Dirigimo-nos
a uma outra oca e novamente estávamos em um ambiente hospitalar, portanto, em
um lugar organizado e silencioso. Apesar da simplicidade do local, a tecnologia
podia ser vista por todos os lados, ali quase não se usava papel, pois todas as
informações eram passadas ou via pensamentos ou por meio de computadores
portáteis. Aliás, era quase hipnotizador ver as energias correrem pela sala em
ondas magnéticas, quando “fios” coloridos nos atravessavam a todo momento, cada
qual em busca de seu destino. Caminhamos por um corredor e atravessamos uma
grande porta, dentro, supervisionados por alguns desencarnados, encontravam-se
em camas hospitalares espíritos que ainda eram vivos no plano material e,
somente então compreendi o que a irmã me dissera, de que veríamos algo
realmente triste. Iraci olhou-me e disse: – Isso é mais comum do que se imagina,
amigo. Sim, mais triste do que um espírito desencarnado em estado de sofrimento
é um espírito em sofrimento e ainda encarnado. Naquela espécie de enfermaria,
víamos enfermidades de todos os tipos. Um homem alto, trajando o tradicional
jaleco daquela cidade, aparentando ser de origem indígena, com cabelos negros
que iam até a cintura e que estavam amarrados em um rabo de cavalo, veio ao
nosso encontro. Ele nos sorriu e Iraci fez as apresentações: – Esse
é nosso irmão Ricardo, responsável por esse setor. – Sejam
bem-vindos, povo de Aruanda, e que Deus nosso pai os abençoe. – Que
o fio seja abençoado junto conosco. –disse
João Guiné – O fio
pode nos explicar o que se faz neste local e qual seu trabalho aqui? – Neste
local, João, cuidamos de espíritos encarnados que, por suas condições,
desenvolveram em seus corpos físicos doenças, desejos e atitudes desnecessárias
na sua atual encarnação. Nem todos que estão aqui estão com
o perispírito doente. Em sua maioria, tratamos de espíritos que se
encontram em um alto grau de depressão e que recebem, através da
sonoterapia e de outros tratamentos psicológicos, auxílio para retornarem aos
seus corpos melhores do que quando aqui chegaram. Aquilo tudo ia me deixando
com dúvidas e, percebendo isso, Ricardo disse-me, sorrindo: – Isso
lhe parece estranho, mensageiro? Eu respondi afirmativamente com a cabeça e ele
continuou: – Tais espíritos
que aqui se encontram no momento dormindo, eles estariam agora em zonas
umbralinas e seriam usados por forças contrárias ao cordeiro. Em sua maioria,
são religiosos e cientistas de grande influência no plano terreno. A verdade é
que uma minoria de autoridades, enquanto dormem, recebem orientações benéficas,
estudam ou são ajudados em decisões. – Mas por que isso é feito com os
espíritos, assim, “inocentemente”, eles não receberiam melhor tais informações
se estivessem acordados? – perguntou o guardião Felipe, o que me
surpreendeu bastante já que ele quase nunca questionava. – Tais
espíritos são muito espiritualizados dentro de suas doutrinas, o que dificulta
o contato direto, pois cada um deles deveria ser levado a colônias específicas
para isso e, no caso, a logística nos faria perder algum tempo com viagens
astrais nos meios de transporte próprios aos encarnados. De pronto perguntei: – Mas
o espírito não se locomove com a velocidade do pensamento? Por que vocês têm
essa dificuldade? – Mensageiro, como você está viajando
pelo astral? – perguntou-me o médico. – Dentro
de um veículo. – respondi. – Se
esta viagem fosse feita somente por você e apenas mais um membro de sua equipe,
esse meio de transporte seria necessário? – Acredito que não. –respondi mais uma vez. – Pois
bem, ele é necessário pela quantidade de espíritos a serem transportados em
conjunto, mas também pelo fato de que se não fosse o veículo o seu pensamento
te levaria aonde o seu coração quisesse e não necessariamente o seu cérebro
ordenasse. Só viajam com tamanha independência espíritos com grande equilíbrio
e capacidade de concentração e que, portanto, não perdem o foco do seu caminho,
bem como não se perdem uns dos outros. Estes que aqui se encontram têm ainda um
agravante: estão ligados ao seu corpo físico o que deixa a viagem e seus
espíritos mais pesados, por assim dizer, devido às energias acumuladas no dia a
dia. São trazidos aqui todas as noites por uma equipe que chamamos de
coletores, eles são responsáveis pelo transporte de espíritos que necessitam
desse tratamento. Normalmente passam por uma triagem e são levados a cidades
próximas de suas residências carnais. – Por quanto tempo eles passam por esse
tratamento? – perguntou Humberto. – Isso
é relativo, irmão. Alguns por muito tempo até que cada um crie consciência de suas
responsabilidades e por si só lute contra a ignorância carnal e se direcione em
sua missão corretamente. – E se
isso não acontecer? – pensei. Tendo ouvido meu pensamento
ele me disse: – Não interferimos na lei do
livre-arbítrio, mensageiro. Depois de algum tempo e de muito estudo, liberamos
o espírito para que ele tome suas próprias decisões e, se ele escolher o
caminho mais difícil, apenas oramos para que sua queda não seja tão dura. – Então,
nenhum espírito passa por este tratamento mais de uma vez? E, então, ele
foi incisivo: – Não na mesma encanação...
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