quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

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Acordei em uma confortável cama, em um lugar que me pareceu uma enfermaria comum, com vários leitos, todos forrados de lençóis brancos, na qual enfermeiros andavam de um lado para o outro, ou seja, em um cenário corriqueiro no plano espiritual. Em um canto, um grupo conversava ao lado da minha cama. Ao despertar completamente, percebi que se tratava dos meus amigos, acompanhados por uma linda senhora de longos cabelos negros e de olhos castanhos. Ela estava de branco e usava ainda um avental verde escuro, que trazia na altura do peito o desenho de um penacho colorido e a inscrição Casa de Misericórdia Tupinambá. João sorriu e disse-me:  Seja bem-vindo, fio. Como se sente? Eu não poderia saber como responder a essa pergunta, pois naquele momento ainda estava meio enjoado, como se tivesse comido algo estragado. A senhora sorriu para mim e me disse:  Ortêncio, isso é mais comum do que se imagina, o que te fez mal não foi a sua invigilância, mas sim as energias densas desse território. Apesar de você já ter passado algum tempo em locais com energias parecidas, destas nunca chegara tão perto, ou seja, de tão grande força do mal. Ela falava com uma propriedade da minha pessoa, que chegou a me assustar. – Desculpe-me, pela minha falta de educação, amigo, eu sou Iraci, médica desse centro de misericórdia. Seja bem-vindo. Eu me levantei ainda tonto e a abracei carinhosamente, o que por si só me fez reaver minhas forças. – Por que esta energia?  perguntei. – Estamos em uma zona umbralina em meio a uma conhecida zona de mata no território brasileiro e que aqui se instalou há mais ou menos 400 anos, quando os Bandeirantes e alguns religiosos faziam suas expedições. As energias de rancor, ódio e tantos sentimentos nefastos resultantes dos conflitos de então criaram esse local no astral. Ela me indicou a porta e saímos. Um dia cinzento se fazia dentro dos portões daquele local. Várias ocas, enormes, como aquela em que eu estivera, feitas de barro por fora e de teto de palha, davam-me a impressão de estarmos em meio a uma tribo indígena. Cerca de dez transportes como o nosso e que circulavam por ali, contrastavam com o aspecto rudimentar daquele local tão inusitado. Contudo, apesar da grande quantidade de indígenas no local, ali também se encontravam pessoas de várias etnias. Então, uma sirene soou e os portões se abriram. – Acompanhem-me, amigos, vocês terão a oportunidade de conhecer o nosso humilde trabalho  disse Iraci. Sorrindo para João, completou: – Lógico, para os que ainda não o conhecem. Um transporte verde entrara pelos portões e uma correria organizada começou a acontecer. Um homem alto, moreno de olhos cinzas, dava ordens com sua voz grave: – Equipe de traumas de 1 a 3 se preparem, traumas psicológicos e danos morais a minha esquerda, setor de memórias, vocês serão os últimos a sair. Equipe de limpeza: estejam a postos, não podemos perder tempo. Quando as várias portas do transporte se abriram, eu achei que estava em um campo de batalha medieval, pois seres de todos os tipos e apresentando inúmeras deformidades foram encaminhados às equipes. Seguiríamos uma em especial, com a se encontrava uma bonita moça branca, de cabelos loiros e que naquele momento encontrava-se maltrapilha e tendo as mãos em carne viva e seu corpo cheio de feridas. A equipe de limpeza usava máscaras e uma roupa parecida com as de grupos que combatem doenças contagiosas, nós também tivemos que colocar o traje para acompanhar o processo. Após a moça ter sido deitada em uma maca, a equipe saiu em disparada na direção de uma oca localizada na direção sul da tribo. Então, entramos em um laboratório dos mais modernos e a moça foi colocada em uma esteira que se movia lentamente. Na primeira etapa, ela passava dentro de um enorme tubo de vidro e recebia jatos de energia colorida que lhe atingiam a fim de limpar seu corpo perispiritual. Ao sair do outro lado, estavam visíveis agora os insetos almáticos que tinham se alojado em todas as partes de seu corpo, mas se concentrando sobretudo em seu umbigo e nas genitais. Os vermes pareciam se alimentar daquela pobre coitada. O segundo passo era formado por uma estrutura metálica que disparara raios elétricos e assim retiravam os vermes, que caíam ao contato com tal energia. Essa segunda etapa demorou um pouco mais e, à medida que isso era feito, a enferma se contorcia e soltava gritos que doíam em minha alma. Logo após, assistimos à última etapa: de cada lado da esteira, mantinham-se três pessoas em pé e que estenderam suas mãos sobre o corpo da moça, propiciando aplicações magnéticas. Desse modo, as vestes dela foram mudando para roupas hospitalares e sua fisionomia serenando, bem como os hematomas foram se fechando e seu corpo perispiritual se reconstituindo. Quando todo o processo terminou, sua maca foi retirada da esteira e levada a um outro setor, o qual me pareceu tratar-se de uma UTI. Então, ela foi colocada em uma cama e aparelhos foram ligados ao seu corpo. Os enfermeiros se retiraram e ficamos sós naquele centro de tratamento. Tanto eu quanto alguns dos ali presentes nunca havíamos presenciado semelhante ação, mas foi Humberto quem fez a primeira pergunta: – Ao que exatamente acabamos de presenciar, Iraci? Ela sorriu e disse ao irmão evangélico: – Presenciamos a misericórdia do Pai, nesse centro de higienização. Fizemos em apenas alguns minutos todo um processo que demoraria muito se dependesse só do enfermo. Na primeira etapa, localizamos o problema, com uma dose de energia moderada, como se fosse um raio x em tempo real, na segunda, eliminamos através de doses de energia de cura, e que canalizamos do plano material, e, na terceira, reequilibramos a energia vital. – Mas isso não interfere nas leis naturais?  questionei a irmã. – O que fazemos aqui Ortêncio é tão somente amenizar a dor desses seres que já sofreram tanto e que sozinhos não conseguiriam sair do abismo criado por suas mentes e atos. Eles não estão livres de seus traumas e dores, alguns demoram dias, meses ou anos para acordar depois desse processo. Imagine então o que aconteceria sem tal assistência. Aqui se pratica a maior lei do Pai, o Amor. Nossos irmãos têm pela frente uma grande batalha. Responderam à sua consciência pelos seus atos, terão que aprender a respeitar o corpo e a equilibrar as energias para não voltarem ao mesmo estado.  E mesmo depois desse trabalho podem voltar a se intoxicar mentalmente?  perguntou Humberto. – Sim, irmão, a mente humana necessita de exercício constante e de disciplina e essa responsabilidade aumenta ainda mais após a morte do corpo físico, pois tudo do lado de cá é mental e, se você não aprende isso, acaba infelizmente no pior abismo que existe, aquele criado pela própria criatura e que se torna por fim sua própria prisão. Dito isso, Iraci nos convidou para conhecer o setor de traumas e perguntei: – Há coisas piores que isso? Indicando-me outra oca, ela sorriu tristemente e me disse: – Infelizmente Ortêncio. Veja você mesmo...   

Um comentário:

  1. Nos esquecemos de que os pensamentos são energias, e que nos ligam as companhias de acordo com as mesmas vibrações.

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