terça-feira, 28 de outubro de 2014

Página 51

Saímos acompanhando o doutor Tomazine e nosso novo amigo, que aqui chamaremos apenas assim por um pedido seu, exclamou: – Hortência, estou no plano espiritual há pouco tempo e alguns ainda sofrem com minha ausência física. Acho que ainda não lhes faria bem saber muito mais sobre mim. Depois do pedido do amigo, seguimos pelos corredores que agora estavam vazios por completo. Seguíamos em silêncio, pois, a cada passo que dávamos rumo ao nosso destino, uma tristeza ia tomando conta de nossos corações. Enquanto isso, o ambiente foi mudando gradativamente e os corredores, antes de um branco alvo, preencheram-se de lindas cores e belos trabalhos artísticos nas paredes, esculturas conhecidas pelos homens na terra surgiam no trajeto e eram mais lindas vistas por aqui no plano espiritual. Aquela que mais me fascinava era uma imagem de piedade e compaixão: o corpo de Jesus, descido da cruz, no colo de Maria. No trajeto já começava o trabalho de socorro, pois tal imagem conhecida pelos homens na carne tinha ali um significado ainda mais transcendente, traduzindo aos nossos corações o excelso amor celeste. Uma grande porta de madeira entalhada encontrava-se ao fim do corredor, e, eu, a essa altura, já me esquecera que aquele ambiente tão lindo se tratava de um hospital. As portas se abriram e nos vimos em frente a uma bela e moderna vila em formato de U. As casas eram construídas em estilo colonial, todas brancas e com lindas varandas. Ao centro, havia um lindo jardim e o calçamento todo de pedras que brilhavam, reverberando a luz do sol. Lindos pássaros cantavam, enquanto cachorros passeavam entre as pessoas, que ou caminhavam, ou conversavam sob a sombra de uma árvore. Alguns, sentados em bancos, liam, outros aproveitavam para tirar um cochilo. Mas, o que neste paraíso me chamava atenção era o sentimento de tristeza que podíamos ali perceber: uma energia densa e que contagiava o local. Quase não se via sorrisos. Os poucos que ocorriam vinham, logo identifiquei, dos trabalhadores do local, que trajavam uniformes azuis-celestes e, descalços, caminhavam na companhia daqueles seres amargurados. Então, questionei aos nossos anfitriões acerca de onde nos encontrávamos. Foi Dr. Tomazine que me respondeu: – Mensageiro, essa é uma clínica para espíritos em depressão, irmãos doentes, que não aceitam sua realidade espiritual. Eles partiram do plano espiritual com a certeza de que cumpririam seu cronograma, mas se desviaram do caminho e, ao retornarem à casa do pai, se martirizam e sofrem pelo seu suposto fracasso. – E como vocês ajudam tais pessoas a voltarem para a realidade e em que tipo de situação esses irmãos chegam aqui? – perguntou Helena muito intrigada. – Helena – disse nosso amigo – aqui se encontram todos os tipos de espíritos, religiosos, cientistas, políticos, pessoas que teriam um papel de destaque em sua comunidade e que desperdiçaram seu desenvolvimento intelectual apenas consigo mesmos ou fizeram apenas metade do que planejaram e acharam pouco, esquecendo que o planeta terra é uma escola que muda, muitas vezes, nossas lições, conforme você vai traçando seus próprios caminhos. Esqueceram-se de que não houve desperdício reencarnatório, ou seja, que apenas tiveram que aprender outra coisa ou trilharam outros caminhos e que aqui voltam para planejarem-se, novamente, para retornarem, então, à escola, melhor preparados. O plano reencarnatório é de extrema importância, porém ele não é imutável. Qual lei diz que é impossível mudá-lo, durante a encarnação? Nenhuma. Pois apenas as leis de amor do Pai são imutáveis neste universo. Já o próprio universo não, ele muda constantemente. Assim sendo, tentamos trazer esses seres para essa realidade, o que não é um trabalho fácil. Aqui eles estudam, são tratados por meio de vários tipos de terapias, são levados a reuniões religiosas, no plano terrestre, e executam simples tarefas para que se ocupem com algo produtivo. Eu estava impressionado: quão complexo, afinal, era morrer e quantos mistérios a vida depois da vida ainda me reservaria! Caminhamos entre as pessoas, cumprimentando os funcionários do local, até pararmos diante de uma daquelas casinhas. Nosso amigo bateu na porta e uma linda moça de pele negra e olhos grandes a abriu. Ela revelou um sorriso que a deixou ainda mais linda e nos disse: – Bom dia, doutores! Sejam bem-vindos! E dando um pulinho abraçou com força nossos amigos. – Olá Mariana! Esses nosso amigos gostariam de conhecê-los. Pode ser? – perguntou o Dr. Tomazine. Ela nos analisou, envergonhada, e disse: – Sim, senhor. A porta se abriu e entramos em uma grande sala circular, com estantes de livros, lindas poltronas em volta de uma lareira. Havia ainda seis portas que dariam aos quartos particulares dos ocupantes daquela linda casa. Na parede acima da lareira, uma frase: “Deixem brilhar sua luz” – Pessoal, o doutor está aqui. – disse Mariana. Então, quatro das seis portas se abriram e de dentro saíram outros jovens da idade de Mariana. Das duas portas que se mantiveram fechadas uma, deduzi rapidamente, seria da jovem que nos recebera, a outra era a dos aposentos da personagem que nos surpreenderia com sua história. Depois de terem abraçado cada qual seu mentor, fomos apresentados. Marcos, Fernando, Felipe e Giovana eram os jovens espíritos que nos trariam grandes lições e encheriam nossos corações com lírios da esperança...

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