terça-feira, 26 de maio de 2015

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A batalha duraria menos do que eu imaginara. Aqueles seres tão cheios de si e cobertos de arrogância logo debandaram ao ver que os guerreiros das Legiões de Ogum juntamente com a escolta armada e que completava a equipe, se apresentaram melhor preparados para o combate quase físico, pois havia armas que disparavam redes prateadas, as quais foram disparadas aprisionando alguns deles, que choravam ou esbravejavam. O ser animalesco foi um dos prisioneiros, já entre nós não sofremos nenhuma baixa, como disse Joana da Legião de Ogum ao preto velho João Guiné. Descemos o monte, onde ficamos protegidos, vendo os guardiões lutarem. - O que faremos com os prisioneiros? - foi a pergunta de Soraia a João Guiné. - A fia faz contato com a legião de Maria e eles se encarregarão de ajudar esses pobres coitados; Ao encontrar-se de frente com o chefe que mugia e gritava ao mesmo tempo, em uma mistura de dor e de raiva, João Guiné disse-lhe: - Poderia ser de outa forma, fio. Nós, espíritos que trabalhamos na causa do Cristo, preferimos a conversa e não a luta. Porém, não fugimos dela quando se faz necessária. Pois aquele que não vem pelo amor, padece pela dor. Esse nego aqui sabe bem do que está falando... - Você acha que me comove, seu negro maldito? Não. Eu nunca vou ser um de vocês. Prefiro a segunda morte a isso. - disse o ser entre gritos. - O tempo, fio, do rancor e do ódio está acabando no planeta terra e já se prepara uma nova morada do pai para fios rebeldes que preferem essas condições. A caminhada dos que lá estão renascendo será árdua, fio, e penosa, e antes disso Jesus manda o socorro em pró dos seus. - Poupe-me de suas ameaças, velho! Eu não tenho medo do seu Jesus. - E nem é para ter, fio. - respondeu o Preto Velho - Jesus é manso e nos trata com amor, e seu coração sofre com aqueles que pensam como você. Pergunto ao fio, em nome do Divino Nazareno, qual caminho o fio quer seguir? O ser sabia que João falava a verdade e que aquela seria sua oportunidade de se melhorar e tentar recomeçar no orbe terrestre já que seu corpo espiritual já começara tomar forma animalesca em sinal patente de que seu tempo sem uma reencarnação reparadora já se esgotara. Além disso, a ida para uma planeta primitivo seria algo temeroso até mesmo para os senhores da escuridão. O silêncio formado por alguns minutos foi quebrado por Soraia: - João, ele não irá ceder, deixe que ele responda pelo caminho escolhido. Com lágrimas nos olhos, o Preto Velho virou de costas e em passos lentos foi se afastando do ser que gritava e chorava nesse momento: - Velho, não me deixe aqui! Eu não mereço isso... Pai, pai, eu sou seu filho: Arnaldo. Eu sou seu filho, velho maldito. Entre lágrimas, João se ajoelhou apoiando a cabeça em seu cajado e entoou uma oração, que mais parecia um lamento dos navios negreiros: “Pai, ser de misericórdia, sei que sou apenas um pequena gota no seu mar de bençãos e que não mereço a sua misericórdia, mas me atrevo a pedir o socorro ao filho perdido na escuridão. Que os seus mensageiros providenciem o socorro àquele que sofre e que não enxerga o caminho, senhor, por estar perdido. Oh, meu pai Oxalá, recorro a ti que é mensageiro do amor e que ama seus filhos como a ti próprio. Não conheço outro meio, Senhor, a não ser o seu amor e vos peço com todas as minhas forças: mandai o socorro ao meu coração. Alá, Jeová, Leão de Judá, eu vos imploro! O lamento do Preto Velho comovera a cada um que estava ali. Até mesmo Soraia, sempre centrada e firme, ajoelhara e orara para que o pedido daquele pai fosse atendido. Então, uma luz se abriu no céu escuro, quando lindos cavalos brancos montados por cavaleiros de armaduras douradas e que escoltavam uma carruagem que, em alta velocidade, veio em nossa direção. Parou de frente a João, que continuará ajoelhado, chorando, e de dentro dela saíram homens com turbantes na cabeça, vestidos de azul; junto deles uma senhora distinta, de cabelos brancos e olhos claros, a qual os homens carregavam numa maca. Sem nada falarem, foram em direção ao ser que agora apenas chorava igual a uma criança. A senhora sorria e disse: - Não será fácil, Arnaldo, e, a partir de agora, ele terá que seguir para bem colher o que mal plantou. Sua missão para com esse irmão termina aqui. O alto ouviu sua prece e reconhece o seu amor. Assim como um dia você me ajudou, eu me proponho a ser tutora daquele que um dia foi seu filho na terra e darei a ele todas as ferramentas para a nova colheita. Porém, sabemos que o jardineiro pode fazer de suas ferramentas o que bem entender. Dito isso, a equipe se foi e Arnaldo ou João Guiné cantou: "Pai, Pai Oxalá é pai de tantos filhos que ele tem, mas eles não reconhecem que ele é  o Pai”