colocar no caminho do bem. Nesse momento, a porta da sala de dona Maria se abriu e Bete entrou por ela, mas nós a acompanhamos na consulta. A sala era grande e se encontrava a meia luz, por causa das velas acesas no recinto. Havia um congar lindo, luxuoso, com grandes imagens e que o tomavam inteiramente. Dona Maria era uma jovem senhora vestida como a moça da recepção e que se encontrava sentada em uma cadeira de palha. Ao lado dela, havia um espírito de negro e que se alimentava das energias do álcool e do fumo e que a médium consumia durante as consultas do dia. Bete sentou-se em frente à médium, a qual permaneceu calada por alguns minutos. Por fim, falou com uma voz rouca: – Sofrendo, né moça? – Vamos ver o que posso fazer por você? E, após Bete contar o que acontecia com ela, o espírito deu seu veredito: – Pelo que a moça me contou, alguém tirou o moço de você. E eu posso trazê-lo de volta, porque ele é seu, viu? Mas isso tem um preço, viu? A moça tá disposta a pagar? – Sim, senhor, eu pago qualquer coisa para ser feliz, é só falar como e quando. – Isso a moça vai negociar com meu cavalo aqui. Ela vai lhe dar a lista de material para o trabalho e o preço, viu? O espírito deu um tipo de passe em Bete, que, então, esperou que dona Maria voltasse do transe e lhe desse a lista, bem como negociasse com ela o preço do trabalho que iria trazer seu amor de volta. Quando Bete saiu da casa de dona Maria cheia de falsas esperanças, ela tinha outro problema: como arrumaria tanto dinheiro. Os valores eram altos e mesmo a quantidade de produtos era grande e ela não possuía tanto dinheiro assim...

segunda-feira, 10 de março de 2014

Página 41

Saímos daquele lugar que tanto nos ensinara e voltamos à Casa Espírita que nos abrigava. Já era dia e a manhã nascia cheia de trabalho e esperanças, tanto para o plano espiritual quanto para o material. E, naquela manhã, aconteceria uma reunião pública, em que se oferecia a mensagem do evangelho e passes para os encarnados, que chegavam ali cheios de dúvidas e com os corações partidos por seus problemas. Tais assistidos eram recebidos por trabalhadores de boa vontade. A palestra daquela manhã seria sobre o amor. O palestrante falaria, portanto, para os dois planos da vida e, assim sendo, uma grande leva de espíritos que sofriam por suas decepções carnais foram levados para ali, para que ouvissem a respeito desse sentimento tão nobre e tão mal vivido quando estamos na carne. Uma encarnada nos chamou a atenção: seu campo vibratório estava tomado por uma energia vermelha, densa e repleta de vermes nascidos do ódio e da dor. Junto dela encontravam-se alguns espíritos que tentavam limpar seu campo vibratório. Ao nos aproximar daquele ser infeliz, notamos, porém, que nada do que ela ouvia ali tocava seu coração, pois seu ódio apenas crescia e ela se afundava naquela doença. Ela dizia a uma moça serena e de sorriso fácil que estava sentada ao seu lado: – Elisa, não sei o que estou fazendo aqui. Este lugar não vai trazer meu marido de volta e ainda todo esse falatório sobre perdão e amor... Esse povo aqui não sabe o que é sofrer, aposto que nunca tiveram uma desilusão. Elisa segurava a mão da amiga e lhe dizia: – Acalme-se Bete! Ouça e entenda como o perdão e amor a nós próprios é o caminho mais correto a seguir. Ainda assim, a amiga pouco lhe deu ouvidos e nem mesmo o passe magnético pôde ajudar aquela moça. Ao terminar o evangelho, João nos chamou para acompanhar e compreender o caso mais profundamente e, assim sendo, seguimos para a casa de Bete. Quando lá chegamos, o cenário era aterrorizador: as energias localizadas em seu campo vibracional se espalharam pela casa e espíritos maltrapilhos desfrutavam dessa energia. Bete continuava a reclamar com a amiga Elisa: – Marcos tem que pagar pelo mal que me fez! Perdi os melhores anos de minha adolescência com aquele infeliz, para ele agora se casar com outra. – Calma Bete, não podemos obrigar o outro a nada e, além do mais, isso já faz dois anos. Você precisa viver, sair para se divertir, arrumar outro namorado. – Você está louca, Elisa! Não quero ninguém! Eu sou do Marcos e ele é meu! – Amiga, está obsessão está te fazendo mal. Você se tornou uma pessoa amarga e deixou de viver sua vida. – E quem vive bem Elisa? Você? Com está historia de espiritismo, com seus trabalhos de caridade? Lógico que vive: você tem namorado! Eu não, eu fui abandonada. Nada pior na vida que ser abandonada, minha cara! A conversa continuava com Elisa tentando alerta a amiga para o problema, quando Humberto perguntou: – João, o que podemos fazer para ajudar este ser, que tanto sofre por amor? – Isso não é amor Humberto. Nossa irmã, infelizmente, se encontra doente. O verdadeiro amor, como ouvimos hoje, é puro e não nos faz sofrer. É livre e nos abre portas, é sábio e nos ensina a viver. É livre de todo o egoísmo, nossa irmã se encontra cega por uma obsessão: por achar que o outro é seu. Isso leva muitos encarnados a cometerem atos que lhe custarão muito mais, quando mais à frente despertarem para a verdade. – Mas, nós não podemos fazer nada quanto a isso? – perguntei. – Estamos fazendo, Ortêncio. Tudo o que é possível. Intuímos nossa irmã através de Elisa e assim a levamos à Casa Espírita. Porém, todos nós temos o livre-arbítrio e não podemos obrigar ninguém a nada. – Por que as energias benéficas do passe não conseguiram dissipar este campo vibracional em que Bete se encontra? – perguntou Humberto. Então, foi a vez de Felipe responder: – Simplesmente amigo porque nossa irmã não permitiu. De nada adiantará que nós queiramos ou nos esforcemos em ajudar um encarnado sem que ele próprio faça a sua parte. Foi o próprio Jesus quem falou: faça por onde que eu te ajudarei. Não foi? Por isso que toda cura ou toda doença começa pelo espírito, pela mente, e depois chega ao corpo físico. Muitos acham que indo à Casa Espírita, ou ao Centro de Umbanda e às igrejas em geral, enfim, que apenas por estarem no interior desses recintos serão curados. Mas, isso não acontece, evidentemente. É quando dizem, então, que a religião é ruim e/ou culpam os espíritos, os santos, os guias e até mesmo Deus, mas, se esqueceram de fazer sua parte. É a fé que cura. São suas próprias atitudes e sua vontade de melhorar. Os mentores intuíam Elisa, em seus conselhos à amiga, já que não conseguiam se aproximar de Bete, devido sua baixa vibração. Mas, depois do almoço, Bete ficou sozinha, pois sua amiga tinha outros afazeres. Logo após a amiga sair, Bete, inspirada por espíritos sem luz, pegou um cartão na bolsa e pensou: – Isso sim vai me trazer o Marcos de volta, não esta besteira de Jesus. Ela saiu e nós a acompanhamos, o rosto de seu mentor, que agora se juntara a nós, era de extrema preocupação,
Bete chegou ao endereço que constava no cartão: uma casa bonita, em cujo muro havia uma grande placa que dizia: Mãe Maria – Faz trabalho para o amor, ajuda em situação financeira e cura doenças. Bete ainda não tinha como saber, mas ter ido ali mudaria radicalmente seu destino...

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Página 40

Os questionamentos de Humberto eram comuns, mesmo entre os frequentadores daquela casa. Foi João Guiné que nos convidou a observar com mais atenção o entorno a fim de que nossos paradigmas fossem derrubados: – Olhem filhos – disse o sábio Preto Velho – Mas, olhem com atenção. Não com os olhos do coração, pois esse apesar de permitir um olhar importante, quando usado com excesso nos cega e nos mostra apenas aquilo que queremos ver. Por minutos ficamos calados, apenas observando o trabalho naquela casa: as energias multicoloridas que circulavam o trabalho dos enfermeiros. Eles carregavam macas ocupadas por pessoas que dormiam tranquilamente, e que eram levadas para um veiculo lá fora. Antes, no entanto, tais pessoas eram examinadas por um médico, que dizia qual tipo de tratamento já começaria a ser feito. O médico, um senhor alto, de cor branca e olhos verdes, possuía um sorriso amável e emanava uma energia acolhedora, ele dizia: – Levem este para a casa espírita, pois ele ainda precisa de algumas energias para seu tratamento. Este, o levem diretamente para o nosso hospital. E, assim por diante. Os médiuns no plano físico já estavam indo para seus lares. Depois, alguns ainda seriam convidados a voltar, durante o sono físico, para ajudar noutras tarefas na casa de caridade. Dos pontos de frutas eram ainda retiradas, por uma equipe de índios, suas energias, que ficavam armazenadas em tubos de ensaios e que eram classificadas de acordo com suas qualidades. Já das velas saiam luzes que protegiam o local, formando um centro de força. Apenas depois de toda essa nossa observação atenta, é que o Preto Velho voltou a falar: – É necessário que se observe o modo como a espiritualidade maior faz de tudo para que nenhuma energia se perca, fios. Olhando com muita calma, como os fios olharam agora, nota-se que cada coisa se encaixa perfeitamente ao seu lugar e nada nessa casa é absurdo, ou é? Após uma pequena pausa para pensarmos, Humberto perguntou: – Mas, o trabalho não poderia ser feito mesmo sem esses elementos? E ainda temos o fato dos médiuns fumarem charutos e usarem, ainda que em quantidade pequena, bebida alcoólica. Isso não prejudica o trabalho? Desta vez foi o guardião Felipe que respondeu: – Lembra-se quando Jesus estava no templo e os fariseus questionaram sobre o pagamento de impostos? Qual foi sua resposta? – Dê ao homem o que é do homem e a Deus o que é de Deus – disse Humberto. – Isso mesmo – disse Felipe – pela espiritualidade, o trabalho aqui ocorreria de qualquer forma, mas os homens precisam ainda desses elementos para conseguir manifestar sua fé. Então, o que fazemos? Utilizamos disso tudo, da melhor forma possível. Nas comidas do santo e nos pontos com frutas colocamos as melhores energias e as usamos na cura de enfermidades. Quantos já não foram curados, comendo essa comida sagrada para eles! Das ervas, tiramos energias que são canalizadas para quase todo tipo de problema. Agora, com relação aos cigarros e charutos transformamos suas fumaças em material de limpeza, usamos a essência de tudo quanto se usa tanto nesta casa quanto em outras. Evidentemente, a bebida vem sendo nosso maior desafio, muito embora utilizemos a essência dela para fins de limpeza, antes de ela ser ingerida pelo médium. Contudo, o que prejudica uma casa não é o uso que façam desses elementos – naturais na cultura dos homens e ainda necessários para que eles acreditem mais e/ou de alguma forma se aproximem dos orixás, guias e mentores – mas, sim, o elemento de exagero com que os administram, ou seja, ao fazerem a utilização de tais substâncias. Aliás, a cada dia que passa, as casas de Umbanda vão abrindo mão da simplicidade e desperdiçando alimentos, ou exagerando no consumo do álcool, e, com isso, se perdendo na vaidade. Nós, do lado de cá, a cada dia, trabalhamos para conscientizar os chefes de terreiro e médiuns sobre tais exageros de algumas casas. Desse modo, aos poucos, elas têm retirado dos seus ritos a bebida e diminuído suas oferendas, pois estão entendendo que esses elementos são apenas uma representação de seus orixás e de sua cultura e, desse modo, estão nos ajudando a melhorar a imagem dessa religião que tanto socorre ao próximo. Nesse momento, os olhos do guardião marejaram, pois essa tem sido uma luta constante e árdua por parte daqueles que trabalham do lado de cá do mundo. – João, o que acontece com a casa que exagera nesses procedimentos? – perguntou Humberto. João respirou fundo, olhou para o congar daquela casa, que ainda jorrava energia de amor sobre os que ali trabalhavam e com tristeza no olhar respondeu-lhe com a voz embargada: – Perdem-se, irmão, perdem-se na fé. Tornam-se escravos dos rituais e se esquecem que estão ali para serem servidores do bem e do amor de Oxalá e tornam-se servidores de si mesmo. Podem ser tudo, menos representantes legítimos das religiões afro criadas apenas para o bem maior. Porém, acho que é hora de irmos, pois vocês entenderão melhor vendo... Então, saímos daquela casa de amor e caridade.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Página 39

Após controlar minha emoção – o que não era nada fácil para mim – pude analisar e aprender com aquele lugar tão discriminado pela sociedade e que é transformado em “religião de pessoas ignorantes ou ruins”, pois, segundo o censo comum, “vão ali buscar o mal”. O que víamos, no entanto, era algo totalmente diferente. Tratava-se de um ambiente com uma energia acolhedora e que envolvia a todos, indistintamente. Índios e Pretos Velhos trabalhavam em harmonia e comandavam equipes de socorro tanto aos encarnados, quanto aos desencarnados, ou seja, a todos os que buscavam aquela casa. Naquela noite, a equipe de trabalho era a dos Índios, que fariam o atendimento e a assistência aos encarnados; os irmãos Pretos Velhos se encarregavam dos cuidados no plano espiritual e prestavam socorro aos espíritos que ali chegavam. Eu fiquei do lado de um médium, o qual atenderia com um índio de uma alta legião e muito respeitado no terreiro. O índio trajava um lindo penacho colorido que ia até os seus joelhos, estava vestindo uma roupa branca e ainda carregava um arco dourado amarrado em sua cintura. Algo que também me chamou a atenção: ele usava na cintura um cordão de São Francisco, como aqueles usados por padres franciscanos e que simboliza sua entrega ao trabalho. O médium que recebia sua influência era envolvido quase que por completo por sua energia. A ligação feita pela glândula mediúnica era multicolorida e continha uma força inexplicável. Logo se sentou em frente ao médium uma moça de quase trinta anos e que tinha um rosto bastante sofrido. Ao lado dela estava o nosso amigo Mário, bem como Adélia. – Ôxe, que a filha seja bem-vinda a nossa casa. – começou a falar o índio através do médium. – Ôxe, o que esse pode ajudar a filha? – Olha, irmão, eu queria ajuda. – disse a moça – É que, desde que perdi meu pai e minha mãe, nada dá certo na minha vida. Eles é que me ajudavam e agora estou sozinha nesse mundo. Perdi meu emprego, meu marido quer a separação, não sei mais o que fazer! – Lógico que tudo dá errado, ela abandonou o pai e deixou ele dormir no cemitério. Isso é castigo de Deus! – disse Mário. – Fique quieto homem! Só escute. – disse Adélia. – Ôxe, filha, como você perdeu aquilo que não era seu? A filha acha que as coisas que aconteceram em sua vida, que tudo isso se deu por causa da morte de vosso pai e de vossa mãe, mas esquece de sua responsabilidade. Eles cumpriram, filha, seu tempo na terra e, agora, precisam de paz para conseguir trabalhar no plano espiritual. Os vossos pais não eram pessoas boas, filhas? – Sim, irmão, eles trabalharam muito, me educaram com muito amor, nos deram princípios. – respondeu a moça. – E, então, o que a filha quer mais? Os pais não podem viver sua vida por você, filha. Eis que é hora da filha seguir sua caminhada, tomar o leme de sua vida e ir em busca de crescimento. Os vossos pais sempre estarão do vosso lado em espírito e nos exemplos que deram à filha. Envolvido pela energia dos irmãos que o cercavam e por outro médium que também se aproximara, Mário chorava copiosamente. Assim sendo, a equipe o ligou a esse médium e, como se dizia naquele terreiro, fizeram a puxada. Recebendo desse modo o choque anímico de que precisava para acordar para sua realidade. Uma maca foi colocada próxima de Mário que acabara de despertar para a realidade, uma vez que, normalmente, por esse tipo de técnica, o espírito recebe um choque e, consequentemente, dorme em seguida. Foi isso que aconteceu com Mário que agora seria socorrido e levado à colônia Recanto de Irmãos. – A filha, agora, tem que cuidá de si e trazê para si a responsabilidade dos seus atos e de sua vida – continuou o sábio índio – Não vai adiantá esse aqui, filha, dizer que vai ajudá, nem pedir pra filha acender vela ou fazer um descarrego, se a filha não se ajudá, não mudar a vibração e ainda continuá culpando a morte de vossos pais de trazer problemas pra filha. A moça também estava sendo acordada pelos conselhos do índio e luzes coloridas caiam sobre ela. A filha qué melhorá? – perguntou o índio. – Sim, meu irmão. – respondeu ela. – Então, a filha sempre vai encontrá nessa casa ajuda. Faça o evangelho ou venha aqui. Nessa casa tem evangelho. Ou em outra casa. Ore por vossos pais e mude as vibrações. Que Deus acompanhe a filha, viu? Eu estava impressionado com o trabalho ali realizado e com toda a organização. Os trabalhos estavam chegando ao fim no plano físico, mas nós continuaríamos ali, por algum tempo, aprendendo com os dirigentes da casa de Umbanda. Observamos, por exemplo, que as energias usadas no socorro e na ajuda aos desencarnados, comumente classificadas por muitos como primitivas, eram o que equilibrava as vibrações daquele local. Mas foi Humberto quem perguntou: – Como podem essas oferendas todas – as frutas, as velas e os charutos – ser usadas como material de cura?  João sorriu e disse: – Humberto, como não usar para o bem tudo que temos à mão? Porém, nenhuma folha cai de uma árvore sem que isso seja para a evolução. Venha! Nossa noite será longa, pois aprenderemos muito com nossos irmãos hoje...   

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Paginá 38

A casa era protegida por um campo de força de cor verde, que começava dentro do que imaginei ser um ponto para proteção. Logo depois desse ponto, sentado em um tronco de árvore, estava um homem alto, de pele morena e olhos escuros, vestido com uma calça preta e uma blusa vermelha. A sua direita se formava uma grande fila, com espíritos de todos os tipos, e que buscavam atendimento para suas dores. Alguns Espíritos, vestidos de branco e com pranchetas nas mãos, faziam um tipo de triagem e encaminhavam os casos de acordo com suas necessidades. Não pude deixar de notar que, assim como na casa espírita que nos abrigara, ali também era grande o esquema de segurança: formado por índios de lanças e que portavam, cada qual, seu arco e flechas. Nossa comitiva passara pelo campo de proteção sem dificuldades e José se dirigiu ao guardião da casa dizendo: – Laroê, Senhor Tranca Rua das Almas! Deus salve suas forças, irmão! O guardião lhe respondeu: Laroê, Sete Catacumbas, vejo que hoje você é acompanhado por novos amigos e estamos muito felizes em recebê-los em nossa humilde casa. A nossa saudação especial a você, velho Ortêncio. Muito nos orgulha reencontrar alguém que tanto fez por nossa religião e ver que ainda continua na luta. Eu agradeci respondendo: – Eu  me sinto privilegiado por ser lembrado por você, senhor guardião, e ainda mais com tanto carinho. Ele me olhou como se tentasse ler o meu perispírito e me disse: – É, velho amigo, muitas surpresas o aguardam ainda nessa sua caminhada e que apenas está começando. Mas tenha uma certeza, a de que se algum dia você precisar, basta bater o pé três vezes no chão, chamando por mim, e eu estarei lá para te ajudar, velho feiticeiro! – Obrigado – respondi, emocionado pela simplicidade e pelo amor daquele ser tão marginalizado pelas religiões, embora tão respeitado no plano invisível. Entramos no terreiro que acabara de recitar a Prece de Cáritas. Do lado físico, os filhos da Umbanda estavam todos de branco. Como do lado de fora, dentro também tudo era muito simples: o congá era enfeitado com luzes e flores e dali saía energias que banhavam aqueles filhos concentrados no bem. Muitos ainda não tinham noção de suas responsabilidades e, no momento da prece, seus miasmas se desfaziam em uma luz amarela; já outros emanavam luzes azuis do próprio coronário, banhando o restante dos irmãos desse modo, como se fosse uma chuva fraca. Eu não conseguia conter minha emoção e chorava como uma criança. João segurava a minha mão direita. Como sempre, Maria segurava a minha mão esquerda. Foi quando os atabaques começaram a tocar e soou um hino da Umbanda muito conhecido por mim, o Hino de Oxalá: Refletiu a luz divina, em todo seu esplendor. Vem do reino de oxalá onde há paz e amor. Luz que refletiu na terra, luz que refletiu no mar, luz que vem de Aruanda para tudo iluminar. A umbanda é paz e amor, é um mundo cheio de luz, é a força que nos dá vida e sua grandeza nos conduz. Avante, filhos de fé, como nossa lei não há, levando ao mundo inteiro a bandeira de Oxalá. Eu desabei de saudades, afinal, depois de 15 anos, eu ouvia o hino que foi a bandeira que carreguei em minha vida material. Luzes saiam de mim e alguns dos encarnados ali presentes, sentindo minha emoção, choravam com suas lembranças daquele terreiro dirigido pelo velho Ortêncio. Os desencarnados também eram contagiados por minha emoção: Henrique e João igualmente choravam, assim como Maria e, para minha surpresa, até mesmo o guardião Felipe, sempre tão sério e firme, se deixara envolver por aquela emoção que não era de tristeza, mas de amor. Amor pelo meu povo, pela Umbanda e pelos Orixás. Então, o som dos atabaques cessou. No plano espiritual, um soldado, vestindo uma capa verde, e que se encontrava ao lado do congá, veio em minha direção. Pena branca ajoelhou-se e começou a cantar: Ô dá licença, ô dono da casa, ô dá licença, amigo meu. Ô dá licença, Senhor Ogum, deixa eu vadiá, no terreiro seu. O soldado estendeu a mão ao Pena Branca que se levantou e o abraçou com carinho. Ele sorriu e disse-nos: Deus esteja com vocês! Sejam bem-vindos, mensageiros de Aruanda, a nossa casa de caridade.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Página 37

Após a saudação, todos se levantaram. José era um homem de uma energia que eu não saberia descrever apenas com palavras, apenas posso sintetizar o que senti como sendo uma energia de compaixão. Isso era o que realmente os olhos daquele guardião nos transmitiam. Eric foi quem o apresentou a nós. O guardião segurou minhas mãos e foi como se lesse meus pensamentos, pois me disse: – Isso mesmo Ortêncio, sou José em homenagem ao grande espírito do mesmo nome e que muito fez naquelas terras pagãs. Eu sorri e lhe disse: – Como você mesmo tenta fazer aqui, meu irmão. Afinal, nesse lugar é onde deixamos para trás nossos preconceitos religiosos e, na maioria das vezes, até o que a religião tem de bom fica para trás na terra dos mortos. – Apenas tento retribuir tudo aquilo que o alto me ofereceu e me oferece – respondeu o guardião. – Creio que o irmão sabe de nossa jornada – disse Eric – e que gostaríamos de sua permissão para relatar o que acontece aqui nesse local, amigo. – Admiro a coragem de vocês, amigos, pois sabemos que essa jornada, na opinião de alguns, é uma missão suicida. Porém, não posso negar um pedido tão magnífico e com um propósito tão elevado. – Nós agradecemos – disse Eric. – Como são coordenados os trabalhos por aqui? Espíritos de outras crenças não se assustam ao serem recebidos por vocês? – perguntou Humberto. – Trabalhamos por setores e em cada setor há uma equipe especializada. Assim, um espírita desencarnado é recebido por espíritas, um evangélico pela equipe evangélica e, assim por diante. Porém, melhor do que apenas ouvir a teoria é ver, na prática, como isso tudo acontece. Assim sendo, todos nós saímos da tenda, acompanhando o Senhor Sete Catacumbas. – Senhor Exu... – disse eu. Ele riu e me respondeu: – Apenas José, Ortêncio. Aqui eu sou apenas o coordenador da terra das saudades. – Então, porque o outro nome? – perguntou Humberto. – Um nome é só um nome, Humberto. Porém, como eu poderia me apresentar em uma casa espírita como Senhor Sete, ou em um terreiro, apenas como José. No mínimo, o médium seria questionado e, minha mensagem, que deveria ser o mais importante, seria colocada em segundo plano. O mais importante é a caridade e não quem a faz. Enquanto ouvíamos José, caminhávamos e logo estávamos diante do espírito que nos acompanhara até ali, sentado no túmulo da mulher e perdido em suas reclamações. Ele não percebia nossa presença e muito menos a da equipe que estava a sua volta. Acompanhava tal equipe sua mulher, uma senhora de riso fácil, pele branca e cabelos grisalhos e que estava em pé ao seu lado, lhe ministrando passes. Ela nos cumprimentou e exclamou: – Oh, José! Meu irmão, meu coração não vai mais aguentar ver meu velho Mário, assim. Já são 5 anos nesse sofrimento! José abraçou a linda senhora e lhe pediu que se acalmasse: – Adélia, hoje nosso amigo foi ao centro espírita e, assim sendo, quem sabe ele não enxergue um de nós. Oremos ao pai amado. – Meu marido sempre foi um homem bom, sempre me acompanhou ao centro e ouvia as palestras, mas ele não esperava que eu partisse primeiro e, assim, esqueceu de tudo que aprendeu! – Acontece minha amiga e com maior frequência do que imaginamos. Até nos preparamos para a morte, mas não para a separação momentânea que ela causa. – eu lhe disse, quase pegando no sono. Mário começou a fazer a oração da Ave Maria. Quando terminou, o homem quase morre novamente ao conseguir nos ver e, principalmente, por ver Adélia, que, então, correu para abraçá-lo. – Só posso estar sonhando! – disse ele. – Não, Mário. Eu estou aqui e esses são amigos queridos que vieram nos ajudar. – Ajudar no quê, mulher! Eu estou bem, apesar de nossos filhos terem me colocado para fora de casa. – O meu, véio! Nossos filhos cuidaram muito bem de você e nunca te abandonaram – disse-lhe ela. – E como você explica eu ter que vir dormir nesse lugar, mulher? – Você desencarnou Mário e se você olhar com atenção, verá que este não é apenas o túmulo do meu corpo físico, pois o seu também está aí dentro. Mário olhava com espanto, sem nada conseguir dizer. – Mário, lembra de quando íamos à casa espírita, juntos? De tudo o que lá aprendemos, o que eles diziam? – Que a morte não existe, mulher... Mas, então, fui em busca de uma carta sua, de notícias e aquele povo não quis escrever! – Não meu velho, eu é que não me encontrava em condições para isso. Fiquei muito abalada por ter que deixar você, meu véio! – Eu morri Adélia!? E nenhum de nós foi para o céu? – Acalme-se, meu véio, nós vamos te levar daqui para um lugar melhor. – Não! – gritou Mário – Eu quero uma prova de que isso é verdade, pois mais parece um sonho. Adélia olhava aflita para José, que nos orientou: – Pois, então, levem nosso irmão para ter sua prova. Para tanto, todos nós elevamos nossos pensamentos a pedido de José e, depois de uma prece, já estávamos diante de uma casa simples e para minha surpresa os tambores e os cânticos de Aruanda ecoavam de lá e enchiam a atmosfera de energia. Mário exclamou: – O que é isso Adélia? Agora tu viraste macumbeira..