Não tínhamos muito tempo, pois nossa viagem às
terras umbralinas tinha data certa para começar, contudo, ainda ficaríamos na
Colônia Tupinambá por alguns dias, tempo suficiente para ficarmos cônscios de
nossas responsabilidades como emissários do Cristo Jesus. Assim sendo, nossos
dias foram de reuniões e de muito estudo de nossa equipe. Apenas João Guiné,
Maria, Felipe e Henrique, juntamente com os outros integrantes, tinham
participado de missões parecidas, somente eu e Humberto é que, apesar de nossa
participação em socorros variados, nunca tínhamos ido tão profundamente a essas
regiões escuras. Minha curiosidade e ansiedade afloravam e a cada dia só
aumentavam. Em uma dessas reuniões, o sábio Preto Velho nos explicara:
– Fios meus, é necessário que não se baixe a guarda em nenhum
momento nesse local, pois precisarão de poucos segundos para que alguns de
vocês, em poucos segundos, se encham de trevas. Usaremos roupagem pesada, quase
físicas, pois o local que iremos é alimentado por vícios carnais como o sexo, o
consumismo, o egoísmo, e, saibam, não há nada mais carnal que o egoísmo, fios,
isso é o que entrava encarnações e obscurece a alma do homem. – O irmão falou do sexo e eu lhe pergunto,
por que o homem se entrega a tal pecado tão facilmente? – disse Humberto. – Primeiramente
fio, quem disse que sexo é pecado? Já está na hora do fio esquecer os dogmas
religiosos e lembrar que, no universo do Pai Maior, as religiões são apenas
rótulos. Mas, respondendo à pergunta do fio, o sexo não pode ser visto como um
ato criminoso pois ele é de grande benefício ao homem, quando usado de maneira
correta, com amor, respeito e principalmente com paz no coração. Ele gera
energias magníficas que são quase um Big Bang energético. Ele se torna ruim
quando é desregrado, praticado sem amor e apenas por vício, fio, pois o ser
humano o pratica de forma mecânica para ser o alfa de sua espécie, esquecendo
para o que foi criado. – O
que o Pai Velho diz do consumismo? Como isso pode alimentar as esferas do mal? – perguntou
o índio Pena Branca. – Fio,
cada vez mais os seres se afastam da simplicidade e quanto mais têm mais
querem. Compram de tudo achando que o comprar é ter respeito e acabam se
apegando a coisas materiais ou a sentimentos perturbadores, pois consumimos
demasiadamente sentimentos desnecessários, como quando sentimos raiva do chefe
por ele estar cumprindo seu trabalho, a inveja do chefe religioso, a disputa
por cargos e status. Tudo isso, fios, gera energia e esta energia além de ficar
com os fios é emanada para o universo. Quando os fios colocam na cabeça que
querem algo e só pensam naquilo, esquecendo de todo o resto, ficam obcecados
por aquela ideia e isso gera um desgaste energético dos corpos físico e
espiritual dos fios, pois esse tal pensamento vai sugando as energias docês,
uma vez que ele precisa de uma fonte de energia para se alimentar. Isso que os
fios da terra começam a sentir os órgão responsável por filtrá energias, quando
começam a também sentir dores de cabeça com o desequilíbrio dos chacras...
Saibam que essas energias ruins todas são colhidas por irmãos contrários à causa
do Cristo e são levadas para alimentar cidades como estas que vamos visitar.
Quando vacilarem neste local, os principais pontos a serem atingidos serão
esses. – A quais sintomas precisamos ficar
atentos, Pai Velho? – mais
uma vez perguntou Humberto. – Fiquem atentos a vossas mentes, se
concentrem no trabalho e tentem doar o que tenham de bom dentro de si mesmos.
Muitas vezes, vemos médiuns de casas espirituais – e
quando digo espirituais incluo todas aquelas que se propõem a trabalhar com
espíritos –, quando saem de seus
trabalhos mediúnicos dizendo “Nossa, como meu mentor ou caboclo trabalhou hoje!
Estou cansado!” Isso ocorre, fios, por direcionarem mal seus pensamentos, pois
a reposição energética é praticamente instantânea, quando pensam no eu e pedem
pelo outro só através da boca e não do coração, desviam seus pensamentos em
momentos errados para si ou para o problema daquele mais próximo esquecendo de
auxiliar corretamente o assistido. Há muitos espíritas que veem para o socorro
e passam a maior parte do trabalho desperdiçando energia e dando trabalho aos
espíritos que ali vão em socorro do próximo. Então, aprendam a serem
disciplinados mentalmente, direcionem o seu melhor ao próximo, sem pensar na
recompensa, pois essa, fios, é consequência. Juntem mente e coração para
caminharem juntos, sendo o coração o sentimento e a mente a razão. Eles não
podem andar separados, pois se assim for, os filhos se perderão nos conflitos
criados por si mesmos e nada pior do que está perdido dentro da própria escuridão...
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
Página 57
Nossa estadia naquele local abençoado
não foi tão rápida como eu pensara e, após sairmos daquela que classifiquei
como a ala dos coletores, passamos por uma outra ala, onde nos energizamos
através de passes e nos alimentamos de um delicioso caldo. Então, fomos
encaminhados a uma sala rústica de chão batido e paredes de tijolos. Nesta sala
de reuniões havia uma mesa redonda e cadeiras, todas de madeira rústica. Para
minha grande surpresa já se encontravam sentados à mesa Ubirajara, da sétima de
Oxalá e Samuel, da sétima de Xangô, juntamente com Gabriel, da sétima de Exu e
com Iraci. Todos nos sorriram e nos cumprimentaram com grandes e calorosos
abraços. Logo após os afagos fraternos, Ubirajara começou a falar: – Filhos de Aruanda,
nossa visita a este local de socorro e amor não é apenas para matar as saudades
de vocês, viemos de nossa cidade expressar nossas preocupações e dar ordens
para uma nova direção em vossa viagem. A fala do índio era cautelosa, mas
transparecia sua preocupação. – O alto recomenda que vocês
visitem a cidade umbralina denominada Nova Geração, instalada em zona muito
densa, abaixo da terra, onde muitos de vocês nunca estiveram. Ocorre por lá uma
agitação ainda pequena, é verdade, mas que pode provocar muitos eventos catastróficos
para os encarnados. Irão em missão de paz. Aqueles que lá estão sentirão vossa
presença. Vossa missão é proporem a paz, evangelizando e levando o amor do Pai
àqueles que vivem na escuridão. João Guiné, que olhava apreensivo para a mesa,
parecendo concentrado em seus desenhos, levantou o olhar calmamente e
disse: – Amigo Ubirajara, não estou me colocando contra o que o alto nos pede, mas
me pergunto: por que mandar uma equipe ainda em treinamento para tal zona
umbralina? Por dois motivos, Pai Velho – disse a voz de Samuel, que de
tão grave parecia que derrubaria as paredes. A mim, que tinha visto Samuel
apenas uma vez no campo do esclarecimento, ele parecia bem maior de
perto. – O primeiro deles é que vocês conseguirão entrar e sair com mais facilidade,
pois os dragões olharão com desprezo para um grupo não tão bem treinado, o
segundo é para que o repórter de Aruanda possa relatar posteriormente aos
viventes aquilo que vir, o que consideramos muito importante. O Preto Velho
sorriu e disse: – Que nosso Pai Oxalá nos acompanhe. Henrique se levantou e
perguntou: – E qual será nossa estratégia para uma missão como essa? Gabriel, que
como sempre usava o branco habitual (custava acreditar que ele era chefe dos
guardiões), respondeu: – Já que os vi de forma tão errônea em minha última
passagem pela terra, vocês receberão veículos mais modernos que os deixarão
quase invisíveis aos olhos dos generais da cidade. Retirarão de lá apenas
aqueles que lhes forem permitido retirar, bem como os que vierem de boa vontade.
Nada mais que isso. Os termos devem ser negociados com o general Estácio, que é
quem encontrarão. Para terem mais liberdade no trabalho, levem consigo
equipamentos, água em abundância e... Nesse momento, um ser abriu a porta, todo
vestido de azul, portanto uma cruz branca no peito. Era uma linda senhora de
cabelos brancos, olhos verdes, e que com um sorriso esplendoroso nos saudou,
dizendo: – Que a luz do Mestre redentor ilumine nossos corações e que o manto da
mensageira da paz nos proteja com amor e carinho. Gabriel, abraçando-a: – A equipe de
socorro de Maria de Nazaré, liderada por nossa irmã Glória. Eu já ouvira falar
dos socorristas de Maria, mas nunca imaginara que as energias emanadas por essa
equipe de socorro fosse tão iluminada. Todo aquele que está na luta do bem,
socorrendo seus irmãos, Mensageiro, está sob as ordens de nossa general Maria.
Um nome é só um nome, pois todas as missões de socorro passam pelo departamento
desse espírito iluminado. Sei que muitos questionamentos passam por sua cabeça
e a um deles respondo nesse momento: para o Cristo Jesus, tudo e todos
desse planeta são espíritos importantes na caminhada da evolução. Ele não se
importa a respeito de que recursos seus aliados irão usar para essa finalidade,
se irão se valer do auxílio de índios, pretos velhos, de irmãos católicos, ou
do trabalho de germânicos, asiáticos ou africanos. Aos olhos de espíritos como
o de Jesus e de tantos outros, espírito é espirito e nenhum, seja lá qual for,
ficara sem ajuda de Deus todo poderoso. Eu me encontrava entre lágrimas, por
vários motivos, um deles era em função do meu preconceito e que mais uma vez
caíra por terra, pois Maria mandara seu brasão para trabalhar com o povo de
Aruanda e isso me ensinara muito, sobretudo de que um nome é apenas um nome e
nada mais...
domingo, 8 de fevereiro de 2015
Página 56
Dirigimo-nos
a uma outra oca e novamente estávamos em um ambiente hospitalar, portanto, em
um lugar organizado e silencioso. Apesar da simplicidade do local, a tecnologia
podia ser vista por todos os lados, ali quase não se usava papel, pois todas as
informações eram passadas ou via pensamentos ou por meio de computadores
portáteis. Aliás, era quase hipnotizador ver as energias correrem pela sala em
ondas magnéticas, quando “fios” coloridos nos atravessavam a todo momento, cada
qual em busca de seu destino. Caminhamos por um corredor e atravessamos uma
grande porta, dentro, supervisionados por alguns desencarnados, encontravam-se
em camas hospitalares espíritos que ainda eram vivos no plano material e,
somente então compreendi o que a irmã me dissera, de que veríamos algo
realmente triste. Iraci olhou-me e disse: – Isso é mais comum do que se imagina,
amigo. Sim, mais triste do que um espírito desencarnado em estado de sofrimento
é um espírito em sofrimento e ainda encarnado. Naquela espécie de enfermaria,
víamos enfermidades de todos os tipos. Um homem alto, trajando o tradicional
jaleco daquela cidade, aparentando ser de origem indígena, com cabelos negros
que iam até a cintura e que estavam amarrados em um rabo de cavalo, veio ao
nosso encontro. Ele nos sorriu e Iraci fez as apresentações: – Esse
é nosso irmão Ricardo, responsável por esse setor. – Sejam
bem-vindos, povo de Aruanda, e que Deus nosso pai os abençoe. – Que
o fio seja abençoado junto conosco. –disse
João Guiné – O fio
pode nos explicar o que se faz neste local e qual seu trabalho aqui? – Neste
local, João, cuidamos de espíritos encarnados que, por suas condições,
desenvolveram em seus corpos físicos doenças, desejos e atitudes desnecessárias
na sua atual encarnação. Nem todos que estão aqui estão com
o perispírito doente. Em sua maioria, tratamos de espíritos que se
encontram em um alto grau de depressão e que recebem, através da
sonoterapia e de outros tratamentos psicológicos, auxílio para retornarem aos
seus corpos melhores do que quando aqui chegaram. Aquilo tudo ia me deixando
com dúvidas e, percebendo isso, Ricardo disse-me, sorrindo: – Isso
lhe parece estranho, mensageiro? Eu respondi afirmativamente com a cabeça e ele
continuou: – Tais espíritos
que aqui se encontram no momento dormindo, eles estariam agora em zonas
umbralinas e seriam usados por forças contrárias ao cordeiro. Em sua maioria,
são religiosos e cientistas de grande influência no plano terreno. A verdade é
que uma minoria de autoridades, enquanto dormem, recebem orientações benéficas,
estudam ou são ajudados em decisões. – Mas por que isso é feito com os
espíritos, assim, “inocentemente”, eles não receberiam melhor tais informações
se estivessem acordados? – perguntou o guardião Felipe, o que me
surpreendeu bastante já que ele quase nunca questionava. – Tais
espíritos são muito espiritualizados dentro de suas doutrinas, o que dificulta
o contato direto, pois cada um deles deveria ser levado a colônias específicas
para isso e, no caso, a logística nos faria perder algum tempo com viagens
astrais nos meios de transporte próprios aos encarnados. De pronto perguntei: – Mas
o espírito não se locomove com a velocidade do pensamento? Por que vocês têm
essa dificuldade? – Mensageiro, como você está viajando
pelo astral? – perguntou-me o médico. – Dentro
de um veículo. – respondi. – Se
esta viagem fosse feita somente por você e apenas mais um membro de sua equipe,
esse meio de transporte seria necessário? – Acredito que não. –respondi mais uma vez. – Pois
bem, ele é necessário pela quantidade de espíritos a serem transportados em
conjunto, mas também pelo fato de que se não fosse o veículo o seu pensamento
te levaria aonde o seu coração quisesse e não necessariamente o seu cérebro
ordenasse. Só viajam com tamanha independência espíritos com grande equilíbrio
e capacidade de concentração e que, portanto, não perdem o foco do seu caminho,
bem como não se perdem uns dos outros. Estes que aqui se encontram têm ainda um
agravante: estão ligados ao seu corpo físico o que deixa a viagem e seus
espíritos mais pesados, por assim dizer, devido às energias acumuladas no dia a
dia. São trazidos aqui todas as noites por uma equipe que chamamos de
coletores, eles são responsáveis pelo transporte de espíritos que necessitam
desse tratamento. Normalmente passam por uma triagem e são levados a cidades
próximas de suas residências carnais. – Por quanto tempo eles passam por esse
tratamento? – perguntou Humberto. – Isso
é relativo, irmão. Alguns por muito tempo até que cada um crie consciência de suas
responsabilidades e por si só lute contra a ignorância carnal e se direcione em
sua missão corretamente. – E se
isso não acontecer? – pensei. Tendo ouvido meu pensamento
ele me disse: – Não interferimos na lei do
livre-arbítrio, mensageiro. Depois de algum tempo e de muito estudo, liberamos
o espírito para que ele tome suas próprias decisões e, se ele escolher o
caminho mais difícil, apenas oramos para que sua queda não seja tão dura. – Então,
nenhum espírito passa por este tratamento mais de uma vez? E, então, ele
foi incisivo: – Não na mesma encanação...
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Página 55
Acordei em uma confortável cama, em um lugar
que me pareceu uma enfermaria comum, com vários leitos, todos forrados de
lençóis brancos, na qual enfermeiros andavam de um lado para o outro, ou seja,
em um cenário corriqueiro no plano espiritual. Em um canto, um grupo conversava
ao lado da minha cama. Ao despertar completamente, percebi que se tratava dos
meus amigos, acompanhados por uma linda senhora de longos cabelos negros e de
olhos castanhos. Ela estava de branco e usava ainda um avental verde escuro,
que trazia na altura do peito o desenho de um penacho colorido e a inscrição
Casa de Misericórdia Tupinambá. João sorriu e disse-me: – Seja
bem-vindo, fio. Como se sente? Eu não poderia saber como responder a essa
pergunta, pois naquele momento ainda estava meio enjoado, como se tivesse
comido algo estragado. A senhora sorriu para mim e me disse: – Ortêncio,
isso é mais comum do que se imagina, o que te fez mal não foi a sua
invigilância, mas sim as energias densas desse território. Apesar de você já
ter passado algum tempo em locais com energias parecidas, destas nunca chegara
tão perto, ou seja, de tão grande força do mal. Ela falava com uma propriedade
da minha pessoa, que chegou a me assustar. –
Desculpe-me, pela minha falta de educação, amigo, eu sou Iraci, médica desse
centro de misericórdia. Seja bem-vindo. Eu me levantei ainda tonto e a abracei
carinhosamente, o que por si só me fez reaver minhas forças. – Por que esta energia? – perguntei. – Estamos em uma zona umbralina em
meio a uma conhecida zona de mata no território brasileiro e que aqui se
instalou há mais ou menos 400 anos, quando os Bandeirantes e alguns religiosos
faziam suas expedições. As energias de rancor, ódio e tantos sentimentos
nefastos resultantes dos conflitos de então criaram esse local no astral. Ela
me indicou a porta e saímos. Um dia cinzento se fazia dentro dos portões
daquele local. Várias ocas, enormes, como aquela em que eu estivera, feitas de
barro por fora e de teto de palha, davam-me a impressão de estarmos em meio a
uma tribo indígena. Cerca de dez transportes como o nosso e que circulavam por
ali, contrastavam com o aspecto rudimentar daquele local tão inusitado.
Contudo, apesar da grande quantidade de indígenas no local, ali também se
encontravam pessoas de várias etnias. Então, uma sirene soou e os portões se
abriram. – Acompanhem-me, amigos,
vocês terão a oportunidade de conhecer o nosso humilde trabalho – disse
Iraci. Sorrindo para João, completou: –
Lógico, para os que ainda não o conhecem. Um transporte verde entrara pelos
portões e uma correria organizada começou a acontecer. Um homem alto, moreno de
olhos cinzas, dava ordens com sua voz grave: –
Equipe de traumas de 1 a 3 se preparem, traumas psicológicos e danos morais a
minha esquerda, setor de memórias, vocês serão os últimos a sair. Equipe de
limpeza: estejam a postos, não podemos perder tempo. Quando as várias portas do
transporte se abriram, eu achei que estava em um campo de batalha medieval,
pois seres de todos os tipos e apresentando inúmeras deformidades foram
encaminhados às equipes. Seguiríamos uma em especial, com a se encontrava uma
bonita moça branca, de cabelos loiros e que naquele momento encontrava-se
maltrapilha e tendo as mãos em carne viva e seu corpo cheio de feridas. A equipe
de limpeza usava máscaras e uma roupa parecida com as de grupos que combatem
doenças contagiosas, nós também tivemos que colocar o traje para acompanhar o
processo. Após a moça ter sido deitada em uma maca, a equipe saiu em disparada
na direção de uma oca localizada na direção sul da tribo. Então, entramos em um
laboratório dos mais modernos e a moça foi colocada em uma esteira que se movia
lentamente. Na primeira etapa, ela passava dentro de um enorme tubo de vidro e
recebia jatos de energia colorida que lhe atingiam a fim de limpar seu corpo
perispiritual. Ao sair do outro lado, estavam visíveis agora os insetos
almáticos que tinham se alojado em todas as partes de seu corpo, mas se
concentrando sobretudo em seu umbigo e nas genitais. Os vermes pareciam se
alimentar daquela pobre coitada. O segundo passo era formado por uma estrutura
metálica que disparara raios elétricos e assim retiravam os vermes, que caíam
ao contato com tal energia. Essa segunda etapa demorou um pouco mais e, à
medida que isso era feito, a enferma se contorcia e soltava gritos que doíam em
minha alma. Logo após, assistimos à última etapa: de cada lado da esteira,
mantinham-se três pessoas em pé e que estenderam suas mãos sobre o corpo da
moça, propiciando aplicações magnéticas. Desse modo, as vestes dela foram
mudando para roupas hospitalares e sua fisionomia serenando, bem como os
hematomas foram se fechando e seu corpo perispiritual se reconstituindo. Quando
todo o processo terminou, sua maca foi retirada da esteira e levada a um outro
setor, o qual me pareceu tratar-se de uma UTI. Então, ela foi colocada em uma
cama e aparelhos foram ligados ao seu corpo. Os enfermeiros se retiraram e
ficamos sós naquele centro de tratamento. Tanto eu quanto alguns dos ali
presentes nunca havíamos presenciado semelhante ação, mas foi Humberto quem fez
a primeira pergunta: – Ao que exatamente acabamos de presenciar,
Iraci? Ela sorriu e disse ao irmão evangélico: – Presenciamos a misericórdia do Pai,
nesse centro de higienização. Fizemos em apenas alguns minutos todo um processo
que demoraria muito se dependesse só do enfermo. Na primeira etapa, localizamos
o problema, com uma dose de energia moderada, como se fosse um raio x em tempo
real, na segunda, eliminamos através de doses de energia de cura, e que
canalizamos do plano material, e, na terceira, reequilibramos a energia vital. – Mas isso não interfere nas leis
naturais? – questionei a irmã. – O que
fazemos aqui Ortêncio é tão somente amenizar a dor desses seres que já sofreram
tanto e que sozinhos não conseguiriam sair do abismo criado por suas mentes e
atos. Eles não estão livres de seus traumas e dores, alguns demoram dias, meses
ou anos para acordar depois desse processo. Imagine então o que aconteceria sem
tal assistência. Aqui se pratica a maior lei do Pai, o Amor. Nossos irmãos têm
pela frente uma grande batalha. Responderam à sua consciência pelos seus atos,
terão que aprender a respeitar o corpo e a equilibrar as energias para não
voltarem ao mesmo estado. – E mesmo depois desse trabalho podem
voltar a se intoxicar mentalmente? – perguntou Humberto. – Sim, irmão, a mente humana necessita
de exercício constante e de disciplina e essa responsabilidade aumenta ainda
mais após a morte do corpo físico, pois tudo do lado de cá é mental e, se você
não aprende isso, acaba infelizmente no pior abismo que existe, aquele criado
pela própria criatura e que se torna por fim sua própria prisão. Dito isso,
Iraci nos convidou para conhecer o setor de traumas e perguntei: – Há coisas
piores que isso? Indicando-me outra oca, ela sorriu tristemente e me disse: – Infelizmente Ortêncio. Veja você
mesmo...
domingo, 1 de fevereiro de 2015
Página 54
Helena era um ser muito caro de nossa
equipe e depois da partida de nosso veículo alguns de nós, incluindo a mim,
ficamos um pouco tristes com a sua decisão de permanecer naquela Colônia. Foi
Maria quem nos chamou a atenção: – Caros amigos, por que a tristeza, se Helena
tomou uma linda decisão e com isso nos ensina que uns dos principais passos a
nossa evolução é o desapego a tudo que possa nos atrapalhar ou nos impedir de
seguir em frente? Nossa irmã decidir-se por ficar para ganhar conhecimento pode
estar sendo visto, por alguns de vocês, como se fora um ato de egoísmo da parte
dela, mas, ao contrário disso, Helena venceu seu apego aos títulos, ao amor
egoísta, e se dispõe, em nome do Pai maior, a recomeçar. E, qual de nós
sentimos o chamado em nossos corações, além de Helena? Qual de nós enfrentamos
nossos egos, em nome do próximo e de algo maior? Nada é nosso e aquele
que desejar alcançar o reino dos céus que dê tudo o que tem, se desfaça de suas
riquezas e siga o chamado do Mestre Jesus. Para variar, fiquei mais uma vez
envergonhado com meu egoísmo e, só então, vi que se não fosse pela explicação
de Maria, eu perderia uma lição muito grande. – Meus fio, a caminhada é longa e
muito teremos que deixar para trás e teremos mesmo que abrir mão de muito e isso
não por que somos fracos, pois fracos são os que querem carregar tudo e todos
consigo. Somos como as ondas do mar sagrado que vão e vêm, deixando o que é
preciso abandonar e só levando consigo para o oceano o necessário – disse o
Preto Velho João Guiné com um lindo sorriso – Fios, quantas encarnações os fios
já tiveram? Muitos dos companheiros dos fios já estão à frente dos fios na
escala evolutiva e outros, infelizmente, ficaram para trás, mas o amor e as
lição que estes aprenderam com os espíritos, que Deus coloca nos vossos
caminhos, está com os fios e isso sim é o que conta, pois do que adianta está
junto e está sozinho, vazio e triste. Pois assim seria a vida de Helena, se não
tivesse ficado com nossos amigos, seu corpo perispiritual estaria em Aruanda,
mas seu coração não. Com sua decisão, ela levou Aruanda para dentro de si e a
terá sempre. Dito isso, nossa conversa correu com alegria e com entusiasmo:
sorríamos e contávamos de nossos tempos na terra. Isso nos enchia de alegria,
pois, diferentemente do que muitos pensam, nós também temos nossos momentos de
descontração. Ser espírito desencarnado é ser fonte de vida, luz e alegria,
como gosta de nos falar Ubirajara da 7a Legião de Oxalá, e foi assim que
passamos a noite, dentro do veículo de transporte que vencia a escuridão com a
velocidade do pensamento. Enquanto conversávamos, alguns guardiões ficavam em
alerta. Felipe, ao nascer do sol, chamou nossa atenção para um fato que até
então me passara despercebido. Entráramos em zona de mata fechada e passávamos
próximo de montanhas frias e, conforme o veículo avançava mata adentro, tudo ia
ficando frio e ganhando uma cor esmaecida, as folhas antes verdes e reluzentes
agora estavam enegrecidas, uma neblina baixara e quase nada conseguíamos
enxergar. Já o veiculo, que parecia ter vida própria, desviava com maestria de
árvores, que pela aparência deviam estar ali há séculos. Diminuímos a
velocidade e vultos tornaram-se visíveis a nós, sentíamos a energia pesada que
emanavam e que também começavam a interferir em nossos pensamentos: eu começara
a ouvir gritos de agonia dentro de minha mente. Henrique segurou minhas mãos,
enquanto dizia: – Sua mente, Pai, é a sua fortaleza, concentre-se no bem que
veio fazer e vigiai e orai ao Pai maior. Então, uma imensa muralha de madeira
se formou diante de nós e, antes de desmaiar, eu pude ver os índios que abriam
o portão daquele Centro de Socorro, que muito me surpreenderia...
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