Acordei em uma confortável cama, em um lugar
que me pareceu uma enfermaria comum, com vários leitos, todos forrados de
lençóis brancos, na qual enfermeiros andavam de um lado para o outro, ou seja,
em um cenário corriqueiro no plano espiritual. Em um canto, um grupo conversava
ao lado da minha cama. Ao despertar completamente, percebi que se tratava dos
meus amigos, acompanhados por uma linda senhora de longos cabelos negros e de
olhos castanhos. Ela estava de branco e usava ainda um avental verde escuro,
que trazia na altura do peito o desenho de um penacho colorido e a inscrição
Casa de Misericórdia Tupinambá. João sorriu e disse-me: – Seja
bem-vindo, fio. Como se sente? Eu não poderia saber como responder a essa
pergunta, pois naquele momento ainda estava meio enjoado, como se tivesse
comido algo estragado. A senhora sorriu para mim e me disse: – Ortêncio,
isso é mais comum do que se imagina, o que te fez mal não foi a sua
invigilância, mas sim as energias densas desse território. Apesar de você já
ter passado algum tempo em locais com energias parecidas, destas nunca chegara
tão perto, ou seja, de tão grande força do mal. Ela falava com uma propriedade
da minha pessoa, que chegou a me assustar. –
Desculpe-me, pela minha falta de educação, amigo, eu sou Iraci, médica desse
centro de misericórdia. Seja bem-vindo. Eu me levantei ainda tonto e a abracei
carinhosamente, o que por si só me fez reaver minhas forças. – Por que esta energia? – perguntei. – Estamos em uma zona umbralina em
meio a uma conhecida zona de mata no território brasileiro e que aqui se
instalou há mais ou menos 400 anos, quando os Bandeirantes e alguns religiosos
faziam suas expedições. As energias de rancor, ódio e tantos sentimentos
nefastos resultantes dos conflitos de então criaram esse local no astral. Ela
me indicou a porta e saímos. Um dia cinzento se fazia dentro dos portões
daquele local. Várias ocas, enormes, como aquela em que eu estivera, feitas de
barro por fora e de teto de palha, davam-me a impressão de estarmos em meio a
uma tribo indígena. Cerca de dez transportes como o nosso e que circulavam por
ali, contrastavam com o aspecto rudimentar daquele local tão inusitado.
Contudo, apesar da grande quantidade de indígenas no local, ali também se
encontravam pessoas de várias etnias. Então, uma sirene soou e os portões se
abriram. – Acompanhem-me, amigos,
vocês terão a oportunidade de conhecer o nosso humilde trabalho – disse
Iraci. Sorrindo para João, completou: –
Lógico, para os que ainda não o conhecem. Um transporte verde entrara pelos
portões e uma correria organizada começou a acontecer. Um homem alto, moreno de
olhos cinzas, dava ordens com sua voz grave: –
Equipe de traumas de 1 a 3 se preparem, traumas psicológicos e danos morais a
minha esquerda, setor de memórias, vocês serão os últimos a sair. Equipe de
limpeza: estejam a postos, não podemos perder tempo. Quando as várias portas do
transporte se abriram, eu achei que estava em um campo de batalha medieval,
pois seres de todos os tipos e apresentando inúmeras deformidades foram
encaminhados às equipes. Seguiríamos uma em especial, com a se encontrava uma
bonita moça branca, de cabelos loiros e que naquele momento encontrava-se
maltrapilha e tendo as mãos em carne viva e seu corpo cheio de feridas. A equipe
de limpeza usava máscaras e uma roupa parecida com as de grupos que combatem
doenças contagiosas, nós também tivemos que colocar o traje para acompanhar o
processo. Após a moça ter sido deitada em uma maca, a equipe saiu em disparada
na direção de uma oca localizada na direção sul da tribo. Então, entramos em um
laboratório dos mais modernos e a moça foi colocada em uma esteira que se movia
lentamente. Na primeira etapa, ela passava dentro de um enorme tubo de vidro e
recebia jatos de energia colorida que lhe atingiam a fim de limpar seu corpo
perispiritual. Ao sair do outro lado, estavam visíveis agora os insetos
almáticos que tinham se alojado em todas as partes de seu corpo, mas se
concentrando sobretudo em seu umbigo e nas genitais. Os vermes pareciam se
alimentar daquela pobre coitada. O segundo passo era formado por uma estrutura
metálica que disparara raios elétricos e assim retiravam os vermes, que caíam
ao contato com tal energia. Essa segunda etapa demorou um pouco mais e, à
medida que isso era feito, a enferma se contorcia e soltava gritos que doíam em
minha alma. Logo após, assistimos à última etapa: de cada lado da esteira,
mantinham-se três pessoas em pé e que estenderam suas mãos sobre o corpo da
moça, propiciando aplicações magnéticas. Desse modo, as vestes dela foram
mudando para roupas hospitalares e sua fisionomia serenando, bem como os
hematomas foram se fechando e seu corpo perispiritual se reconstituindo. Quando
todo o processo terminou, sua maca foi retirada da esteira e levada a um outro
setor, o qual me pareceu tratar-se de uma UTI. Então, ela foi colocada em uma
cama e aparelhos foram ligados ao seu corpo. Os enfermeiros se retiraram e
ficamos sós naquele centro de tratamento. Tanto eu quanto alguns dos ali
presentes nunca havíamos presenciado semelhante ação, mas foi Humberto quem fez
a primeira pergunta: – Ao que exatamente acabamos de presenciar,
Iraci? Ela sorriu e disse ao irmão evangélico: – Presenciamos a misericórdia do Pai,
nesse centro de higienização. Fizemos em apenas alguns minutos todo um processo
que demoraria muito se dependesse só do enfermo. Na primeira etapa, localizamos
o problema, com uma dose de energia moderada, como se fosse um raio x em tempo
real, na segunda, eliminamos através de doses de energia de cura, e que
canalizamos do plano material, e, na terceira, reequilibramos a energia vital. – Mas isso não interfere nas leis
naturais? – questionei a irmã. – O que
fazemos aqui Ortêncio é tão somente amenizar a dor desses seres que já sofreram
tanto e que sozinhos não conseguiriam sair do abismo criado por suas mentes e
atos. Eles não estão livres de seus traumas e dores, alguns demoram dias, meses
ou anos para acordar depois desse processo. Imagine então o que aconteceria sem
tal assistência. Aqui se pratica a maior lei do Pai, o Amor. Nossos irmãos têm
pela frente uma grande batalha. Responderam à sua consciência pelos seus atos,
terão que aprender a respeitar o corpo e a equilibrar as energias para não
voltarem ao mesmo estado. – E mesmo depois desse trabalho podem
voltar a se intoxicar mentalmente? – perguntou Humberto. – Sim, irmão, a mente humana necessita
de exercício constante e de disciplina e essa responsabilidade aumenta ainda
mais após a morte do corpo físico, pois tudo do lado de cá é mental e, se você
não aprende isso, acaba infelizmente no pior abismo que existe, aquele criado
pela própria criatura e que se torna por fim sua própria prisão. Dito isso,
Iraci nos convidou para conhecer o setor de traumas e perguntei: – Há coisas
piores que isso? Indicando-me outra oca, ela sorriu tristemente e me disse: – Infelizmente Ortêncio. Veja você
mesmo...
Nos esquecemos de que os pensamentos são energias, e que nos ligam as companhias de acordo com as mesmas vibrações.
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