terça-feira, 26 de agosto de 2014

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O principal salão daquele hospital tinha uma quantidade de portas incontáveis, cada uma delas levava a um local ou ala específica de tratamento, nosso irmão seria conduzido a uma ala em que estavam espíritos ainda ligados ao passado individual para que pudessem conseguir com tratamento adequado despertar para o presente e, consequentemente, para seu próprio futuro. Nossa comitiva ficou ali por alguns minutos esperando nosso guia, que logo terminaria sua tarefa e nos apresentaria o local. Enquanto isso, eu aproveitei para tirar dúvidas com nossos irmãos mais esclarecidos: – Por que a ligação entre o espírito e o médium que deu a comunicação não foi feita diretamente, João Guiné? – perguntei. – Infelizmente, Ortêncio, os encarnados ainda não estão preparados para certas situações que, embora sejam simples para nós, lhes trariam alguns prejuízos espirituais e mesmo físicos. O médium em geral, seja o espírita ou o espiritualista, já carregam suas mazelas e por sua falta de disciplina acumulam energias desnecessárias, durante o seu dia a dia, impedindo assim a ligação direta com a maioria dos espíritos. No caso de espíritos com um grau de elevação maior o contato mediúnico é mais fácil, pois tais espíritos podem baixar sua vibração e se conectar facilmente com o comunicante. Já os espíritos com uma vibração muito baixa precisam de condutores, pois a preocupação, nesse caso, fio, é de que o médium tenha um desgaste muito grande ao ter contato com tal energia. – Mas, vejo médiuns saírem desgastados, se dizendo carregados e pesados depois de alguns trabalhos, João. Mesmo depois de tomarem passes e estarem em ambiente de prece. Imagine, então, o que aconteceria se não tivessem esse auxílio! – disse Humberto. Porém, dessa vez, quem respondeu foi o guardião Felipe: –  Tudo isso amigo, é falta de preparo, de estudo sério e de educação mediúnica. E continuou dizendo: – Se os médiuns estudassem mais e mistificassem menos, saberiam que eles próprios poderiam fazer uma limpeza energética, em si mesmos, e que nenhum resquício ficaria, após o socorro aos irmãos possuidores de energias inferiores. Porém, é necessário lembrar que eles não trazem esses maus hábitos de hoje e, sim, vão criando isso em sua caminhada, quando esse tipo de atitude se fortalece pelo egoísmo e pelo “achismo”. – Mas, como combater esse mal hábito e começar a ter uma outra postura mediúnica? – perguntei. – Como eu disse, estudando a mediunidade, se dedicando ao trabalho sério e questionando, seriamente, os espíritos. Sendo todos mais disciplinados e buscando aprender sempre. A essa altura, se aproximou de nós uma senhora de cabelos brancos como algodão, de olhos azuis e com um sorriso largo do qual irradiava luz, e nos disse: – Sejam bem-vindos ao nosso hospital, meus irmãos. – disse-nos, com uma voz mansa e cheia de energia. – Meu nome é Luzia e conduzirei vocês com muito prazer pelo nosso hospital. Todos nós nos apresentamos, um a um. Maria, Henrique e João já conheciam a distinta senhora, que começou a caminhar e a falar: – Comecemos pela psiquiatria, por favor, amigos. Então, passamos por uma porta azul que dava para um jardim florido, de grama verde. Nele, havia bancos brancos e um parque com animais, tudo muito simples e bem cuidado. Ao fundo, havia uma casa grande, branca, de aparência colonial e, em seu jardim, encontravam-se alguns espíritos de branco, que, em um primeiro instante, logo identifiquei como sendo enfermeiros que auxiliavam e passeavam com os pacientes, esses últimos vestidos de verde. Passávamos lentamente para observarmos o tratamento dado aos que ali estavam: havia espíritos que conversavam sozinhos ou que faziam perguntas sem nexo, outros que riam ou choravam e mesmo alguns que se envergonhavam. O desequilíbrio mental era visivelmente avançado em alguns, muitos não tinham nem o conhecimento de seu atual estado. Com lágrimas nos olhos, Humberto foi o primeiro a falar: – Como chegaram a este estado, Luzia? E como é feito o tratamento a esses seres?  Alguns, amigos, chegam ao plano espiritual assim mesmo, mas a grande maioria não aguentou seu verdadeiro estado espiritual após o desencarne e tão somente se escondeu atrás do véu da loucura. Como a resposta dela foi surpreendente, perguntei espontaneamente: – Mas, eles ficaram loucos no além? Por qual motivo? – Sim, Ortêncio, eles ficaram loucos no plano espiritual. Alguns são pessoas que, apesar de terem levado uma vida religiosa, não sabiam o que era Deus. Outros são materialistas que não aguentaram o choque de terem de enfrentar a vida após o desencarne. Outros esperavam soluções para ou o término de suas dores e problemas e que se deparam com ambos do lado de cá da vida. Os motivos são inúmeros amigos, nosso trabalho aqui é a doação de amor, em meio mesmo a um choque de realidade. Assim, tentamos trazer esses filhos de Deus para a realidade e acordamos sua consciência do sono da ignorância. Os casos que vocês veem aqui são de simples a médios, em termos de grau de complexidade e comprometimento, os avançados ficam em uma área mais restrita. – Valei-me, meu Jesus! Tem ainda casos piores? – disse Humberto. – Sim, amigo, infelizmente, sim. Paramos em frente a um banco de praça, uma moça de aparência sofrida, com os olhos inchados e com grandes olheiras, embalava os braços vazios e cantava uma canção de ninar. – Olá, Fabiana, como vai? – perguntou-lhe Luzia. – Fiquem quietos, vão acordá-los! Está tão difícil para dormirem, pois eles não param de chorar de fome. Pois vocês não me deixam alimentá-los e, agora, meu leite materno até secou. Por favor, Luzia, me dê uma mamadeira para alimentar meus bebês! A cena me tocara, profundamente, pois como era triste o estado daquela moça! – Fabiana, agora precisamos cuidar de você, seus bebês já não estão mais aqui. Eles estão bem e logo você os reencontrará. Mas preciso de sua ajuda para que isso aconteça. – Lá vem você de novo com esta história! Não está vendo que eu os tenho em meus braços? Você não enxerga Luzia? – Sim, meu amor, eu enxergo. Então, um enfermeiro se aproximou e disse-lhe: – Fabiana, precisamos ir a um lugar especial, vamos? – Sim, me tire de perto dessa mulher, pois ela é cega ou se faz de cega. Assim, o enfermeiro levou Fabiana, mas não a tristeza que eu sentia por ver aquela moça nesse estado. Perguntei: – Ela está assim por estar longe dos filhos, irmã? – Não, Ortêncio, ela está assim por ter praticado inúmeros abortos quando estava encarnada. Seu companheiro também se encontra aqui, iremos conhecê-lo na área restrita. A seguir, entramos na casa muito limpa com uma aparência de instituição hospitalar. Seguimos por um corredor com celas magnéticas, com grades feitas de luz energética. Atrás delas, uma surpresa para mim: havia casas, carros, escritórios, igrejas, até centros espíritas e uma caverna. Quem criava cada um desses cenários era a força psíquica do espírito que estivesse ali enclausurado, na sua loucura. Paramos em frente à cela de número 46 e o que eu veria a seguir seria muito surpreendente para meus padrões religiosos...

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