segunda-feira, 23 de março de 2015

Página 62

Caminhamos pelos corredores da Colônia em silêncio, pensando no que havia nos acontecido. Uma mistura de felicidade e de decepção invadia meu ser, pois eu queria muito ter mais conhecimento para novas viagens astrais. Felipe, o guardião, sempre sincero, quebrou o silêncio: - O que você faria agora com tal capacidade suplementar, Ortêncio? - A desperdiçaria e a usaria em momentos e em lugares desnecessários - eu ia retrucar, mas o guardião não me deu tempo para tal e continuou: - O conhecimento traz grandes responsabilidade para as quais muitos espíritos ainda não estão preparados e, com isso, podem criar mais problemas do que promover soluções na espiritualidade. Aliás, já existe há tempos tecnologias que só estão chegando agora à terra e mesmo assim o povo da carne as utilizam de maneira errônea e, com isso, acabam deixando de lado o verdadeiro propósito de tal utilização. Então, velho mensageiro, cuidado, pois ter conhecimento é uma coisa e ser sábio é outra... - De qual tipo de tecnologia o irmão fala? - perguntou Humberto. - Falo, principalmente, das telecomunicações. Apesar dessa ser apenas o primeiro degrau, olhem bem para o povo da carne, hoje, os homens se encontram fechados em seus mundos individuais, sem contato físico e energético com os seus, comunicam-se apenas a distância. Pois essa tecnologia existe no plano espiritual há mais ou menos uns quinhentos anos, e, quando foi liberada para facilitar a vida do homem na terra, ele se escravizou e se tornou dependente dela. As palavras do guardião me fizeram pensar em como eu usaria a técnica da viagem astral consciente e concluí que o amigo estava certo. A esta altura, já havíamos percorrido alguns corredores e, agora, subiríamos uma escadaria de pedra em formato de caracol. Logo estávamos em frente a uma pequena porta que ao se abrir nos mostrou uma enorme sala com mapas gigantes refletidos em telas. Ali, havia também várias mesas com equipamentos e controladores. Nela, tudo era muito organizado, lembrando uma sala terrestre de controle de voo. Nosso amigo Frederico estava de pé com sua equipe ao redor de uma mesa e que também refletia o mapa da região que iríamos trabalhar. Em torno de tal mesa de quase três metros de comprimento, havia pessoas ainda desconhecidas para nós. Ao nos aproximarmos,  os cumprimentos foram formais e Frederico disse-nos: - Que Jesus, nosso mestre  e guia, possa nos orientar da menor maneira para que possamos realizar essa tarefa com êxito. Colocando a mão sobre esta mesa, pontos luminosos de várias cores se acendem sobre o mapa - e ele continuou - os pontos vermelhos pequenos são as defesas da cidade umbralina que, como podem ver, são muitos, já os pontos verdes, quase apagados, são nossos irmãos que nos ajudam com as informações que, graças a esses postos, podemos ter da região. Os pontos em amarelo são os laboratórios e esse grande em roxo, ao centro, é o prédio central, aonde vocês terão que chegar para o encontro com Inácio. E sem sequer perceber, eu iria quebrar toda a formalidade daquela reunião, dizendo: - Como assim? Vocês estão de brincadeira que teremos que atravessar metade da cidade com quase vinte postos de vigia até chegar a tal reunião! Valei-me nossa senhora! - E quem aqui está de brincadeira, mensageiro? - disse uma mulher  morena de olhos verdes trajando uma roupa militar. Eu fiquei envergonhado, mas ela puxou o coro de risadas que logo também me contagiaria. Logo após tal descontração, ela voltou a falar: - Meu nome é Soraia. Sou responsável pelas equipes de expedição à cidade Nova Geração e quando tomei conhecimento do planos de vocês tive a mesma reação de Ortêncio, pois apesar de nossos avanços em promover expedições de socorro, nunca fomos tão longe e não sabemos o impacto que essa ação de vocês pode causar, tanto para o positivo quanto para o negativo. Por isso que nossa pergunta é: senhor João Guiné qual o objetivo de vocês? O tom de Soraia já não era tão amistoso e a mim pareceu soar até meio ameaçador. O Preto Velho, com sua calma de sempre, respondeu: - Fia, o nosso objetivo é levar a Inácio o recado dos espíritos superiores e tentar, através do diálogo, mostrar-lhe que o seu tempo está acabando e negociarmos a liberdade dos que vive cativo nessas região. - O senhor conhece esse ser que, aliás, almeja ser um dragão um dia, senhor João? - Sim, minha fia, conheço este fio de Deus que logo terá a chance de se purificar com a benção da carne. Sei de suas pretensões e conheço os planos de Inácio de atacar com afinco a pátria do evangelho. - E mesmo assim o senhor pretende levar sua equipe até lá para conversar? Há anos estamos tentamos isso e a recusa dele ao diálogo vem nos causando sérios transtornos. E o senhor, do dia para noite, chega aqui pondo em risco anos de trabalho, podendo até criar com isso uma guerra no astral. - Fia, conheço seu trabalho e não apenas o respeitamos como também o admiramos. A espiritualidade maior reconhece não só os seus serviços, mas também o de toda esta colônia, pois o que seria ou como estaria esta zona do astral sem este grande trabalho de vocês? Estamos aqui para ajudar, fia, e faremos o possível para que a luz de Deus ilumine este local, mas para isso, fia, precisamos de sua ajuda e de seus conhecimentos, pois a fia sabe da sua responsabilidade com o mais alto e de sua promessa com o povo de Aruanda e, ao ouvir essas palavras finais do Preto Velho, os olhos da jovem Soraia marejaram e ela respondeu: - Que Jesus nos abençoe e que a sabedoria de Xangô nos guie, e as lanças de Ogum nos protejam, Pai João Guiné. Por algumas horas ficaríamos ainda ali e ficou estabelecido que em 12 horas partiríamos para nossa missão com dois veículos: o funcional e o hospitalar. Esse segundo não entraria na cidade, permaneceria em suas fronteiras para assim fazer, de modo mais eficaz, o socorro daqueles que nós conseguíssemos proteger. Porém, antes de nossa partida, conheceríamos um pouco mais de Soraia e faríamos descobertas que surpreenderiam a cada um de nós...

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