domingo, 8 de fevereiro de 2015

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Dirigimo-nos a uma outra oca e novamente estávamos em um ambiente hospitalar, portanto, em um lugar organizado e silencioso. Apesar da simplicidade do local, a tecnologia podia ser vista por todos os lados, ali quase não se usava papel, pois todas as informações eram passadas ou via pensamentos ou por meio de computadores portáteis. Aliás, era quase hipnotizador ver as energias correrem pela sala em ondas magnéticas, quando “fios” coloridos nos atravessavam a todo momento, cada qual em busca de seu destino. Caminhamos por um corredor e atravessamos uma grande porta, dentro, supervisionados por alguns desencarnados, encontravam-se em camas hospitalares espíritos que ainda eram vivos no plano material e, somente então compreendi o que a irmã me dissera, de que veríamos algo realmente triste. Iraci olhou-me e disse:  Isso é mais comum do que se imagina, amigo. Sim, mais triste do que um espírito desencarnado em estado de sofrimento é um espírito em sofrimento e ainda encarnado. Naquela espécie de enfermaria, víamos enfermidades de todos os tipos. Um homem alto, trajando o tradicional jaleco daquela cidade, aparentando ser de origem indígena, com cabelos negros que iam até a cintura e que estavam amarrados em um rabo de cavalo, veio ao nosso encontro. Ele nos sorriu e Iraci fez as apresentações:  Esse é nosso irmão Ricardo, responsável por esse setor.  Sejam bem-vindos, povo de Aruanda, e que Deus nosso pai os abençoe.  Que o fio seja abençoado junto conosco. –disse João Guiné  O fio pode nos explicar o que se faz neste local e qual seu trabalho aqui?  Neste local, João, cuidamos de espíritos encarnados que, por suas condições, desenvolveram em seus corpos físicos doenças, desejos e atitudes desnecessárias na sua atual encarnação. Nem todos que estão aqui estão com o perispírito doente. Em sua maioria, tratamos de espíritos que se encontram em um alto grau de depressão e que recebem, através da sonoterapia e de outros tratamentos psicológicos, auxílio para retornarem aos seus corpos melhores do que quando aqui chegaram. Aquilo tudo ia me deixando com dúvidas e, percebendo isso, Ricardo disse-me, sorrindo:  Isso lhe parece estranho, mensageiro? Eu respondi afirmativamente com a cabeça e ele continuou: – Tais espíritos que aqui se encontram no momento dormindo, eles estariam agora em zonas umbralinas e seriam usados por forças contrárias ao cordeiro. Em sua maioria, são religiosos e cientistas de grande influência no plano terreno. A verdade é que uma minoria de autoridades, enquanto dormem, recebem orientações benéficas, estudam ou são ajudados em decisões.  Mas por que isso é feito com os espíritos, assim, “inocentemente”, eles não receberiam melhor tais informações se estivessem acordados?  perguntou o guardião Felipe, o que me surpreendeu bastante já que ele quase nunca questionava.  Tais espíritos são muito espiritualizados dentro de suas doutrinas, o que dificulta o contato direto, pois cada um deles deveria ser levado a colônias específicas para isso e, no caso, a logística nos faria perder algum tempo com viagens astrais nos meios de transporte próprios aos encarnados. De pronto perguntei:  Mas o espírito não se locomove com a velocidade do pensamento? Por que vocês têm essa dificuldade?  Mensageiro, como você está viajando pelo astral?  perguntou-me o médico.  Dentro de um veículo.  respondi.  Se esta viagem fosse feita somente por você e apenas mais um membro de sua equipe, esse meio de transporte seria necessário?  Acredito que não. –respondi mais uma vez.  Pois bem, ele é necessário pela quantidade de espíritos a serem transportados em conjunto, mas também pelo fato de que se não fosse o veículo o seu pensamento te levaria aonde o seu coração quisesse e não necessariamente o seu cérebro ordenasse. Só viajam com tamanha independência espíritos com grande equilíbrio e capacidade de concentração e que, portanto, não perdem o foco do seu caminho, bem como não se perdem uns dos outros. Estes que aqui se encontram têm ainda um agravante: estão ligados ao seu corpo físico o que deixa a viagem e seus espíritos mais pesados, por assim dizer, devido às energias acumuladas no dia a dia. São trazidos aqui todas as noites por uma equipe que chamamos de coletores, eles são responsáveis pelo transporte de espíritos que necessitam desse tratamento. Normalmente passam por uma triagem e são levados a cidades próximas de suas residências carnais.  Por quanto tempo eles passam por esse tratamento?  perguntou Humberto.  Isso é relativo, irmão. Alguns por muito tempo até que cada um crie consciência de suas responsabilidades e por si só lute contra a ignorância carnal e se direcione em sua missão corretamente.  E se isso não acontecer?  pensei. Tendo ouvido meu pensamento ele me disse:  Não interferimos na lei do livre-arbítrio, mensageiro. Depois de algum tempo e de muito estudo, liberamos o espírito para que ele tome suas próprias decisões e, se ele escolher o caminho mais difícil, apenas oramos para que sua queda não seja tão dura.  Então, nenhum espírito passa por este tratamento mais de uma vez?  E, então, ele foi incisivo:  Não na mesma encanação...

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