Vamos levantar o Cruzeiro de Jesus, vamos
levantar o Cruzeiro de Jesus,
do céu, do céu, do céu, a Santa Cruz... E foi
assim, cantando essa música apenas em meu pensamento, que entrei no
veículo que nos transportaria à cidade Nova Geração. Sei que meus companheiros
ouviam tais pensamentos e eram contagiados pela música. Nossa equipe não era
tão grande come eu pensara. Iriam nos acompanhar: Joana, que seria responsável
pelos Cavaleiros de Ogum, os quais fariam nossa segurança, o jovem médico da
Legião de Omolu, e, ainda, Inocêncio, Maria, os índios Pena Branca e Cobra
Coral, o guardião Felipe, João Guiné, Humberto e Henrique. Já no veículo
hospitalar, comandado pela legião de Maria, aí sim havia uma equipe bem maior:
eram quase trinta espíritos entre médicos e enfermeiros. A mim, Gloria me dera
de presente um rosário branco que eu segurava entre as mãos. Os veículos começaram
a se movimentar e o meu coração a bater mais forte. Lentamente atravessamos o
recanto de auxílio Tupinambá. Os índios nos abriram os portões e, ao
atravessá-los, estávamos novamente sobre a escuridão da mata e seus perigos.
Para minha surpresa, os veículos não ganharam velocidade como de outras vezes e
continuaram o caminho suavemente. Percebendo minhas indagações, Maria
falou-nos: - Viajaremos por algum tempo assim para nos adaptarmos às energias
dos locais que visitaremos, ainda faremos uma parada em outro ponto de socorro,
para que nossos perispíritos não sofram com a mudança drástica de energias. -
Pensei que espíritos do bem poderiam entrar em qualquer local - disse Humberto.
- E podem, respondeu Felipe, contanto que se preparem para isso. Na verdade,
ainda existem locais, nos planos astrais, apenas visitados por espíritos muito
superiores a nós, ou seja, com alto grau de evolução, pois se assim não fosse
lá se perderiam, tamanha força negativa ainda existente no universo. - A que
tipo de espíritos o irmão se refere? Aos anjos, suponho. - disse Humberto. -
Não uso tal palavra, porque compreendida assim, literalmente, amigo Humberto,
ela seria mal entendida. Prefiro ir além da descrição de simples seres
mitológicos, pois, "anjos e demônios", "espíritos
evoluídos", todos esses são apenas títulos ou adjetivos que o alto usou
para que em nossa capacidade intelectual, ainda tão medíocre, pudéssemos
entender o amor ou a absurda falta dele. Eu prefiro chamá-los pelos seus nomes,
como Maria de Nazaré, Bezerra de Meneses, Tereza de Calcutá e o próprio Cristo,
pois são esses que vão ao encontro de seres chamados aqui de Demônio, acolá de
Dragões, e sempre para levar-lhes o amor do Pai. É tempo de regeneração e esses
seres sabem que seu tempo é curto e, agora, alguns deles reencarnaram, outros
já se encontram na terra e precisam de forte vigilância. - Mas, seres tão
perigosos como esses... não era melhor que ficassem em prisões no astral? -
perguntei. Dessa vez, quem respondeu foi Henrique: - E onde estaria a justiça
divina, Manoel, que condenaria uns à prisão eterna e daria a dádiva do
recomeçar a outros? O progresso é e sempre será para todos, sem exceções.
Assim, o plano de deus sempre estará trabalhando pelos seus filhos,
independentemente de quem seja esse filho. Eu nem percebera que ganháramos
velocidade, mas a mudança de cenário me chamou a atenção: já não estávamos mais
sobre as matas e atravessávamos o oceano escuro. - Eu gostaria de mostrar algo
aos fios, passemos à sala de conferência. - disse João Guiné. O veículo possuía
uma grande sala que continha uma igualmente grande tela escura, onde logo se
começou a projetar algumas cenas em nossa frente. Tratava-se inicialmente de
episódios que se passaram no tempo das Cruzadas, o grande derramamento de sangue
nos campos de batalha em nome da fé. A carnificina eram chocante. - Os fios
precisam prestar mais atenção no que estão vendo. - disse o Preto Velho com uma
voz triste, demonstrando que o que ele via o machucava muito, pois lágrimas
molhavam o rosto de João Guiné. Concentrei-me naquela difícil cena de
guerra e para o meu espanto o que vi foi assustador: uma segunda luta também
era travada no plano espiritual, onde espíritos de luz, banhados de prata,
tentavam socorrer aqueles que ali desencarnavam. Porém, espíritos, os quais
aqui chamarei de espíritos das trevas porque desconheço outro nome para os
mesmos, tentavam investir contra a ordem do Cristo, debruçando-se como animais
por cima da caça abatida e assemelhando-se a vampiros retiravam os fluidos que
ainda restavam nos corpos dos guerreiros inertes. Os socorristas usavam armas
de luz que os atiravam parar longe, porém, eles se levantavam e continuavam com
suas investidas. Os espíritos que acabavam de abandonar o corpo tinham reações
diversas: alguns não percebiam que foram abatidos e levantavam lutando, entre
esses percebi que uma parte conscientemente investia contra os socorristas,
outros se deixavam levar pelos seus algozes, enquanto os mensageiros do
cordeiro se desdobravam carregando centenas ou milhares de macas... A imagem,
por fim, foi sumindo, lentamente o Preto Velho ainda com a voz embargada
disse-nos: - Isso, fios meus, é apenas uma pequena parcela do que podem fazer o
Dragões, ou qualquer que seja o nome que lhes queiram dar. Contudo, não adianta
apenas culpá-los sem analisarmos as responsabilidades dos homens nesse processo
destrutivo e isso deve ser feito com muito estudo, amor e sabedoria. Entraremos
em contado direto com um subordinado dos seres que arquitetaram essa batalha.
Pois bem, vejam o quanto estamos nos preparando, não porque somos inferiores ou
superiores, pois tomar quaisquer dessas posições seria muito prejudicial a
nossa missão, mas porque trabalhamos para que cenas como essa não façam mais
parte da história da terra. A tela novamente se iluminou e agora já víamos a
época de bombas e metralhadoras, porém o trabalho do bem era feito com o mesmo
amor, incansável e inesgotavelmente..
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